O dólar, as bananas e o pibinho
Autor(a): Humberto Azevedo
A primeira semana do mês de março de 2.020 serviu para passar a limpo o ano de 2.019. Passado o carnaval movimentado fora do ambiente momesco, o que se viu foi um clima de seca-pimenteira contaminar as rodas em geral. Um “a realidade batendo à porta” é o que mais se ouve, por ora.
Mais cedo, ou mais tarde, isso aconteceria. E, agora, que o ocorrido já se sucedeu, a corrida sem sentido para sei lá onde parece ser o que vem por aí. E o cenário caótico vai se transformando numa verdadeira tragédia brasileira. Sem tino, sem perspectiva, com a arrecadação dos governos despencando graças ao consumo menor, o sonho de uma eleição de verão vai aos poucos se tornando num horizonte dolorido e machucado.
A semana começou com o dólar batendo a casa dos R$ 4,48, até então a maior cotação da moeda norte-americana desde o início da vigência do Plano Real, em julho de 1.994, no governo do ex-presidente Itamar Franco, de muita saudade quando, enfim, o projeto civil e democrático brasileiro dava mostras de virar o jogo da república autoritária que por 21 anos impôs um regime militar de triste memória ao povo brasileiro.
E a semana quase se encerrando assiste o dólar ser comercializado no pregão de quinta-feira, 05, a R$ 4,61, quando ao longo do dia chegou a bater a cotação de R$ 4,66. A queda de cinco centavos se deu após uma fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, para empresários de que “o governo precisaria fazer muita besteira” para que a moeda norte-americana alcançasse a cotação de R$ 5,00.
Enquanto o dólar não alcança os R$ 5,00, o flash back de 2.019, tenebroso, tomou conta da quarta-feira, 04, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) ficar em 1,1%, abaixo do 1,5% esperado. O PIB é a soma de toda a riqueza gerada pelo país. Os números do pibinho, como passaram a ser chamado, foram um banho de água fria.
E, sabendo que os seus “amigos” repórteres plantonistas o aguardavam ansiosamente para questioná-lo sobre o baixo desempenho do PIB brasileiro, o presidente da República se comportando como um artista circense de qualidade duvidosa oferece a todos no picadeiro um verdadeiro palhaço, travestido de presidente com faixa presidencial e tudo, com ele assistindo e vendo o humorista Márvio Lúcio distribuindo pencas de banana para um “especial” televisivo que irá ao ar no domingo, 08, dentro do programa “Domingo Espetacular” da TV Record de propriedade do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).
Claro, lógico, evidente, que mais essa provocação que o presidente brasileiro faz contra a imprensa, contra o jornalismo, não passou desapercebido. Até o então presidente nacional do NOVO, João Amôedo – candidato à Presidência pelo partido que governa Minas nas eleições de 2.018 – se manifestou lamentando mais essa atitude grosseira protagonizada pelo Sr. Jair Bolsonaro.
“Ao invés de anunciar as medidas que priorizará este ano para termos um resultado melhor no PIB, Bolsonaro opta por desrespeitar a imprensa, colocando um humorista em seu lugar. O gesto desrespeita todos os brasileiros, especialmente os que ainda sofrem com a crise econômica”, afirmou Amoedo na sua rede social preferida, o twitter.
Não satisfeito e bem ao seu estilo, durante a sua tradicional live (transmissão ao vivo) feita no facebook às quintas, Bolsonaro culpou a imprensa pelo baixo PIB apurado em 2.019. “Se a imprensa produzisse notícia verdadeira, certamente o resultado seria melhor”, aponta o timoneiro eleito por mais de 57 milhões de brasileiros.
Em resposta, os profissionais que cobrem a Presidência da República prometem protestar contra o presidente no próximo dia 18 não fazendo os seus trabalhos. Vão cruzar os braços assim como, em 1.984, os fotógrafos que cobriam o Palácio do Planalto do então João Figueiredo (PDS, atual PP), último presidente do regime militar que se instalou no país entre 1.964 e 1.985.
“Os ataques do Bolsonaro contra a imprensa infelizmente nos fazem recordar muito esse momento da ditadura militar em que tinha um enorme desrespeito e censura com os jornalistas e a imprensa. É necessário relembrar esse momento, não só o que acontecia, mas também a resposta dos jornalistas a isso”, informou Juliana César Nunes, diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF).
E, tudo isso, três dias depois da tão propalada manifestação que os apoiadores do presidente Bolsonaro pretendem realizar no dia 15, em várias cidades do país, “contra os políticos de sempre” do Congresso Nacional e também contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Mas antes disso, no domingo, 08, no Dia Internacional da Mulher as oposições a Bolsonaro também vão às ruas, assim como no dia 14, sábado, para lembrar os dois anos do assassinato da ex-vereadora carioca do PSOL, Marielle Franco.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje