A primeira semana do coronavírus no Brasil
Autor(a): Humberto Azevedo
Quando pensávamos todos que finalmente o ano de 2.020 se iniciaria no Brasil com o advento do mês de março, posteriormente o período carnavalesco, recebemos a triste notícia que já batia à porta pelo mundo rico e civilizado de que a nova coqueluche do momento, o Covid-19 - o novo coronavírus chegaria por aqui também.
Até a semana passada, em meio as brincadeiras que o nosso povo tão bem faz para conseguir ir levando a vida e sobreviver em meio às agruras de um país tido como acolhedor, mas que na verdade mesmo é um projeto de nação que tanto maltrata a sua gente e o seu povo, ficamos sabendo o quão sério era a nova doença que nos viria, inevitavelmente, em tempos de globalização, nos visitar.
Mas nem os avisos postos à mesa pelo ministro da Saúde, Henrique Mandetta, convenceria o chefe do Poder Executivo da gravidade em questão. Põe máscara, tira máscara, é suspeito ou não suspeito de ter contraído a gripe surgida, inicialmente, na China; se isola, não se isola, vai às ruas, cumprimenta o povo - seus apoiadores - fala em histeria, depois diz que é sério, mas volta atrás, enfim um pandemônio pior que a pandemia que já matou até o início desta sexta-feira, 20, mais de dez mil pessoas em todo o planeta e já contaminou mais de 244 mil seres humanos em vários países espalhados globo terrestre.
No Brasil, até a manhã desta última sexta, 626 brasileiros já tinham sido infectados pelos vírus do Covid-19, onde o número de óbitos já alcançou sete pessoas. A doença que surgiu pelo mundo espalhada por milionários, aos poucos começou contaminar a classe média no país e setores populares na Europa e América do Norte. O temor das autoridades de a doença atingir as camadas mais vulneráveis do Brasil pode a vir se transformar num cenário trágico repetindo o que ocorre na Itália, local com o maior números de óbitos em todo o mundo, onde 3,4 mil pessoas já morreram.
Não bastasse a tragédia em si desta nova gravíssima crise que só de uma vez ameaça suplantar os sistemas de saúde dos países e jogar na lona a economia das nações, de vez, vemos assentado na cadeira que deveria ser do timoneiro do Brasil, um dublê de político que se abastece e gosta de viver de polêmicas. Quando não é ele, é um de seus pirralhos mimados a causar tumulto. Vira e volta, aquele que é o ex-futuro embaixador do Brasil nos Estados Unidos, causa comoção e consegue unir 90% da sociedade brasileira contra o governo do seu pai.
Desta vez, não foi diferente. Em meio a mais grave doença surgida no século 21, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que se encontra suspenso das atividades partidárias, resolveu partir para as teorias das conspirações e acusar, sem nenhuma base de conhecimento científico, acusar a China - o maior parceiro comercial do Brasil - de ser o responsável pela propagação do Covid-19 em todo o planeta.
Compartilhando uma mensagem de um seguidor seu, o filho do presidente da República escreveu em seu perfil no twitter: "quem assistiu [o documentário] Chernobyl vai entender o que ocorreu" no caso da proliferação do coronavírus pelo mundo. Segundo o parlamentar, é só substituir "a usina nuclear" pela doença gripal, uma das mais agressivas e que ainda não possui vacina para combatê-la, e "a ditadura soviética pela chinesa" para entender o que vem ocorrendo.
A declaração de Eduardo Bolsonaro só encontrou ecos em colegas do mesmo naipe como o Pastor Marcos Feliciano (Podemos-SP) e Bia Kicis (PSL-DF). Parlamentares como Davi Alcolumbre (DEM-AP) e Rodrigo Maia (DEM-RJ) que presidem o Poder Legislativo, condenaram a fala do filho do presidente da República brasileira. Assim como Alceu Moreira (MDB-RS) e Fausto Pinato (PP-SP), presidentes respectivamente das Frentes Parlamentares de Apoio à Agricultura (FPA) e a relação entre Brasil e China. O pai de Eduardo, Jair Bolsonaro, não se manifestou.
Mas o sinal de descontentamento se deu mesmo quando o embaixador chinês no país, Yang Wanming, se manifestou afirmando que as "palavras" de Eduardo Bolsonaro "são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares" e "não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos" do governo norte-americano de Donald Trump, com quem a nação asiática vem tendo uma complicada relação diplomática. "Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizade entre os nossos povos", complementou Wanming.
"A parte chinesa repudia veemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça desculpa ao povo chinês", completou o embaixador. Posteriormente, Eduardo Bolsonaro pediu desculpas mantendo o que afirmara. E a partir deste momento, Yang Wanming afirmou em longa nota que continuava chocado por "tal provocação flagrante contra o governo e povo chinês".
E que espera que o Ministério das Relações Internacionais do Brasil alerte o referido parlamentar "a tomar mais cautela nos seus comportamentos e palavras [para] não fazer coisas que não condigam com o seu estatuto, não falar coisas que prejudiquem o relacionamento bilateral e não praticar atividades que danifiquem a nossa cooperação" que, segundo a embaixada daquele país, "causaram influências nocivas, vistas como um insulto grave à dignidade nacional chinesa, e ferem não só o sentimento de 1,4 bilhão de chineses, como prejudicam a boa imagem do Brasil no coração do povo chinês".
Em 2.019, com dados de até o mês de novembro, a China foi responsável por 32,23% de todas as exportações feitas pelo agronegócio brasileiro, ficando abaixo apenas da União Europeia que foi responsável por 37,33% em adquirir os produtos agropastoris do Brasil. Os Estados Unidos do presidente Donald Trump, aliado ideológico do governo Bolsonaro, foi responsável por 17,40% das exportações brasileiras do agronegócio.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje