Os profissionais e os amadores
Autor(a): Humberto Azevedo
As últimas duas semanas que se sucederam com o afunilamento da crise na Venezuela, das demonstrações de quem é o general e quem é capitão, e o rápido desfecho em prol da reforma da previdência demonstram que os profissionais começaram a entrar em definitivo no jogo.
A turma do “centrão” que se reúne em torno dos poderes do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), resolveu demarcar o território após decorrido os primeiros 100 dias do início do novo governo onde aguardava as jogadas. A indicação de que a popularidade do governo e do presidente começam a se dissipar entre parte dos eleitores que o elegeram foi a senha que os centristas do Cidadania (antigo PPS), DEM, MDB, PP, PR, PRB, PSD, PSDB, PTB e SD decidissem apertar o botão. O negócio, ou seja, o governo agora é com eles.
Não à toa no dia em que os deputados do agrupamento pluripartidário e que realmente dá às cartas ao jogo político resolveu aprovar a admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 06/19 que pretende estabelecer uma “Nova Previdência”, o assessor de Rodrigo Maia – Hélio Ramos, se torna o futuro embaixador do Brasil na Itália. E isso não foi só. Um dia depois, “O Globo” trouxe notícia que o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) garantiu aos 48 deputados que aprovaram a admissibilidade da PEC 06/19 a quantia de R$ 30 milhões em alocações no orçamento federal para atender suas bases eleitorais.
O governo Bolsonaro eleito com um discurso que pregava a “nova política” enfim descobriu que não se governa sem a famosa “velha política”. Ou o que os críticos chamam de toma-lá-dá-cá! Que traduzindo em miúdos pode também ser denominado de “uma mão lava a outra”. Pelo que sabemos as notas republicanas começaram a ser tocadas. Ainda é cedo para vislumbrarmos os acordos não republicanos, como acentuou o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) no auge da crise que ganhou nome de “mensalão”, que deverão ser cumpridos. Isso só com um bom trabalho da imprensa investigativa e com uma oposição instigante será capaz para descerrar o pano da hipocrisia de então.
Até lá um governo inteiro desfilará em sua nudez coberta por cetim. Trazendo todas as suas vísceras, mas também medidas e iniciativas positivas. Uma delas é a recém Medida Provisória (MP) 881 de 30 de abril que promete ofertar aos empreendedores brasileiros a liberdade econômica que por séculos a fio foi traçado apenas em discurso panfletário, ou de ocasião. Será que de fato a cadeia produtiva da base, aquela que comumente é chamada jocosamente de “fundo de quintal”, terá vez? A MP já publicada no Diário Oficial da União tem força de lei. Caberá ao Congresso agora aprová-la com alterações que podem retirar os excessos e incluir pontos que o governo não os colocou lá.
O que preocupa, agora, a turma dos profissionais é o que fazer com o “bando de malucos” amadores que ocupam os espaços centrais que definem as políticas públicas. Passados os 100 dias, o melhor teste será um que é infalível em nossa história de 519 anos de genocídios, segregação e a corrida insaciável pelo ouro. Aqueles que rasgarem dinheiro não terão vida longa no novo governo que vai cair quando este ficar velho.