Postado em 2 de outubro de 2022

Democracia

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 Sou de uma geração que aprendeu a fazer política combatendo a ditadura militar que, no final dos anos 70 e início dos anos 80, demonstrava seu esgotamento. Assistíamos com expectativa, ao início do processo de abertura política, “lenta, gradual e segura”, na expressão do estrategista em geopolítica, o General Golbery de Couto e Silva.

Período marcado por crises econômicas, com o aprofundamento das desigualdades sociais, pois o milagre econômico, criado nos anos 70, chegara ao seu fim, não mais apresentando sustentabilidade. Foram tempos de redemocratização e de elaboração de grandes utopias, sonhos.

Apesar de todas as contradições e erros (não foram poucos), advindos daquele período histórico, é indiscutível que naquele momento, ocorreu no Brasil uma união em torno de um sonho – o, de se construir um projeto Nacional, através do retorno do Estado Democrático de Direito. Diferente do que estamos assistindo nos dias atuais, com a existência de um discurso de negação da política, o qual traz em seu cerne a divisão e crescimento de um vírus de ódio e preconceito

Éramos jovens entusiasmados pela vivência e engajamento nas causas sociais, proporcionado pela Igreja Católica, através dos movimentos de jovens, comunidades eclesiais de base e diferentes pastorais. Recentemente, tive acesso a documentos, que foram produzidos por órgãos de “inteligência” do Governo Federal, no início dos anos 80, que tratava de espionar as atividades da Igreja em Minas Gerais, em especial em nossa região do Sul de Minas, na Diocese de Guaxupé e Arquidiocese de Pouso Alegre.

Chamou-me a atenção o registro do 24º Encontro de Jovens Cristãos de Cássia, em julho de 1983, onde o machadense, José Marques Junior, Juninho como era chamado (hoje professor Doutor, pesquisador da Universidade de São Paulo), proferiu uma palestra, com o tema, “Estudo do Ambiente”. Afirma o documento, escrito pela arapongagem: “Durante à palestra, JUNINHO convidou os jovens analisarem o ambiente em que vivem, dentro da doutrina VER – JULGAR - AGIR e, a serem os denunciadores das opressões e injustiças sociais existentes. Incentivou-os a se colocarem ao lado dos pobres, dos injustiçados e dos desempregados, a fim de modificar as estruturas sociais do País. JUNINHO defendeu a Pastoral da Terra e os padres presos na região do ARAGUAIA, tachando de vergonhosa e humilhante a condenação dos referidos padres”.

Hoje são registros que ficaram para a história, mas que comprovam o monitoramento, por um regime, embora moribundo, tinha práticas de vigilância e repressão. Poderíamos ter sido vítimas dessa repressão, caso esse regime ditatorial persistisse em continuar. Mas graças a mobilização da sociedade civil, os tempos de Democracia vieram, nos proporcionando liberdade de expressão, direito ao voto e participação.

A vida me ensinou o quão o regime democrático não é um meio para se atingir a um objetivo. É um fim em si mesmo, que consiste na confiança nos métodos de liberdade, cujo o resultado é a preservação da própria Liberdade. Precisamos, novamente renovar nossa crença na democracia, ainda que, apesar dos defeitos, é o que de melhor foi inventado pela humanidade. Quando se nega o exercício da democracia, em sua prática política surge o que há de pior, os ditadores. A democracia é o nosso horizonte utópico, pois estaremos sempre buscando ampliar a participação, a solidariedade e a convivência com o diferente, em um permanente processo civilizatório.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



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