Entre o oeste e o fim
Autor(a): Humberto Azevedo
Meados de setembro. Sexta-feira, 18 de setembro, o consórcio dos principais veículos de imprensa do Brasil (organizações Globo e grupos Folha e Estadão) registra a morte, até esta manhã, de 135.066 brasileiros vítimas fatais do novo coronavírus (covid-19). No mundo, a universidade norte-americana Johns Hopkins totaliza 946.847 óbitos registrados até então pela doença. Todos aguardam ansiosamente pelo advento em massa das vacinas que promete minimizar o atual cenário pandêmico caótico que escancarou as imensas desigualdades regionais e sociais que vivemos neste planeta que dá sinais claríssimos que não suportará mais o modus operandi em que a cúpula dos seres humanos decide explorá-lo de forma predatória e insuportável desde quando a Revolução Liberal na Inglaterra, no século XVII, proporcionou o início da era industrial destruidora nos idos do século XVIII.
Neste cenário de complexa transformação que levou a raça humana ao apogeu do racionalismo e se distanciar umbilicalmente da sua mãe natureza de forma completamente desrazoável, o velho mundo europeu que corria desesperadamente para a colonização das novas fronteiras “descobertas” até então recentemente, no século XVI, inicia o transplante do Status Quo para o novo mundo que se abria, cheio de aventuras e esperanças, a milhões de condenados, esfomeados, injustiçados e oportunistas nas novas terras. A história de destruição a tudo aquilo que se opunha ao progresso industrializante se repetiria e se imporia. Assim surgiu as terras brazilis, chamada inicialmente de Sta. Cruz, para replicar tudo aquilo já realizado nas terras já saturadas pela exploração irracional que se impunha como racional.
Traçando esta linha histórica que tanto forçou à escassez de milhões de hectares na primeira colonização imposta nas fazendas do Nordeste setentrional e que se repetiu ao longo do século XX nas novas fronteiras de pampas e planícies ao Sul, o espírito da destruição se guia num falso nacionalismo rumo ao avanço da depredação e da degradação ao oeste que fora sonhado profeticamente pelo padre italiano Giovanni Melchior, mais conhecido popularmente como Dom Bosco, padroeiro da capital do país, Brasília. Pelo sonho de Dom Bosco, o Brasil do atlântico conseguiria enfim superar as enormes barreiras naturais impostas pelas cordilheiras dos Andes e se comunicaria e se interligaria ao oceano pacífico. O tema é abordado, com riqueza de detalhes, por várias obras do escritor, pesquisador e historiador João Gilberto Parenti Couto, autor dentre vários livros que publicou sobre o assunto, por exemplo, como na obra “O Brasil das Profecias: 2.003/2.063 - os anos decisivos”.
Em meio a profecias e a corrida tresloucada e obsessiva para se impor territorialmente nos caminhos a noroeste, sustentando um modelo falido e ultrapassado de desenvolvimento, o país se vê na curva da história ao se tornar, pela primeira vez desde 1.985, nesta última quinta-feira, 17, alvo de uma recomendação oficial por parte do relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU), Baskut Tunkat, para ser investigado internacionalmente por suas políticas de desrespeito aos direitos humanos e ambientais. Na denúncia, o dirigente das Nações Unidas afirma que “se deixada sem controle, a situação no Brasil se transforma não apenas em uma catástrofe nacional, mas também em uma catástrofe com repercussões regionais e globais fenomenais, incluindo a destruição de nosso clima”. A ação contra o país, tomada graça as medidas adotadas pelo atual governo brasileiro, pode levar o Brasil a ter sua legitimidade questionada pelos demais países do planeta. “Apesar dos avanços positivos nas últimas décadas, o Brasil está em um estado de profundo retrocesso em relação aos princípios, leis e normas de direitos humanos, em violação ao direito internacional”, comentou Baskut Tunkat.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje