A essência do ser
Autor(a): Humberto Azevedo
Em tempos de confinamento, isolamento e de distanciamento social por respeito aos outros uma velha pulga atrás das orelhas humanas vem à tona: qual o papel do indivíduo junto a sociedade? Tem serventia para quê? A sua labuta, seja física ou mental, são os únicos oferecimentos que tem a dispor ao conjunto de semelhantes que vivem juntos numa urbe?
É verdade que antes desta doença (novo coronavírus - covid 19) vir nos visitar o mundo que já dispúnhamos já não era assim grande coisa. Crises econômicas se sucediam desde a quebradeira no sistema financeira de 2.008 numa velocidade impossível de permitir enxergar de soslaio uma retomada qualquer da previsibilidade que oferece estabilidade.
A grande unidade tornada real a partir do final dos anos 80 em torno do projeto capitalista de sociedade moderna e pós-moderna começou a dar sinais de que sem polos antagônicos sua eficácia é praticamente nula e a distribuição de riqueza é totalmente inexistente. Nunca tivemos uma imensidão de milionários, alguns até bilionários, espalhados pelo globo terrestre. Ao mesmo tempo em que possuímos cada vez mais crescentes uma horda de desassistidos.
Paralelo a isso vemos, ainda, um cenário internacional em que as forças capitalistas migravam numa velocidade inacreditável seu fluxo do antigo hospedeiro para o novo império que vai se formando neste terceiro milênio depois que um tal de Jesus revolucionou o seu tempo em nome da verdade de cada um e de defender o amor universal como o mantra a ser seguido.
E neste ínterim que vamos vivendo, pragas e pestes começam a se avolumar em torno do que é real numa sociedade que se acostumou a viver fora de si, do supérfluo e de garantir ganhos da virtualidade baseado em sistemas fantasiosos e fictícios. O império de mamon começa a ruir e outro, a sua semelhança, é levantado sob as mesmas bases que vão derrubando o primeiro.
O looping da história humana vai se repetindo e se fazendo como sempre e como nunca. É um ciclo se fechando para outro se abrir e dentro dele com todas as forças, juntas, misturadas ou paralelas convivendo entre si para o sempre, mesmo que apesar da união os corpos materiais e espirituais são indissociavelmente uno.
Daí que nestes tempos de confinamento em que somos obrigados a revelar-nos o ser eremita que há em cada um de nós, vamos aos poucos ou com muita intensidade - a depender do plano em que cada um se encontra - nos desbravando em séries a essência que há em nós. Os elementos de que somos feitos, tanto materialmente, quanto energeticamente.
Assim, quando mais nos concentramos em nós mesmos, intimamente percebemos o quão a separação entre o plano material e espiritual nos explica o que os outros fazem em nossa volta e porque isso nos afeta tanto. Quando menos entendemos a nossa própria essência, mais perdidos seremos em meio a esse turbilhão que vem ocorrendo neste ano de 2.020 de contagem utilizada pela Igreja Apostólica Católica Romana, ou do ano 5.780 do calendário judaico, ou 1.441 pelos costumes muçulmanos, 4.716 no ano chinês, ou 7.528 pelo calendário bizantino.
Independentemente da crença, ou da não crença em algo, a nossa essência é aquilo que nos leva a entendermos, ou no caso da maioria, de não entendermos a vida que levamos. Por que a vida surgiu para ser vivida ao mesmo tempo em que temos como missão indissolúvel ver o seu cumprimento em meio ao seu ciclo de início, meio e fim que, muitas vezes, pode-se iniciar no fim, desenvolver-se no início e morrer no meio.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje