Vacina, ou não vacina, eis a questão!?!
Autor(a): Humberto Azevedo
A penúltima semana política em Brasília no mês de outubro, em meio as disputas eleitorais nos municípios, com os óbitos causados pela pandemia do novo coronavírus (covid-19) chegando a quase 156 mil, com dados desta quinta-feira, 22, será marcada pela “crise da vacina”, onde o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (Sem Partido), para tentar se reaproximar das suas hastes extremistas, que o sustentam, e que se encontravam estremecidas desde a indicação e nomeação do piauiense Kássio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal (STF), resolveu colocar em marcha o seu plano negacionista para a doença que acomete o mundo e que fincou a defesa da não vacina e da luta contra a vacina que vem sendo produzida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo.
No início da semana já tinha batido o martelo ao afirmar que a vacina não será obrigatória e “ponto final”. No dia seguinte, após o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, anunciar que o governo compraria 46 milhões de doses da coronavac sino-paulista, bateu o martelo de novo para desautorizar Pazuello e anunciar que o governo federal não compraria “a vacina da China” do governador paulista João Dória Jr. (PSDB). Ambas decisões aconteceram após ser pressionado por grupos de bolsonaristas, seus apoiadores iniciais e mais fiéis, nas suas redes sociais. Os bolsonaristas condenam a coronavac por ela ser oriunda de uma ditadura comunista, feita em conjunto por um inimigo do bolsonarismo, o tucano João Dória, em que ignoram ser a China o maior parceiro comercial do Brasil e o Butantan, uma das maiores instituições científicas do país de renome internacional.
A partir daí o que se viu foi o debate político ser interditado pelos anti-vacinas e pelos pró-vacinas. Como num cenário shakespeariano imaginado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, o país passou a viver a tensão da vacina, ou da não vacina, replicando o que acontecera mais de um século antes na então capital da República dos Estados Unidos do Brasil, Rio de Janeiro, quando populares protagonizaram a revolta da vacina da febre amarela que o médico sanitarista Oswaldo Cruz tentava impor a toda população. Vacina, ou não vacina, eis a questão que permeia os debates dos brasileiros neste 2.020 do século 21, da era tecnológica.
E o interessante de tudo isso é que o presidente que abraçou o negacionismo de forma triunfante, é o mesmo que faz defesa retumbante dos medicamentos hidroxicloroquina, annita (nitazoxanida) e azitromicina para combater o coronavírus e que, de acordo com a maioria esmagadora das instituições médicas, não possuem comprovação científica para o tratamento da covid. Ainda neste roteiro, Bolsonaro em visita ao ministro Pazuello na tarde desta última quinta, que se encontra diagnosticado com a doença, proporcionou aos seus seguidores numa rede social um espetáculo dantesco em que a conversa de ambos, que serviu para desmentir as especulações que poderia haver nova troca no comando do Ministério da Saúde, deixasse claro que a opção do atual governo federal para o enfrentamento da pandemia é a adoção pelos acometidos da doença do “Kit Pazuello”, assim denominado a trinca de remédios, sem comprovação científica, por Bolsonaro.
“Eu comecei a tomar hidroxicloroquina, a annita e azitromicina já na terça-feira (20). Kit completo. E na quarta-feira (20) já acordei melhor, fiz a fisioterapia da respiração, médico acompanhando, sempre com acompanhamento médico. [Depois dos medicamentos] acordei zero bala. Siga as prescrições do médico. O que o médico prescrever, tome o mais rápido possível. Faça o seu exame e tenha o seu diagnóstico. Eu fui diagnosticado clinicamente antes de fazer o exame e já comecei a tomar os remédios. [Caso o médico não quiser receitar o kit] chama outro médico e se [você] paciente quiser tomar, assina lá o compromisso e o [outro] médico receita”, falou o ministro da Saúde ao presidente.
“Então mais uma prova [de quem] tomou e deu certo. Alguns reclamam e falam que a hidroxicloroquina não tem comprovação científica, não tem para o covid, mas tem para outras coisas e não tem efeito colateral. Então mais um caso concreto aqui que hidroxicloroquina, azitromicina e anitta, deu certo. Mas um que deu certo. Então a experiência que eu tenho aqui, lá atrás que eu andava no meio do povo e o pessoal me criticava, mas eu sou presidente da República, tenho que andar no meio do povo, não posso ficar preso no [Palácio do] Alvorada cuidando de mim e a população ali jogada e sofrendo uma campanha de terrorismo sobre a questão do vírus”, finalizou Bolsonaro.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje