Ninguém sabe o que faz
Autor(a): Humberto Azevedo
“Ninguém sabe o que faz, ninguém sabe para onde vai, ninguém sabe para onde pula e ninguém sabe para onde olha”. Esta frase narrada pelo locutor esportivo Galvão Bueno, da TV Globo, para retratar o que estava acontecendo naquele fatídico 8 de julho de 2.014, é a síntese do que aconteceu ao Brasil a partir das “jornadas cívicas” de maio e junho de 2.013.
De lá para cá, o país que parecia assustar o mundo com sua imponência em que uma nova classe média parecia emergir no horizonte para ditar os ditames da nova governança mundial, viu não só uma derrota humilhante de 7 a 1, mas também a economia fraquejar, cair, graças ao fim do acordo de classes estabelecido em 2.002.
Vimos também o afastamento da primeira presidenta eleita por um golpe travestido de impeachment, sem crime de responsabilidade, e um vice que ficou no seu lugar e que deveria ter sido afastado por ter cometido crime de responsabilidade, mas que ficou até o final transfigurando completamente a legislação trabalhista que nos colocara na modernidade a partir dos anos 30.
Vimos ainda mais de 57 milhões de brasileiros, em sua maioria completamente desorientados, eleger falsamente um cover para presidir a nação se baseando num discurso que defende as maiores atrocidades que o ser humano é capaz de fazer. A partir daí a derrota de 7 a 1 parece que se tornou algo irrisório, triste e melancólico de um passado distante. Mas não!
A cada dia nestes novos tempos, de pandemia a parte que já matou mais de 171 mil brasileiros, vamos percebendo que o lé já não liga mais para o cré e que o Brasil do futuro já chegou e é bem pior do que imaginávamos. É um Brasil sem nexo em que os dois grandes brasis que são obrigados a conviver não falam a mesma língua, não pensam nas mesmas coisas, não concordam em absolutamente nada e, ainda, não se toleram, nunca se toleraram e jamais se tolerarão uns aos outros.
Por este andar da carruagem o fim de novembro se aproxima com as eleições em segundo turno na maioria dos grandes e médios centros demonstrando isso. Não existe a menor conexão mais entre os brasis que se viram rachados a partir de 2.014 quando o herdeiro do ex-governador mineiro, Tancredo Neves, não aceitou a derrota eleitoral apertada para a sua conterrânea, dando início ao fim do Brasil que conhecíamos.
Ali, num gesto irresponsável, o aspirante de político, um playboy confesso pôs em prática a fala do narrador. Literalmente ninguém sabia mais o que fazer, ninguém sabia para onde ir, ninguém sabia para onde pular e, muito menos, ninguém sabia para onde olhar.
Hoje, em 2.020, colhemos o que plantamos, muitas vezes sem querer. Não há mais governos. O que temos no lugar é um ajuntamento e representativo do velho ditado brasileiro, dos tempos remotos à escravidão, de que manda quem pode e obedece quem tem juízo. As cúpulas disputam para saber quem manda mais para assim poder mais. Enquanto isso, a plebe, desassistida, assiste a tudo sem entender o que está acontecendo.
E duas notícias em meio ao caos em que vivemos retratam justamente a frase de Galvão Bueno. A primeira é que se fechou uma maioria na Suprema Corte que permitirá o golpe da reeleição de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, ambos do DEM, para continuar a frente das duas Casas legislativas que formam o Congresso Nacional. A segunda é a declaração do governador de São Paulo, João Dória (PSDB) de que a vacina do laboratório chinês Sinovac, produzida em parceria com o Instituto Butantan, será aplicada no país independente de autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Isso ocorre após a Anvisa informar que a liberação da coronavac pelas autoridades sanitárias da China não significa nada para o Brasil. Assim, Dória no dia 26 de novembro repete Dom Pedro I 198 anos depois do grito da independência às margens do riacho Ipiranga, mais ou menos dizendo: “vacina, ou morte!”.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje