E o “centrão” vai assumindo o governo
Autor(a): Humberto Azevedo
A penúltima semana do penúltimo mês do ano se encerra com um recado que cada vez mais vai se tornando mais claro e evidente. O “centrão” enfim vai assumindo o controle do governo central que até aqui causava certo frenesi nos bastidores políticos.
Pela primeira vez na história de República brasileira um presidente deixa o partido que o elegeu e ruma para criar uma nova agremiação partidária. Jair Bolsonaro se desfiliou do PSL na última quarta-feira, 20, para ingressar no partido que ainda precisa de apoio popular chancelado pela Justiça eleitoral.
Bolsonaro deixou o PSL após muita confusão no seio dos sociais liberais. O partido é acusado de desviar recursos do fundo eleitoral destinado ao fomento de candidaturas femininas para abastecer os cofres dos dirigentes partidários do PSL nos estados. Incluindo o ministro do Turismo, o deputado federal mineiro licenciado Marcelo Álvaro Antônio.
Mas a saída de Bolsonaro e dos filhos da legenda que se filiaram em abril de 2.018 acontece, na verdade, devido as brigas intestinais pelo controle da direção nacional do partido que a partir de 2.020 será dono da maior fatia dos recursos do fundo político, partidário e eleitoral.
Bolsonaro queria assumir o controle da legenda que ele içou ao estrelato da política brasileira com seus mais de 57 milhões de votos obtidos em novembro de 2.018, mas o atual presidente nacional do PSL e fundador da agremiação partidária na década de 90 – o deputado federal e segundo vice-presidente da Câmara, Luciano Bivar (PE), não via razões do porque entregar o comando do seu partido ao presidente da República.
Assim, antes do divórcio litigioso entre ambos, Bolsonaro fez questão de demonstrar ao seu então correlegionário sua força que comanda a máquina estatal direcionando a Polícia Federal nos calcanhares de Bivar que viu seus endereços se transformarem em alvo das investigações que apuram as supostas irregularidades nas contas do PSL.
O episódio acabou acarretando no racha dos parlamentares eleitos do PSL, onde uma turma – por volta de 25 deputados – saíram em defesa de Bivar – e outros 25 deputados reafirmaram seus elos com o presidente Jair Bolsonaro. Outros três, suplentes, com receios de serem excomungados por ambos os lados resolveram apoiar os dois lados.
No Senado, a situação não foi diferente. Dos quatro senadores eleitos pelo PSL, dois já se desligaram do partido: Juíza Selma do Mato Grosso que foi para o Podemos e o filho Flávio Bolsonaro que assim como o pai aguarda a criação do “Aliança para o Brasil” para ingressar oficialmente. Major Olímpio (PSL-SP) e Soraya Thronicke (PSL-MS) se puseram do lado de Bivar.
Mas a briga envolvendo Bolsonaro e Bivar não ficou por aí. Ao anunciar no último dia 11 o plano “verde e amarelo” para “destravar a economia” e criar contratos de trabalhos menos onerosos para as empresas, Bolsonaro publica uma Medida Provisória que acaba com o seguro-obrigatório para proprietários de veículos automotores (DPVAT). O detalhe é que uma das maiores empresas que administraria os recursos do DPVAT é de propriedade de Bivar.
Com isso, sem partido e com uma base social muito mais forte no ambiente virtual do que propriamente no ambiente real, Bolsonaro que passou 30 anos fazendo política nos corredores do baixo clero se viu obrigado a entregar seu governo ao consórcio formado por aquilo que se convencionou chamar “centrão”, bloco formado por parlamentares do DEM, MDB, PL, PSD, PSDB, PTB, Republicanos e SD que juntos possuem 46 senadores e 265 deputados.
Não à toa o líder do governo no Senado é o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), ex-ministro da Integração Nacional do governo Dilma e ex-líder do governo Temer, e a liderança do governo no Congresso – aproveitando a guerra do PSL – tirou a então líder Joice Hasselmann (PSL-SP) que optou por Bivar para ser a candidata do partido à prefeitura de São Paulo com as bençãos do governador João Dória (PSDB) e colocou em seu lugar o senador Eduardo Gomes (MDB-TO).
Assim, só fica faltando a substituição por parte do “centrão” do líder do governo na Câmara que ainda hoje é exercido pelo deputado de primeira viagem e com pouquíssima aceitação aos demais colegas da Casa, deputado Major Vítor Hugo (PSL-GO), que aliás já foi colocado numa espécie de “lista negra” do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).
E, por fim, para encerrar a conversa sobre o domínio do “centrão” sobre o governo Bolsonaro que prometera não fazer parte do jogo político estabelecido em Brasília, uma notícia apurada pelo site Vortex estourou na noite desta quinta-feira, 21. Interlocutores de Bolsonaro, no Palácio do Planalto, garantiram que os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni; da Educação, Abraham Weintraub; e do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, estariam com os dias contados nos seus postos. Assim, a pergunta que se faz é quem serão ministros que o “centrão” deseja colocá-los no lugar?
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje