Postado em 8 de dezembro de 2021

O mal e a estupidez

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 De onde vem o mal? Preocupação que nos acompanha e não nos deixa em paz. A Teologia fala do “mysterium iniquitatis”, “mistério do mal”. Nesse tema nos sentimos provocados com a pergunta: Qual a relação entre o mal e a estupidez?

O filósofo francês Blaise Pascal (sec.XVII), apresenta o Ser Humano dotado de amor as coisas finitas e infinitas. Sendo que para ele a origem de todo mal está exatamente na distorção, em amar as coisas finitas, fugazes, com esse amor infinito. Distorção que Pascal chamou de ‘divertissement’, que leva a existência de um mundo marcado pelo tédio, tristeza e desespero, o mundo do amor próprio

No livro “Eichmann em Jerusalém- Um Relato Sobre A Banalidade do Mal”, a filosofa Hannah Arendt realiza uma reflexão sobre o julgamento de Adolf Eichmann, oficial nazista, que organizava o transporte dos judeus para os campos de extermínio.

Ao contrário do que dizia na época, que classificava o coronel nazista como uma espécie de cérebro monstruoso do mal, segundo Hannah Arendt, "Eichmann era um homenzinho insignificante e medíocre, cuja única característica notável era não pensar e não dar o menor sinal de uma autêntica personalidade própria”.

O teólogo, pastor e membro da resistência alemã anti-nazista, Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), no livro “Resistência e Indignação: cartas e notas na prisão” escreve que: “A estupidez é um inimigo mais perigoso do bem do que o mal”. Para ele, somente a estupidez explicava aqueles tempos de regime totalitário, “parece que a estupidez não é propriamente um defeito congênito, mas um processo em que as pessoas se tornam estúpidas sob certas circunstâncias, ou deixam-se fazer estúpidas de forma recíproca”.

Demonstra que a estupidez é um problema mais sociológico do que psicológico, é uma forma especial de influência das circunstâncias históricas sobre o homem, isto é, uma consequência psicológica de certas circunstâncias externas. Bonhoeffer sentencia algo perfeitamente contemporânea, “O poder de alguém precisa da estupidez de outrem”.

A verdade é que contra a estupidez não temos defesa, é pior que o mal, “O estúpido, ao contrário da pessoa má, sente-se completamente satisfeito consigo mesmo; sim, ele até se torna perigoso, enfurecendo-se facilmente quando é refutado”.

Para, Bonhoeffer o fato de o estupido ser muitas vezes teimoso não significa que ele seja independente, “Conversando com ele, você quase pode sentir que seu discurso nem sequer tem a ver com ele mesmo, com aquilo que o constitui. Trata-se de frases de efeito, slogans e chavões que se apoderaram dele”.

A teoria da estupidez Dietrich Bonhoeffer, explica muito bem o momento histórico que estamos vivendo. Como consequência de sua atitude profética, acabou sendo enforcado no campo concentração de Flossenbürg, Alemanha. Tornando se mártir e exemplo de um místico cristão.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Informamos ainda que atualizamos nossa

Estou de acordo