As conversas vazadas de Moro e o estranho modo de legislar de Kajuru
Autor(a): Humberto Azevedo
A 25ª semana do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) a frente da gestão da governança federal se encerra como tendo como epicentro as conversas privadas e funcionais que o ex-juiz federal e atual ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, teve tornadas públicas com os procuradores da Lava Jato demonstrando ser ele não um magistrado – mas um membro efetivo do Ministério Público – onde orquestrava as cartas marcadas de um julgamento que já tinha sentença e condenação preestabelecida.
Inicialmente ao ser surpreendido com a divulgação de trechos das suas conversas com o promotor Deltan Dallagnol, Moro afirmou que elas não seriam “nada de mais” e que suas mensagens trocadas com integrantes da acusação foram “normais”. Com a revelação de novos trechos, ele passa a adotar o discurso de que não se pode atestar a “autenticidade” das mensagens, que todas elas já foram apagadas de seu aparelho e que foi vítima de uma ataque de arapongagem promovidos por hackers que alteraram o conteúdo delas.
Nas cordas devido as crescentes revelações de suas conversas que apontariam um comportamento antiético e parcial ao demonstrar uma intimidade inimaginável que um magistrado não pode ter com as partes dos processos que está julgando, Moro se reuniu com integrantes das bancadas da bala, da bíblia e do boi que atuam no Congresso Nacional em busca de ser blindado dos ataques dos parlamentares oposicionistas e de alguns independentes que veem em sua conduta algo já repudiado pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Associação dos Juízes para a Democracia (AJD).
O fato é que se por um lado se enrolou com as revelações que vem sendo feitas pelo renomado jornalista norteamericano Glenn Edward Grenwald, por outro lado, Sérgio Moro demonstra que é auspicioso ao lidar com o meio político – até muito pouco tempo desconhecido por ele. Resta saber até aonde as velhas e novas raposas políticas, embora muitos completamente novos no metiê, vão lhe garantir proteção com o andar das revelações.
Visto que o primeiro round desta batalha – tirando alguns hematomas – fora vencido por ele. A sua ida ao Senado Federal demonstrou que ele passou a ter uma sintonia que era muito duvidada com boa parte da classe política. Apesar de embates como com o do ex-presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (MDB-AL) – que dando corda ao ministro pescou sua confissão de que fizera delação premiada antes da lei autorizar em 2.013. Ou a declaração do senador independente Fabiano Contarato (Rede-ES) que foi muito crítico aos estreitamento institucional privado que ele demonstrou ter com os acusadores. O capixaba – delegado de Polícia – chegou a afirmar que se tivera o mesmo comportamento que o ex-juiz sairia preso da sua delegacia.
Mas o pior para o ministro estaria por vir nesta última quinta-feira, 20. Após mencionar em uma de suas declarações quando aconselhou o afastamento de uma procuradora do caso na qual julgava de que a atuação dela atrapalharia o desempenho da acusação não teria tido nenhum resultado efetivo, os fatos revelados pelo jornalista norteamericano em parceria com o blogueiro Reinaldo Azevedo, que cunhou o termo “petralha” para identificar os petistas, demonstraram claramente que o então juiz trabalhou para tirar a referida procuradora do caso em epígrafe. Assim, Brasília e seus ares assistirão os desdobramentos do caso Moro até que novas revelações venham se tornar públicas e compliquem, ou não, a situação do atual ministro.
Armas
Paralelo a confusão em que se meteu o ex-juiz todo poderoso e elevado a super-herói, o Brasil viu que os parlamentares não estão dispostos a acatar as deliberações do presidente Bolsonaro que não passem pelo Poder Legislativo. Um sentimento de autonomia para fazer prevalecer a palavra da maioria do Congresso impôs na última terça-feira, 18, mais uma derrota do governo no parlamento.
O decreto presidencial 9.785 que libera o comércio de armas de fogo e autoriza mais facilmente a posse e o porte destas armas a população civil recebeu um sonoro não de 47 senadores. Muitos deles justificaram suas decisões ao frisar que a matéria é exclusiva do parlamento. E já nesta próxima semana, o decreto das armas poderá ser cancelado seja por uma votação dos deputados, seja por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas o fato que mais chamou atenção para essa discussão toda foi a posição não posição do senador goiano Jorge Kajuru, líder do PSB. Disse ele ser contrário ao decreto, mas como a maioria dos seus seguidores em suas redes sociais são favoráveis ao decreto, o seu voto deve representar o sentimento dos apoiadores. Mesmo que muito deles não sejam de carne e osso e, sim, apenas fabricação robótica de disparos virtuais.