Postado em 20 de novembro de 2022

A fome mata

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 A Campanha da Fraternidade (CF 2023), promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, apresenta como tema: “Fraternidade e Fome”; contribuindo, dessa forma, para despertar no conjunto da sociedade, a necessidade de se buscar soluções para superar esse desrespeito à dignidade humana, verdadeiro pecado social que ‘clama aos céus’. Para Dom Joel Portella Amado, Bispo Auxiliar da arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ) e Secretário Geral da CNBB: “Nós cristão, que temos fome de Deus, somos convidados a refletir sobre o tema da fome”. Para ele, a próxima CF coloca a pergunta crucial: “por que muitas pessoas na face da terra experimentam o flagelo da fome?” - Por quê?

Segundo a pesquisa divulgada em junho desse ano, realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), 33,1 milhões de brasileiros, que corresponde a 15% da população, se encontram em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, passando fome. Não há dúvidas que a fome no Brasil é uma questão histórica, porém após uma queda, voltou a crescer nos últimos anos.

Se o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que liderou a Ação da Cidadania contra a Fome na década de 1990, estivesse entre nós, ficaria assustado em ver o agravamento da miséria e fome vivenciada atualmente no Brasil. Betinho não se cansava de dizer: “Quem tem fome, tem pressa”. Essas palavras, ou melhor, esse mantra deve também ecoar em nossos corações, hoje, agora!

As causas para fome no Brasil podem ser atribuídas às questões sociais, econômicas e políticas; sendo que, nos últimos anos, ocorreu um desmonte das políticas públicas voltadas ao seu combate e à promoção social. A subnutrição e a desnutrição –consequências da fome, tem levado ao aumento de doenças e mortes, aprofundando o quadro de injustiça e, penúria do povo brasileiro.

Para vencer a fome é evidente ser necessário diferentes decisões e ações no sentido de viabilizar principalmente políticas públicas eficientes, mas também necessário se faz que, supere essa a cultura da indiferença, na qual tem permeado a vidas das pessoas. Não é possível uma sociedade sustentável, equilibrada e, justa, baseada no egoísmo de uma lógica de mercado, onde o ter é mais importante que o ser.

Com toda razão Mahatma Gandhi afirmava que a fome é a “forma de violência mais assassina que existe”. Dar de comer jamais pode ser apenas um gesto de puro assistencialismo, mas de um humanismo em grau zero.

O mapa da fome é vergonhoso, cruel e escandaloso num país que se diz cristão. Jesus de Nazaré continua dizendo, hoje: “Dá-me de comer, dá-me de beber”. A fome dói, a fome adoece, a fome mata. Como diz o velho teólogo Leonardo Boff: “Só quem mantém essa unidade do Pai Nosso com o Pão Nosso pode dizer “amém”.

Portanto, não é possível que em nome de um Deus que é puro amor, solidariedade e compaixão se difunda a aporofobia (desprezo pelo pobre), através de pseudodiscursos ideológicos difundidos nas mídias digitais. Unamos as forças: governos, igrejas, instituições e, homens e mulheres de boa vontade para, juntos, erradicarmos de uma vez por todas, a fome que afeta drasticamente os mais vulneráveis em nosso país. Que este seja o nosso sonho: “Pão em todas as mesas, sorrisos em todos os rostos”.

*Texto em parceria com Eder Vasconcelos, que é franciscano, escritor, teólogo e filósofo – Manaus/AM.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Informamos ainda que atualizamos nossa

Estou de acordo