O orçamento impositivo e a discórdia brasileira
Autor(a): Humberto Azevedo
Bem mal acabou o carnaval e os dias de folia que eram, até então, uma parada forçada para tudo que acontecia no país, acabou também se tornando uma continuação da vida pátria.
A começar pelo próprio carnaval em si. Assim como em 2.019, os enredos das escolas de samba e o carnaval de rua se tornaram extensões da briga política brasileira mal resolvida.
O governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) já sentira na pele tal cisão da sociedade a partir de maio de 2.016. Todos os ressentimentos que foram devidamente sufocados durante os governos militares (1.964-1.985) e, aos poucos, eram revisitados, vieram à tona.
E a partir daí, com um governante que se inspira no caos para se alimentar politicamente, toda questão vira fagulha. Não à toa as campanhas “Brasil, ame-o ou deixe-o” e “ninguém segura esse país” muito utilizadas na década de 70 voltaram a entrar na ordem do dia.
No embalo do Carnaval, enquanto isso...
Enquanto foliões curtiam o carnaval denunciando as mazelas políticas e sociais brasileiras, vaza a informação de que o presidente brasileiro compartilhou entre os seus apoiadores, por meio de um aplicativo de celular, uma mensagem virtual produzida por sua trupe mais extremista pedindo apoio da população e presença no dia 15 de março a favor do seu governo contra os “políticos de sempre” que controlam o Congresso Nacional.
O detalhe é que os “políticos de sempre” são àqueles que, querendo ou não, balizam os rumos das naus governistas. Até porque, a oposição barulhenta é incapaz de mudar o destino das coisas com os seus 130 votos na Câmara e 15 votos no Senado. E o motivo da encrenca? A implantação do orçamento impositivo que transfere do Executivo para o Legislativo a execução orçamentária.
Assim, o movimento contra os congressistas – que também considera os oposicionistas como inimigos – gera uma confusão do tamanho do Brasil. Visto que os inimigos a serem batidos são Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, presidentes da Câmara e do Senado, ambos do DEM “dono” dos ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Cidadania (que abrange cultura, esportes e a secretaria nacional antidrogas) e da Saúde. E também o MDB dos líderes do governo no Senado, o pernambucano Fernando Bezerra Coelho – ex-ministro da Integração Nacional do governo Dilma Rousseff, e do Congresso, o senador tocantinense Eduardo Gomes. Assim como contra os tucanos do PSDB, que por esses dias, assumiram na pessoa do ex-deputado potiguar Rogério Marinho a pasta do Desenvolvimento Regional que acumula as funções dos antigos ministérios das Cidades (programa habitacional Minha Casa, Minha Vida) e da Integração Nacional.
A reação ao gesto de Bolsonaro veio da direita à esquerda. Os emedebistas, sempre ao centro, lembraram o dr. Ulysses Guimarães e sua famosa frase “temos nojo e horror a ditadura” falada durante o discurso quando promulgava em 5 de outubro de 1.988 a sexta Constituição federal do Brasil republicano. Os tucanos, através de seus líderes na Câmara e no Senado, puxaram a orelha – em sentido figurado – do presidente brasileiro. A reação mais forte veio do campo oposicionista. O PT pediu união nacional e o PSOL entrou com mais uma representação contra o presidente junto a Procuradoria-Geral da República (PGR) apontando que Bolsonaro infringiu as suas responsabilidades de chefe de Estado.
Mas as manifestações que mais chamaram a atenção foram as realizadas pelo presidente nacional do partido Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, e do senador Renan Calheiros (MDB-AL). Em carta aberta a toda coletividade brasileira, Paulinho da Força afirmou que o Brasil está entre “o retrocesso autoritário e a continuidade do regime democrático” e defendeu uma “amplíssima frente” envolvendo todos os maiores partidos, entidades da sociedade organizada para “mobilizar o povo, como na campanha das Diretas Já e depois com a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral”. Já o senador alagoano, ex-presidente do Senado, afirmou por meio de sua rede social preferida, o twitter, que no episódio em que Bolsonaro compartilha a favor de uma campanha contra uma instituição do país denota que “caíram todos os disfarces e a cara medonha do monstro está exposta [para] fazer seu próprio incêndio do Reichstag”, igualando a gestão do presidente brasileiro ao regime nazista de Adolf Hitler, na Alemanha.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje