E abril chegou ... pense, agosto!
Autor(a): Humberto Azevedo
Enfim o governo federal chega a 14ª semana de seu mandato. Onde já foram decorridos mais de três meses. Até aqui uma enormidade de polêmicas foi colecionada. Para todos os gostos. Até a declaração mais contumaz, mas que não foi tão midiática assim devido ao kit “kinder ovo”, onde a cada dia vem uma surpresa, quando o chefe de Estado e, de governo, afirmou que antes de construir, será necessário destruir muita coisa.
Tal declaração coincidiu com um de seus pilares, a base da financeirização, que começou a perder a paciência com os rumos privatistas e liberalizantes tão prometidos. Isso foi associado a guerra nas redes sociais que seus setores mais radicalizados impuseram a integrantes daquilo que se convencionou chamar de “velha política” e também aos juízes da Suprema Corte.
Demarcações de fronteiras
O resultado foi a reunião do conjunto da sociedade que optou pelo bolsonarismo para se livrar do petismo iniciar as demarcações de fronteiras onde os agentes da “nova era” não podem ultrapassar. A classe política enviou o seu representante, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), a proferir o discurso que todos queriam falar. Os recados foram enviados. Alguns recebidos e compreendidos, outros sequer foram anotados. O mesmo fez a turma da cúpula do judiciário que procurou abrigo junto a turma da bufunfa e que controla o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
A tosquidão apenas entendeu aquilo que lhe é mais sensível, onde o apoio popular começa a querer se dissipar com a falta de rumos na retomada do crescimento que irá gerar aquilo que interessa a massa que forma a opinião pública: emprego e renda.
Não à toa que na sua contumaz “live” faceboquiana que promove a sua interlocução com seus séquitos e soldados das redes sociais teve nesta última quinta-feira, 04 de abril, a participação do “general” civil que comanda o Ministério da Justiça e da Segurança Pública de seu governo. O ex-juiz da Lava Jato continua a ser a principal figura pública “mais admirada” por 61,5% dos brasileiros, conforme levantamento do último Atlas Político publicado no site El País. Bem acima do próprio presidente brasileiro que teria sua imagem pessoal aprovada por 49,5%.
Índice de aprovação caiu
Já a avaliação do governo, segundo o estudo organizado pelo cientista político Andrei Roman – doutor da Universidade Harvard, segue caindo desde quando o presidente tomou posse. Se em janeiro 38,7% da população avaliava como “excelente” ou “ótimo” a gestão bolsonariana, esse mesmo índice caiu para 36,1%, em fevereiro, e, agora, em abril, essa aprovação positiva é de 30,5%.
Inversamente a avaliação negativa do governo segue subindo. Se em janeiro 22,5% dos brasileiros consideravam o governo Bolsonaro como “ruim” ou “péssimo”, esse índice subiu para 27,1%, em fevereiro, e agora ultrapassa a avaliação positiva, em abril, e se fixa em 31,2%. Já os brasileiros que avaliam a gestão do PSL como “regular” que era 29,6%, em janeiro, e 29,3%, em fevereiro, é agora de 32,4%, em abril.
Os números, querendo ou não, por mais que possam ser contestados de um lado, ou de outro, servem de parâmetros. Se não são fundamentais, são pelo menos um indicativo de como anda o humor de nossa gente. E o sinal amarelo não foi aceso apenas pelos institutos que mensuram tecnicamente os governos e as empresas. Foi também demonstrado pela queda do nível de “views” e de compartilhamento em que as mensagens de redes sociais pró-bolosonarianas alcançaram.
Daí a “live” com Moro e a preocupação do presidente de atestar que as reuniões ocorridas nesta quinta com os presidentes do DEM, MDB, PP, PRB, PSD e PSDB não envolvem trocas de cargos por apoio aos projetos governistas. Fato que também foi afirmado por todos os dirigentes partidários que possuem juntos 190 deputados federais e 43 senadores.
Aliás, a preocupação em estar associado ao que ficou recentemente carimbado como “velha política” foi a porta para que o mandatário emedebista, o ex-senador pernambucano Romero Jucá (RR) que foi líder dos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma Roussef (PT) e Michel Temer (PMDB), pudesse deixar registrado como serão a partir de agora as negociações envolvendo o Poder Executivo com o Poder Legislativo. Disse ele: “a discussão agora é temática, é por projeto, por leis, por dispositivos”.
Para bom entendedor, meia palavra já basta. Mas como o atual governo não está tão repleto assim de bons entendedores, essa mensagem precisará ainda de alguns vários encontros para que o “tatibitati” possa, enfim, ser decodificado.
Paralelo a isso, mas não apenas ao largo e, sim, entrelaçado também, estão os registros que os seis partidos que se encontraram com Bolsonaro nesta semana fizeram ficar claros quando deixaram o portentoso ministro da Economia, Paulo Guedes – o “posto Ipiranga” do presidente, entregue a fúria dos oposicionistas na reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara da última quarta-feira, 03 de abril, quando ele lá foi para defender a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 06/19 que pretende estabelecer uma “Nova Previdência” ao país. O que seria uma reunião para defender o projeto transformou o ministro numa “tchutchuca dos banqueiros” e no “tigrão” do povo. E a resposta de Guedes afirmando que “tchutchuca” era “a mãe” e “a avó” do deputado Zeca Dirceu (PT-PR) – filho do ex-ministro José Dirceu, que provocou o “tigrão”, só aumentou a confusão.
Confusão que só vai aumentando a temperatura do caldeirão caótico que vivemos com o jeito desengonçado que o novo governo desenvolve na política externa ao querer priorizar como “parceiro” um país que pouco compra nossos produtos em detrimento das boas – até aqui – relações que sempre tivemos com a comunidade de países árabes. Essa deixa foi feita pelo presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que também é conhecida como bancada do boi – ou ruralista, que saiu do Congresso na noite da última quarta ensandecido com os filhos do presidente, afirmando “chega dos meninos do Bolsonaro, não dá mais. Acabou a paciência. [Isso] afeta o mercado”.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje