O coronavírus e a autoridade destruída
Autor(a): Humberto Azevedo
A primeira semana após a publicação do decreto de “estado nacional de calamidade pública” instituído para combater os efeitos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) no território brasileiro na última sexta-feira, 20, se encerra com a doença que já matou mais de 23,7 mil pessoas em todo mundo destruindo a imagem da autoridade constituída do ainda presidente da República, Jair “Messias” Bolsonaro.
Com o jeito trôpego, o presidente brasileiro que uma semana antes parecia entender a gravidade da doença que já infectou em todo o mundo quase 530 mil seres humanos em todo o planeta e já registrou a contaminação de quase três mil brasileiros, com dados do início de sexta-feira, 27, mais uma vez tropeçando na própria língua, resolveu mudar de direção mesmo tendo em seu ministro da Saúde, Henrique Mandetta, orientação para não fazer o que fez em discurso realizado na terça-feira, 24, em rede nacional chamando o vírus de “resfriadinho”.
Sua atitude, que mais tarde, na quinta-feira, 26, seria denunciada pelo presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), como sendo objeto de pressão dos setores que vem perdendo dinheiro com os baixos índices alcançados pela Bolsa de Valores de São Paulo, foi acompanhada por batidas de panelas dos setores medianos da sociedade brasileira.
Sem receios dos batedores de panela, ao modo do falecido Hugo Chávez na vizinha Venezuela, também conclamou paneleiros que são simpáticos ao seu governo para fazer uma guerra de batidas de panelas nas janelas dos edifícios altos. Os setores desgostosos com a gestão, até aqui do capitão, afirmam que as paneladas ensurdecedoras de insatisfação foram gritantes e serão ainda maiores na próxima terça-feira, 31. Setores que defendem o governo afirmam que as paneladas são uma resposta da admiração que a população tem de sua gestão.
O som das panelas
De qualquer forma, o som das panelas que antecederam a queda da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) começa a mostrar que a falta de sintonia do público anti-petista com o atual presidente brasileiro caminha para um divórcio definitivo entre ambos. Bolsonaro não foi eleito em outubro de 2.018 por ser ele o “mito” que seus admiradores creem que ele seja. O ex-parlamentar de PDC que virou PP, DEM na época PFL, PTB, PSC e PSL foi eleito graças ao sentimento anti PT que tomou conta da maioria da população naquele pleito. E, assim, ele vai caminhando cada vez mais para o isolamento político no momento em que quer que a população saia do isolamento social para que o país, segundo ele, possa retomar o crescimento da economia.
Enquanto se comporta como se estivesse num manicômio, a política real vai agindo a sua sombra. Comprando brigas com governadores e prefeitos que lhe pediram uma série de medidas para poderem enfrentar as consequências econômicas que o Covid-19 proporciona, ele vai perdendo a hegemonia e o espaço de poder que tanto o Legislativo e o Judiciário vão ocupando. Na política, assim como na vida, não existe vácuo.
Uma das primeiras medidas reivindicadas pelos gestores estaduais e municipais no início dessa crise foi a suspensão do pagamento das dívidas que os respectivos governos possuem com a União e como ela não é atendida pela gestão federal, coube a Justiça conceder essa iniciativa já para sete estados (Bahia, Maranhão, São Paulo, Paraíba, Paraná, Pernambuco e Santa Catarina). Na próxima semana isso deve ser estendido aos demais estados e prefeituras.
O restante da pauta encaminhada pelos governadores e prefeitos, já que o governo federal faz dos seus ouvidos moucos, será encampada pelos dois presidentes do Poder Legislativo. A política não é para amadores e nem para loucos. Tanto é que quem se comporta assim é simplesmente engolido e logo ninguém lembrará mais de suas peripécias. Vai virar, como tantos, folclore, galhofa. Não à toa que essa semana passou a ser comparado com o ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, o do mensalinho.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje