Legislativo, um cenário de dúvidas
Autor(a): Humberto Azevedo
O ano de 2.020 acabou. Pelo menos no calendário, por que as consequências do que ocorreu neste último ano, não acabaram! 2.021 se inicia mais bagunçado e mais caótico do que se podia esperar e imaginar. A falta de perspectiva para quando tudo isso acabará, gera inúmeras incertezas. E logicamente que as cenas deploráveis do que aconteceu em Washington DC (Distrito de Columbia), nos Estados Unidos, no último dia 06 de janeiro, corroboram para que as dúvidas e incertezas se ampliem e pairem, sobre nós, cada vez mais.
É neste ambiente, em total degradação em que se encontra a nossa frágil democracia incipiente e mal parida num doloroso e sofrido parto normal, que contou com ajuda de uma cesária, lá pelos idos dos anos 80 do último século, vai tentando se manter viva sob ajuda de parcos aparelhos. Onde não faltam elementos que tentam asfixiá-la para que o país entre na rota de um novo regime ditatorial e fechado, de vez, aos direitos da população e completamente livre aos caminhos e descaminhos que são destinados à força monetária.
Fortalecidos com as vitórias eleitorais obtidas nas grandes, médias e pequenas cidades brasileiras, os partidos popularmente conhecidos como “centrão”, que envolvem agremiações políticas de centro e de direita, monopolizam o cenário de disputa que definirá os novos comandantes do Poder Legislativo (Câmara dos Deputados e Senado Federal) e que serão decisivos para os rumos do país nos próximos 22 meses, até a realização das eleições gerais de outubro de 2.022, se é que vamos ter as realizações deste pleito.
As principais candidaturas postas e que tentam assumir o controle do legislativo federal nos próximos dois anos possuem muito mais coisas em comum, do que necessariamente ideias distintas. Seja na Câmara Federal, seja no Senado da República.
Na Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP), apesar deste último dizer que sua candidatura representa uma união das forças políticas que se juntaram em 1.984 para tentar em vão acelerar o fim do então regime ditatorial no qual o país vivia desde abril de 1.964 e tentar estabelecer uma eleição direta para presidente da República, proibida desde 1.960, são candidaturas do mais e dos mesmos anseios que ecoam nos partidos centristas. A grande diferença, entre eles, talvez, seja o alinhamento automático ao mercado financeiro. Provavelmente, nem isso.
Enquanto Lira agrega apoios da direita mais radical, daquilo que está posto como (des) presidente e de legendas mais pragmáticas ao jogo do é dando que se recebe, Baleia conseguiu juntar numa mesma barca tucanos e petistas, com algumas baixas. Ambos, desde quando anunciaram que são candidatos a presidir a “Casa do Povo” não respondem, se sim, ou se não, vão aceitar pelo menos um dos mais de 50 pedidos de impeachment apresentados desde 2.019 contra o atual ocupante dos Palácios do Alvorada e do Planalto. Ambos desconversam o tempo todo sobre isso, assim como fez nos últimos dois anos o atual presidente daquela Casa legislativa, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que encerra sua gestão a frente da Câmara no próximo 31 de janeiro.
No Senado, a situação é praticamente a mesma. Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Simone Tebet (MDB-MS) que postulam serem eles os sucessores do atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também não diferem em praticamente nada e dizem, ambos, serem defensores da democracia. Enquanto Pacheco, um ex-emedebista oriundo da advocacia e tido como um garantista dos direitos individuais, tem o apoio de Bolsonaro ao PT naquela Casa, Tebet, filha de um ex-presidente do Senado, é uma ruralista assumida que defende um discurso moderno, moderado e que possui um bom trânsito entre ambientalistas e àqueles, que ainda louvam os famigerados trabalhos da operação Lava Jato, que desde 2.014, nos jogaram neste terreno incerto e pantanoso que vivemos atualmente.
É neste cenário de dúvidas que deputados e senadores vão às urnas no dia 1º de fevereiro definir quem serão as pessoas que terão a responsabilidade de conviver com um doidivano que está a frente do Poder Executivo por vontade expressa de 57 milhões de brasileiros atestada em outubro de 2.018. O doidivano já conhecemos e não será diferente nestes próximos dois anos, a não ser que resolvam enfim botá-lo para correr e encaminhá-lo às barras dos tribunais. Já os futuros presidentes do legislativo federal saberemos quem são já a partir do próximo mês.
Isto posto, “que deus tenha piedade desta nação”, como se expressou o ex-presidente da Câmara, o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), hoje cumprindo pena em regime domiciliar por condenação de corrupção e lavagem de dinheiro, durante a fatídica sessão daquela Casa realizada em 16 de abril de 2.016, que aprovou o impeachment, sem crime de responsabilidade, contra a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT).
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje