O ÓDIO e a CEGUEIRA
Autor(a): Daniel Murad Ramos
Duas notícias, publicadas na última quarta-feira (16/11/2016), causaram grande preocupação com relação ao ponto que a situação de crise política, social, econômica, cultural e ética chegou e – mais assustador – a que ponto pode chegar.
Algumas dezenas de cidadãos, aparentemente de classe social mais abastada, com o ódio borbulhando nos olhos, ocuparam o plenário da Câmara dos Deputados. Ao que parecem querem “intervenção militar”, louvam Sérgio Moro e acusam o parlamento brasileiro de “comunista”.
Ora, vimos recentemente o Parlamento se curvar ao impeachment (ou golpe), sendo memoráveis as manifestações de nossos deputados naquela triste tarde de domingo, onde qualquer um, com um mínimo de visão, poderia analisar a maioria de nossos representantes de várias formas, mas jamais como majoritariamente comunistas. Muito pelo contrário, aliás...
Chegamos a um ponto de absoluto rompimento de limites éticos que devem nortear a vida em sociedade e a relação com nossos concidadãos: divergir, ter ideias diferentes, pontos de vistas divergentes, não é ruim. Ruim é ter intolerância, ódio e estupidez, que infelizmente acabam gerando comportamentos preconceituosos, seja de ordem racista, sexista ou político.
As palavras de ordem dos manifestantes de hoje: “Ih, queremos general aqui!” e “Viva Sérgio Moro!”. E os adversários (deputados) são simploriamente classificados de comunistas, embora em ampla maioria sejam de direita.
Hordas insanas foram e podem voltar a ser o motor propulsor do fascismo. Este precisa de um líder (“fuhrer”, “duce”), limpo e puro, e precisa de inimigos, a quem transferem a culpa pelos problemas (judeus, comunistas, ciganos, homossexuais). Para a imposição do ponto de vista defendido não precisa convencer, mas apenas taxar o adversário dentro do padrão dos inimigos ou a eles associá-lo para destruí-lo. Foi assim na Alemanha pré-segunda guerra com judeus, comunistas e com quem quer que se insurgisse contra o nazismo.
Vemos na internet este mesmo tipo de intolerância a aflorar, manifestada de forma absolutamente violenta por muitas pessoas, que não admitem diferenças de ideias e que querem fazer sobrepor sua visão “na marra” e não pelo convencimento, avessas que são ao diálogo franco e ético (o que é essencial na democracia).
Agora fala sério: a Câmara brasileira, tirando algumas poucas dezenas de deputados, está mais longe do comunismo do que tudo. Vota sistematicamente em medidas conservadoras e até mesmo reacionárias, como a própria PEC 247 (agora 55) e sem pudor jurídico degolou Dilma com direito a foguetes da direita. É, sobretudo, uma cegueira imensa enxergar ali qualquer traço de comunismo. Estudantes e sindicalistas, por exemplo, estão ali sempre protestando, mas não há registro que tenham conseguido chegar à mesa do legislativo para entonar suas palavras de ordem. Antes são reprimidos com spray de pimenta e outros artefatos, aliás, usuais no combate às manifestações desses setores.
Porém, a notícia mais triste é reflexo ainda mais assustador do padrão de intolerância a que chegamos. Um pai em Goiás matou o próprio filho e depois suicidou. Motivo: o menino participava de ocupações de escolas e militava no movimento estudantil. A intolerância ceifando duas vidas e gerando uma absurda tragédia familiar. Que tipo de mundo estamos criando no qual um pai não suporte o próprio filho? Já ouvi falar deste tipo de tragédia por uso de crack, mas não por esse novo tipo de droga...
O Juiz Sérgio Moro deveria se preocupar com essa situação na Câmara. Uma pessoa também deve ser avaliada no tipo de idolatria que desperta e no tipo de atitudes que inspira. Um Juiz que jura defender a Constituição e fazer cumprir as leis ter idólatras como os manifestantes de hoje na Câmara deveria fazer uma reflexão honesta e cuidadosa, assim como todos que prezam, por quais valores forem (religiosos, morais, filosóficos), a democracia e a paz. De alguma forma seus atos parecem inspirar alguns que desejam a ruptura da democracia e a nutrem ódio específico a um pensamento político. Ter o nome gritado por este tipo de gente é um alerta de preocupação para qualquer um que tenha jurado defender a Constituição e as Leis, como fazem os Juízes Federais ao tomarem posse.
