A derrota do surreal, ou os caminhos e descaminhos do poder
Autor(a): Humberto Azevedo
Chega ao fim a 13ª semana do novo governo federal, eleito por mais de 58 milhões de brasileiros – é bom, muito bom, sempre frisar isso, que se encontra instalado nas instâncias do poder executivo da República Federativa do Brasil.
Se a semana começou como terminou a última, com o império da bagunça e dos confrontos norteando os mandatários de plantão, ela se encerra com, pelo menos, um acordo tácito entre as autoridades executivas e legislativas ponderando que o momento brasileiro urge de sensatez, serenidade, foco para tentar tirar o país do caos econômico em que nos encontramos.
Os mais ajuizados que ocupam cargos de destaques sabem que as picuinhas que ajudaram eleger isso que nós temos de governo não vão nos levar a lugar algum. Absolutamente! Sabem estes que a porta do inferno que estamos vivendo pode ser ampliar cada vez mais, se algo de concreto for feito. Independente dos rumos que separam as ideias. Algo palatável precisa acontecer.
Imbuído deste sentimento o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que até o ano passado era motivo de pilheria e chacota pelo seu jeitão meio desengonçado de se organizar, recebendo apelidos como Kiko, cara de bolacha e o mais popular deles que faz referência ao time que ele torce – como o pai, o ex-prefeito carioca César Maia, e que ganhou projeção na lista que ficou conhecida como da Odebretch, e divulgada pelos operadores da lava Jato, passou a se destacar sobremaneira do perigo efetivo na qual o país passa de ver novamente cenas que tantas vezes em nossa história assistimos em quase 519 anos. Menos para aqueles, que de alguma forma – ou de outra, herdaram dos nossos antepassados nativos – ou trazidos à força de terras ancestrais, e que até então viviam muito bem até a chegada dos brancos europeus em suas vidas.
Ataque histérico cibernético
Vítima de um verdadeiro ataque histérico cibernético pelos apoiadores daquele que deveria se portar como presidente do Brasil, Maia que tem em seu sangue a ascendência dos bravos nativos que nem a fúria espanhola conseguiu eliminar na colonização sanguinária realizada pelos interesses da coroa madrilenha, não aguentou e respondeu à altura e em bom som a violência pueril de gente que não consegue concatenar o “lé com o cré”.
Passado o tiroteio das mídias sociais e pelos recados de lá e de cá enviados por meio da imprensa e com um dos sustentáculos disso que temos aí começando a derreter, o sinal vermelho acendeu de forma enorme para os mais ajuizados. Não à toa, o presidente da Câmara disse que não responderia mais aos ataques do presidente (?) brasileiro e de sua turba, desejando que eles comecem finalmente a governar e pararem com a “brincadeira”.
Provavelmente a mensagem enviada pelo dirigente da Câmara baixa, formada por representantes do povo, não foi assimilada no terceiro andar do Palácio do Planalto. Pois lá a dificuldade de entender palavras soletradas se destaca. Mas para o chefe da organização governamental, aquele que vem de uma terra onde a faca fica na bota, viu que o seu cargo estava a perigo e era hora de começar a praticar – mesmo que devagar – a ainda fraquíssima articulação institucional. Não à toa, ele estava lá – ele que é do DEM gaúcho – como papagaio de pirata da festa do PSL que surgiu nas urnas graças as ondas bolsonarianas que invadiram o Brasil no Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Comemorando o habemus relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 06/19 que pretende estabelecer um novo regime de previdência para os brasileiros e brasileiras, desejando que a idade para se aposentar seja de 62 anos para as mulheres e 65, para os homens. Salvo os militares das Forças Armadas.
Retrato
Foi com este retrato que assim terminou a décima terceira semana do governo Bolsonaro. Assim como com um almoço entre Maia e o ministro da Economia, Paulo Guedes, onde ambos selaram a harmonia entre eles e estabeleceram um pacto pela aprovação da reforma do sistema previdenciário nacional.
No cardápio, Maia mostrou para o representante governista que a reforma só sairá quando a turma que ele representa espalhada em 11 partidos (Cidadania – antigos PPS que até 1992 era o “partidão”, PCB, PHS e PMN, DEM – antigo PFL, MDB, PR – antigo PL, PSD – dissidência do DEM, PTB, PRB – o braço político da Igreja Universal do Reino de Deus, SD – o braço político da Força Sindical, PSDB, PP – antiga Aliança Renovadora Nacional que virou PDS e que também resultou no PFL, e Podemos – antigo PTN) que se entrelaçam naquilo que se convencionou chamar de “centrão” e que alcança o expressivo número de 290 deputados federais.
Em meio aos combates das milícias sociais que se transformaram as plataformas digitais de compartilhamento de informações, Maia apresentou na noite de terça-feira, 26, o tamanho do poderio bélico que ele dispõe contra aqueles que consideram ser os novos donos do Brasil. Aprovou em menos de uma hora a PEC 02/15 que amplia o orçamento impositivo que oferece maior poder aos parlamentares em garantir a execução de suas emendas destinadas às suas bases eleitorais e que vai – por completo – na contramão do que deseja o ideário economês bolsonariano de desvincular por total as despesas orçamentárias. A referida proposta utilizada em 2015 pelo então presidente da Câmara, o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) – atualmente cumprindo pena por corrução e lavagem de dinheiro na penitenciária Almirante Tamandaré, na terra da Lava Jato – Curitiba (PR), contra a então presidenta da República, Dilma Rousseff.
E essa demonstração de força aconteceu quando o presidente brasileiro definiu que sua prioridade na manhã de uma plena terça-feira seria ir ao cinema para assistir ao lado de seu primeira-dama e da sua ministra que é responsável pelas políticas públicas voltadas às mulheres, aos ameríndios, à família e aos direitos humanos. Tudo porque estava em cartaz uma obra de arte enlatada e com forte teor religioso que prepondera a incidência dos cristãos autointitulados de evangélicos como “superação, o milagre da fé” que serve para apontar os erros da ciência daquilo que a ciência não sabe como explicar.