Postado em 26 de janeiro de 2023

A arte da sabedoria

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 Todo bom livro desperta uma relação afetiva, por isso costumo pensar que minha biblioteca é por excelência um espaço de vivência amorosa. Nesses primeiros dias do ano, onde se renova a esperança, saboreei afetivamente a “Arte Da Sabedoria” de Baltasar Gracián. Quem é esse autor, qual a relevância dessa obra do longínquo século XVII?

Baltasar Gracián nasceu em 1601 em Aragão, e faleceu em Tarazona, província de Saragoça, em 1658. Pensador pertencente ao ‘Barroco’, teve sua vida marcada por uma formação e atuação religiosa (era jesuíta), embora suas ideias focadas na ética, na imanência, foram alvos de constantes desconfianças de seus superiores religiosos.

O pensador espanhol utiliza-se de frases breves, buscando a compreensão da essência humana, e da necessidade de se praticar a Prudência, que classifica como sendo, “a virtude da razão prática, que nos ajuda a discernir o bem e a eleger o meio justo para consegui-lo”. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche se referindo ao livro de Baltasar Gracián, afirma: “A Europa nunca produziu nada mais fino em questões de sagacidade moral”. Fico a especular se não foram os aforismos que compõem o livro que inspiraram o “filósofo do martelo”, a escrever também dessa forma.

Logo na primeira página encontramos uma afirmativa provocativa para os homens e mulheres inquietos desse início século, “a perfeição suprema, é ser uma boa pessoa” e, acrescenta em tom de advertência: “o sucesso requer paixão e prudência, mas combinados”. Algo pertinente para uma sociedade carente de justa medida, baseada exclusivamente em uma cultura de excessos.

Para Gracián nunca devemos ser pedantes, presunçosos, pois são umas das razões da ruina existencial: “chegar à arrogância, o mais mortal dos defeitos humanos é preciso apenas um passo”. Para ele é melhor um bom e breve juízo fundamentado, do que discorrer longamente e estender-se mais que o necessário: “o bom, se breve, é duas vezes bom”.

Afirma que são três as causas do prodígio: a criatividade, gosto e opinião, para Gracián são qualidades máximas para exercer qualquer cargo ou função: “Que sua criatividade seja fecunda, o seu gosto relevante e sua opinião profunda” e adverte que, “quanto mais se desespera para manter a sorte, mais risco corre de cometer um deslize e perdê-la”. Com toda precisão escreve: “cuidado com o cargo, pois ele cega os homens” e, segundo o jesuíta, devemos ser respeitados mais pela virtude que pelo cargo.

Em tempos marcados por disputas e ódio, Baltasar Gracián nos faz refletir: “fuja dos conflitos; são animais gregários, nunca andam sozinhos, sempre trazem outros consigo”. Com agudeza, penetra no âmago das relações humanas e, profeticamente proclama: “A vida do homem é uma luta contra a malícia do próprio homem” e, concluí com uma sabedoria estoica que, “homem cuidadoso, sabe olhar por dentro, conhece a vida”.


* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



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