O Brasil de 2.021
Autor(a): Humberto Azevedo
A primeira semana de fevereiro de 2.021 se encerra com a definição de que país teremos até dezembro de 2.022. As vitórias de Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para os comandos da Câmara dos Deputados e do Senado da República deixa claro que o impeachment do atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não fará parte da agenda do Poder Legislativo, por mais que 65 pedidos apresentados por inúmeras entidades da sociedade civil queiram o afastamento daquele que se encontra a frente da chefia do Poder Executivo federal.
Mas isso não quer dizer que o governo Bolsonaro terá vida mansa e tranquila junto aos parlamentares. Pelo contrário! A fatura prometida, sobretudo, na eleição do deputado alagoano, pelas relações institucionais a base governista dos partidos do centrão será devidamente cobrada com juros e correção monetária. Bolsonaro é agora obrigado a fazer com que seus séquitos extremados e radicais, fruto do fundamentalismo religioso, policialesco e dos herdeiros da Casa Grande consigam conviver, harmoniosamente, com aqueles com quem em 2.018 foram apelidados de “velha política”.
E tudo isso, agora, sem o patrocínio e as bençãos do ex-presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump. A mudança ocorrida em solos ianques com o advento do governo do novo presidente Joe Biden pressionará as forças do capital em solo brasileiro. Se até então os capitalistas tupiniquins aderiram a uma pauta reacionária para passar a régua nos direitos trabalhistas e previdenciários dos trabalhadores, os empresários brasileiros precisarão se adequar aos novos ditames de respeito ao meio ambiente e as políticas de direitos humanos se quiserem renovar os contratos de exportação para as nações mais ricas do planeta.
Isso sem dizer que a atual política externa bolsonarista adotada em tom de conflito com a nação mais populosa do mundo, a República Popular da China, leva cada vez mais o país ao isolamento no mundo e em consequência os empresários a perderem muitas oportunidades de negócio. A agenda do atraso, eleita em 2.018, entra em 2.021 encurralada. A cada dia que Ernesto Araújo permanece no cargo de ministro das Relações Exteriores, os empresários brasileiros perdem negócios e consequentemente o país deixa de receber divisas.
O mundo imaginado por Bolsonaro e por seus lunáticos apoiadores e militantes não existe mais desde a queda do muro de Berlim que tombou e levou consigo, de rodão, a implosão da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Tentar impor em pleno ano de 2.021, com pandemia a parte que já ceifou a vida de mais de 229 mil brasileiros, uma pauta baseada no final da “guerra fria” entre russos e estadunidenses é o mesmo que um jornal tentar reestabelecer as rotativas de impressão num ambiente em que a leitura acontece quase que 100% no ambiente virtual e digital.
Esse mundo que Bolsonaro e bolsonaristas enxergam não existe mais. O comunismo, ou socialismo, tão atacados pelo atual ocupante do Palácio do Planalto não funcionou por conta da natureza humana. Não pelos seus inúmeros erros, ou pelos seus vários acertos. A China tão atacada pelos filhos do atual presidente brasileiro e por sua horda de apoiadores leva a cabo um capitalismo de Estado, o mesmo capitalismo que tanto a maioria dos generais que cercam Bolsonaro defendem, assim como a maioria da cúpula dos partidos de esquerda, no país. E que também agrada a maioria do centrão.
Mas Bolsonaro na sua pobre visão de mundo e de vida vê ainda que o país, que ele tanto deseja, precisa retomar as agendas que os brasileiros abortaram no início da década de 80, quando a ditadura militar iniciada em 1.964 ruiu. Essa agenda não cabe mais em 2.021. Os desafios deste início do século 21, com ideologias a parte, são como manter a população ocupada em postos de trabalhos cada vez mais exercidos por funções robotizadas e que já começam a ser desenvolvidas por inteligências artificiais.
O mundo que temos pela frente não é dividido entre comunistas e capitalistas e, sim, com vislumbre cada vez maior de catástrofes ambientais, que vão atingir a todos e, talvez, apenas preservar uma pequena casta encastelada em suas fortalezas preparadas para a destruição em massa. E aí uma pergunta: serão esses que reconstruírão a humanidade, sem os operários e a energia suficiente depois de hecatombes? A agenda política que sustenta a atual gestão federal, com economia a parte, baseada em retrocessos culturais, liberação de armas, autorização para policiais matarem em suas operações sem terem que se explicar, se prosperar, só conseguirá um feito: devolver o país ao atraso e inviabilizar o seu futuro. Mas creio que isso seja o objetivo, infelizmente.
E pelo andar da carruagem não teremos notícias boas, pelo menos até dezembro de 2.022, para aqueles que querem que o país, mesmo com dificuldades, avance em seu ciclo civilizatório. Agora, para quem é favorável a recolocação do Brasil numa agenda que era defendida pelo ex-presidente João Figueiredo (Arena, depois PDS, atual PP) e que não vingou graças em muito a ação do ex-vice-presidente da República à época, Aureliano Chaves (Arena, depois PDS e PFL, atual DEM), terá muito a comemorar. Se querem esse Brasil, esfacelado economicamente, cada vez mais afastado das decisões mundiais e regionais no âmbito da América do Sul, e inclusive, dos BRICs, de quem foi um dos fundadores na penúltima década, com a desindustrialização no país acontecendo a todo vapor, com a indústria dos serviços perdendo cada vez mais competitividade, estão certos em apostar na continuação daquilo que foi eleito em 2.018.
Afinal o dólar a R$ 5,35 na cotação de quinta-feira, 04 de janeiro, e o litro da gasolina acima dos R$ 5,00 é tudo que esse governo prometia, só que ao contrário. Na campanha de 2.018 a promessa era baixar a cotação do dólar até o final do segundo ano de gestão para menos dos R$ 2,00 e garantir que o litro da gasolina não ultrapassasse R$ 3,00. Em termos concretos, o atual governo não entregou a população aquilo que prometia para melhorar a vida da sua gente. Mas a culpa, segundo o governo, não foi do governo, e, sim, do Congresso Nacional, que teria emperrado as pautas do governo, do ex-presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que seria um boicotador, da pandemia, dos governadores, prefeitos e assim por diante.
E, agora, de quem será culpa, nos próximos meses, se o governo continuar não entregando o que prometera em 2.018 para melhorar a vida da população? Do governo, segundo eles, jamais! A culpa permanecerá daqueles, que segundo eles, atrapalham o andamento do governo, e do pobre trabalhador cada vez mais informal e autônomo, classificado pelos liberais de plantão, como empreendedor.
Neste momento em que é escrito este artigo, as principais autoridades do atual governo federal, desde o atual presidente aos ministros da Economia, Paulo Guedes, da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e da Casa Civil, general Braga Netto, anunciaram um projeto de lei que serão remetidas ao parlamento com objetivo de zerar o Imposto sobre Comercialização, Mercadorias e Serviços (ICMS), de competência dos governadores, para que haja um barateamento nos combustíveis. Na linha, que se a medida não avançar, a culpa será dos gestores estaduais.
Fora que o ICMS vem sendo debatido numa comissão formada por deputados e senadores para ser extinto e transformado, junto com o Imposto Sobre Serviços (ISS), de competência dos prefeitos, e mais três impostos federais, num único imposto que os novos presidentes do Poder Legislativo se comprometeram em torná-lo regra constitucional até o final deste ano. Ou seja, o atual governo federal seguirá em seu jogo para culpar outros, que não seja ele, pelos seus insucessos na retomada da economia.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje