O desbaratamento das ruínas
Autor(a): Humberto Azevedo
Há um consenso no meio político que as eleições de 2018 foram resultados do caos a qual o país atravessa desde 2014, quando eclodiu o movimento da Lava Jato. Não há dúvidas que o governo (?) instalado desde 1º de janeiro foi fruto deste movimento. Para uns a salvação da lavoura que implantou no país um regime de caça às bruxas contra os larápios dos recursos públicos. Para outros uma atividade orquestrada e treinada junto aos agentes públicos e privados que representam os interesses de empresas norte-americanas.
Sem entrar no mérito de qual pêndulo pertence as entranhas do lavajatismo, é fato que a partir de 2019 o embate da qual os lavajatistas se propõem iria endurecer. Não por acaso. Se até 2018 o objetivo era isolar o petismo das demais forças políticas e sociais do país para evitar o regresso da legenda ao comando do Palácio do Planalto, a partir deste ano os embates passam a se dar contra as forças a qual os juízes e procuradores da Lava Jato se uniram, num primeiro momento. E assim fica registrado a nitidez do projeto de poder a qual se estava buscando construir desde o início, em 2014.
Ocorre que agora as brigas intestinais do poder não se darão mais com amadores ou recentes profissionais da arte e do ofício da política brasileira. O confronto agora é com o próprio passado colonial, imperial e republicano que fundaram as raízes brasileiras. A disputa agora não se dará mais no campo do debate em torno da opinião pública. O enfrentamento se dá agora no âmbito do modelo de país que foi construído ao longo de séculos com muito sangue, escravização, submissão aos interesses das elites que comandam esta opera desde a chegada por aqui de Pero Vaz de Caminha e Pedro Alvares Cabral.
Assim a velha frase dita inúmeras vezes pelo magistral maestro Antônio Carlos Tom Jobim de que “o Brasil não é para principiantes” volta com toda a força. É impressionante que figuras celestiais que passaram por aqui como a única e inconfundível Elis Regina, nestes tempos de transformação de transformações para a volta da transformação do que sempre foi, resumem tão o nosso Brasil tão varonil e cantando tanto em verso e prosa.
“O Brazil não conhece o Brasil, O Brasil nunca foi ao Brazil, O Brazil não merece o Brasil, O Brazil está matando o Brasil” é um trecho que apesar de escrito na década de 70 do século passado jamais deixará de ser o retrato fiel de nós, brasileiros e brasileiras, com como o primeiro presidente fundador da Nova República que hoje passou a se tornar referência para a turma que se encontra inquilina nas Esplanadas dos Ministérios.
“Tapir, jabuti, Ilianna, alamandra, ali, alaúde, piau, ururau, aqui, ataúde, piá-carioca, porecramecrã, Jereba, saci, caandrades, cunhãs, ariranha, aranha, sertões, guimarães, bachianas, águas, imarionaima, ariraribóia, na aura das mãos do Jobim-açu” cantava e, ainda, embala aqueles que como prenunciou a campanha daquele que foi antes, muito antes do combinado, como costuma dizer Rolando Boldrin, o sonho de transformar aquilo que não nos transformamos por contas de políticas a, b, c ou d.
O aviso está posto. Aqueles que tentarem ser maiores que os reis podem, em breve, ocuparem os destinos daqueles a quem estão destinando seus destinos. Pois, no Brasil quem manda é a turma do Brazil que finge gostar do Brasil.
do jornal O Vale da eletrônica, de Santa Rita do Sapucaí (MG),
com o título “O Brasil não é para principiantes”.