Postado em 2 de novembro de 2022

“Os governos passam, a religião fica”

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 Estamos vivendo nessas eleições algo nunca visto em um processo eleitoral no Brasil. Uma onda de ódio, intolerância tem dominado diferentes espaços de convivência social, como por exemplo, locais de trabalho, escolas e as Igrejas.

Recentemente assistimos cenas deploráveis em Aparecida do Norte, com pessoas visivelmente alcoolizadas cometendo sacrilégio no espaço sagrado para todos os católicos; pessoas exigindo em nome de uma suposta “cidadania” que, os sinos da Basílica antiga, parassem de tocar, para não atrapalhar suas manifestações políticas. A partir desse triste episódio em Aparecida, lamentavelmente se intensificou os ataques contra membros da Igreja Católica, inclusive durante as missas.

O arcebispo de São Paulo, cardeal dom Odilo Scherer, foi alvo de ataques nas redes sociais após postar uma reflexão sobre se valia à pena brigar por questões políticas e, fez uma série de postagens explicando os motivos da cor de sua batina. Segundo o Cardeal - "Se alguém estranha minha roupa vermelha (perfil), saiba que a cor dos cardeais é o vermelho (sangue), simbolizando o amor à Igreja e prontidão ao martírio, se preciso for. Deus abençoe a todos. Mas… ninguém machuque ninguém!".

Em relação ao momento atual o Cardeal pondera, "Tempos estranhos esses nossos! Conheço bastante a história. Às vezes, parece-me reviver os tempos da ascensão ao poder dos regimes totalitários, especialmente o fascismo. É preciso ter muita calma e discernimento nesta hora". É espantoso que por causas dessas moderadas palavras Dom Odilo tenha sido vítima desse assédio moral, de violência nas redes sociais.

A realidade é que há um processo de contaminação pela estupides, onde não temos defesa pois ela é pior que o mal. Para o Teólogo e Pastor Dietrich Bonhoeffer, “a estupidez não é propriamente um defeito congênito, mas um processo em que as pessoas se tornam estúpidas sob certas circunstâncias”.
Desrespeitar uma religião porque ela possui preceitos, interpretações discordantes da sua é sintoma da mais intensa estupidez, uma ameaça à paz social. Como disse recentemente em entrevista o Pastor e escritor René Kivitz, referindo aos dias atuais, “defender a civilização contra a barbárie”.

Me considero uma pessoa religiosa e, temo pelas consequências nefastas, quando se confissionaliza a política, visando legitimar um projeto político partidário e pessoal. A humanidade já sofreu horrores com a utilização do nome de Deus em vão. Utilizando-se de símbolos religiosos, proveniente de uma Fé amorosa, se praticou os maiores atos de violência contra a dignidade e a vida.

Segundo ainda o Cardeal Dom Odilo, o que se está ocorrendo agora é a instrumentalização da religião, algo desrespeitoso e indevido; pois, para ele, “Os governos passam, a religião fica”. A religiosidade, permeada pela tolerância, é patrimônio histórico do povo brasileiro - não podemos jamais admitir que seja destruída por um Talibanato Tupiniquim.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



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