Algumas dezenas de cidadãos, aparentemente de classe social mais abastada, com o ódio borbulhando nos olhos, ocuparam o plenário da Câmara dos Deputados. Ao que parecem querem “intervenção militar”, louvam Sérgio Moro e acusam o parlamento brasileiro de “comunista”.
Ora, vimos recentemente o Parlamento se curvar ao impeachment (ou golpe), sendo memoráveis as manifestações de nossos deputados naquela triste tarde de domingo, onde qualquer um, com um mínimo de visão, poderia analisar a maioria de nossos representantes de várias formas, mas jamais como majoritariamente comunistas. Muito pelo contrário, aliás...
Chegamos a um ponto de absoluto rompimento de limites éticos que devem nortear a vida em sociedade e a relação com nossos concidadãos: divergir, ter ideias diferentes, pontos de vistas divergentes, não é ruim. Ruim é ter intolerância, ódio e estupidez, que infelizmente acabam gerando comportamentos preconceituosos, seja de ordem racista, sexista ou político.
As palavras de ordem dos manifestantes de hoje: “Ih, queremos general aqui!” e “Viva Sérgio Moro!”. E os adversários (deputados) são simploriamente classificados de comunistas, embora em ampla maioria sejam de direita.
Hordas insanas foram e podem voltar a ser o motor propulsor do fascismo. Este precisa de um líder (“fuhrer”, “duce”), limpo e puro, e precisa de inimigos, a quem transferem a culpa pelos problemas (judeus, comunistas, ciganos, homossexuais). Para a imposição do ponto de vista defendido não precisa convencer, mas apenas taxar o adversário dentro do padrão dos inimigos ou a eles associá-lo para destruí-lo. Foi assim na Alemanha pré-segunda guerra com judeus, comunistas e com quem quer que se insurgisse contra o nazismo.
Vemos na internet este mesmo tipo de intolerância a aflorar, manifestada de forma absolutamente violenta por muitas pessoas, que não admitem diferenças de ideias e que querem fazer sobrepor sua visão “na marra” e não pelo convencimento, avessas que são ao diálogo franco e ético (o que é essencial na democracia).
Agora fala sério: a Câmara brasileira, tirando algumas poucas dezenas de deputados, está mais longe do comunismo do que tudo. Vota sistematicamente em medidas conservadoras e até mesmo reacionárias, como a própria PEC 247 (agora 55) e sem pudor jurídico degolou Dilma com direito a foguetes da direita. É, sobretudo, uma cegueira imensa enxergar ali qualquer traço de comunismo. Estudantes e sindicalistas, por exemplo, estão ali sempre protestando, mas não há registro que tenham conseguido chegar à mesa do legislativo para entonar suas palavras de ordem. Antes são reprimidos com spray de pimenta e outros artefatos, aliás, usuais no combate às manifestações desses setores.
Porém, a notícia mais triste é reflexo ainda mais assustador do padrão de intolerância a que chegamos. Um pai em Goiás matou o próprio filho e depois suicidou. Motivo: o menino participava de ocupações de escolas e militava no movimento estudantil. A intolerância ceifando duas vidas e gerando uma absurda tragédia familiar. Que tipo de mundo estamos criando no qual um pai não suporte o próprio filho? Já ouvi falar deste tipo de tragédia por uso de crack, mas não por esse novo tipo de droga...
O Juiz Sérgio Moro deveria se preocupar com essa situação na Câmara. Uma pessoa também deve ser avaliada no tipo de idolatria que desperta e no tipo de atitudes que inspira. Um Juiz que jura defender a Constituição e fazer cumprir as leis ter idólatras como os manifestantes de hoje na Câmara deveria fazer uma reflexão honesta e cuidadosa, assim como todos que prezam, por quais valores forem (religiosos, morais, filosóficos), a democracia e a paz. De alguma forma seus atos parecem inspirar alguns que desejam a ruptura da democracia e a nutrem ódio específico a um pensamento político. Ter o nome gritado por este tipo de gente é um alerta de preocupação para qualquer um que tenha jurado defender a Constituição e as Leis, como fazem os Juízes Federais ao tomarem posse.