Postado em 28 de outubro de 2021

Boi mudo

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 O filósofo Sul Coreano Byung-Chul Han é uma das maiores referências em compreender o mundo contemporâneo. Para ele a Filosofia deve se ocupar, sem rodeios, do hoje, da atualidade, realizando assim, críticas ao que classifica como, “Sociedade do Cansaço”.

Em recente entrevista ao jornalista Sérgio C. Fanjul do jornal “El País”, Byung-Chul Han, falou sobre seu recente livro: “NÃO COISAS” - onde descreve o mundo material, dissolvido em um mundo de informação.

Relata a sociedade controlada pelo smatphone, formada por uma legião de infômanos, ou seja, pessoas que compilam e compartilham obsessivamente informação sobre a vida pessoal. Elucida que, a obsessão por nós mesmo, faz com que os outros desapareçam e, o mundo seja um reflexo de nossa pessoa.

Para Byung-Chul Han, o smartphone é hoje um lugar de trabalho digital e, um confessionário digital: “O smartphone é o artigo de culto da dominação digital. Como aparelho de subjugação age como um rosário e suas contas; é assim que mantemos o celular constantemente nas mãos. O like é o amém digital.”

A questão central para Byung-Chul Han é que, a nossa sociedade se parece com o “Admirável Mundo Novo”, descrito por Aldous Huxley, onde as pessoas são controladas pela administração do prazer.

O pensador reivindica a recuperação do contato íntimo com o cotidiano, como caminho para superarmos a obsessão por informações. Obsessão que tem como sintoma: o desaparecimento das coisas e, dos rituais considerados arquiteturas temporais, dando estabilidade à vida.

Em sua análise, o desaparecimento das coisas, dos rituais, nos transformam em indivíduos perdidos, doentes e cruéis: “Quando o tempo perde sua estrutura, a depressão começa a nos afetar”.

Aponta para a necessidade de domar e humanizar o capitalismo, mas para isso ocorrer, afirma: “precisamos que a informação se cale.” Excesso de informação pode significar doenças psíquicas, narcisismo e exibicionismo.

Diante da entrevista de Byung-Chu Han desembocada na necessidade do pensar, o “diálogo silencioso do eu consigo mesmo”, na definição de Hanna Arendt, aqui relembro o filósofo e teólogo Santo Tomás de Aquino, que em sua capacidade de pensar recebeu, de seus colegas universitários, o apelido de “Boi Mudo”, devido à combinação de um corpo obeso e, alto associado à um silêncio continuo.
Resgatar a capacidade de pensar pode ajudar a humanidade em reformar sua consciência, redefinir caminhos civilizatórios, como tão bem fez Santo Tomás, em seu silêncio primordial. Nas palavras de Santo Alberto Magno (Mestre de Santo Tomás), “o Boi Mudo mugiu tão alto que, seus mugidos preencheram o mundo” e, buscou respostas para as adversidades humanas.

Necessitamos do pensar, no transformar informação em conhecimento em algo útil para nossa vida e, a vida aos outros. Algo que nos humanize e, nos enche de beleza e dignidade

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



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