Postado em 14 de outubro de 2022

Aparecida: Maria na Fé do Povo

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 Comemora-se 12 de outubro o dia da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, devoção que se mescla com a formação do povo brasileiro, em sua identidade e história. Quando a imagem apareceu na rede dos pescadores, em 1717, o ciclo do ouro se mostrava prospero no Brasil colônia, que por sua vez consolidou a triste sina do nosso país; de ser fornecedor de riquezas para outros países, outros povos.

Podemos afirmar que a devoção à Nossa Senhora Aparecida, norteou a construção da identidade nacional. Do primeiro milagre, ocorrido na pescaria de João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia, a uma sucessão de graças alcançadas, comprovam que Aparecida veio ao encontro dos anseios do nosso sofrido povo, confiante na interseção da Mãe de Deus.

Com a alegria da espiritualidade mariana, mantem-se viva a esperança diante das turbulências da vida, cantada em verso e prosa na música Romaria, do compositor e cantor Renato Teixeira. A devoção a Aparecida é profundamente animadora para o momento que atravessamos, marcado por um deserto de exterioridade e vazio espiritual. É recorrente as palavras do Papa São Paulo VI, “Não se pode ser cristão sem ser mariano”, pois a devoção a Maria se explica pela sua identificação com a necessidade de libertação contra toda forma de opressão, preconceito e intolerância, vivenciado no chão da história.

Peregrinações, procissões, romarias são algumas formas do povo ir aos santuários rezar e praticar a sua devoção. Para alguns Maria se restringe a uma santa milagrosa, já os evangelhos revelam mais do que isso. É mãe de Jesus de Nazaré e ao mesmo tempo sua discípula que peregrina na fé junto com todos os que acolhem o Reino de Deus e sua justiça.

Uma jovem pobre de uma cidadezinha pobre que ouve o chamado de Deus, através da figura de um anjo para ir além de suas atividades do dia a dia e lançar-se para acolher em si o Verbo de Deus. Deus lhe convida a ser a primeira missionária da Palavra.

Como diz o Papa Bento XVI, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini: Maria “Fala e pensa com a Palavra de Deus; esta torna-se palavra d’Ela, e a sua palavra nasce da palavra de Deus” (Lc 1, 46-55). Faz da Palavra de Deus as suas palavras. Tornar-se instrumento de Deus na construção de seu Reino de justiça e paz, cumpre em si a fidelidade do Israel de Deus. Mulher da palavra, mulher crente, mulher humilde.

No Brasil a Senhora Aparecida tem muito o que dizer aos negros, aos pobres, aos pescadores, aos sem voz e sem vez. Aparecida (Negra Mariama) possui uma semelhança muito grande com essa gente que em meio à dor sonha, reza e espera. O povo brasileiro em sua maioria é de origem negra.

Maria é mulher profética que em Aparecida está com os negros, mestiços, e pobres do Vale do Paraíba. Em Guadalupe com o sofrido rosto indígena. As “Nossas Senhoras” estão carregas das projeções humanas. Olhando para Maria o povo interpreta as suas dores, alegrias e esperanças. E em diversos lugares Maria aponta para Jesus e o Reino, e nos ensina que quem se coloca na dinâmica do Reino deve tornar-se servo e serva. Viver na ótica do Reino é não esperar privilégios ou compensações, ou se colocar como melhor que os outros, mas servir com alegria e disponibilidade.

Texto em co-autoria com o teólogo Eder Vasconcelos, franciscano e escritor. Autor de diversos livros, entre eles, Pedagogia da Ternura- Via para o amor e beleza- Paulinas Editora.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



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