Postado em 31 de agosto de 2022

Diálogo

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 Entre muitos desafios vivenciados nesse início de século, o saber dialogar apresenta-se como premência, tendo em vista a crescente onda de intolerância e fundamentalismo, que tem dominado corações e mentes de muita gente. Temos assistido cenas que nos leva a crer que estamos em plena barbárie.

Para que ocorra o diálogo é fundamental que exista a tolerância, que é a capacidade de aceitar o diferente, da mesma forma que, ser intolerante é, não suportar a pluralidade de ideias, de crenças e opções de vida. Mas ser tolerante significa tolerar tudo?

Como explica o filósofo André Sponville, é evidente que não; pelo menos se quisermos que, a Tolerância seja uma virtude. Não podemos considerar virtuoso quem tolera a violência, a tortura etc. O tolerante não se cala diante da injustiça, do desrespeito à dignidade e honra alheia. Conforme o filósofo Umberto Eco, “Para ser tolerante, é preciso fixar os limites do intolerável”.

O grande educador Paulo Freire, em seu livro a ‘Pedagogia da Esperança’, faz uma afirmativa que adotei como princípio de vida, “A tolerância: virtude revolucionária que consiste na convivência com os diferentes para que se possa melhor lutar contra os antagônicos”. Ressalto que o antagônico a ser combatido não é a pessoa humana, imagem de Deus, mas na iniquidade, contra todos seres vivos, contra a natureza, nossa casa comum. Como dizia o escritor Rubem Alves, “Ninguém é idêntico aquilo que faz. É só isso que nos permite odiar o pecado e amar o pecador”.

Outra condição necessária para que ocorra o diálogo é a atenção, segundo a filósofa e mística, Simone Weil, “a atenção é a forma mais rara e mais pura da generosidade”. Estar atento ao outro, para que se possa compreender suas razões e motivações de ser, mesmo não concordando com elas é algo emancipador. Quando prestamos atenção no outro, também conseguimos nos escutar, ampliando assim o sentido da vida.

Para o teólogo Faustino Teixeira, dialogar é estar diante do enigma da alteridade, mesmo que isso signifique um incomodo, um desvio, “É quando a alteridade se apresenta de maneira substantiva e produz impacto novidadeiro, uma vez que traz consigo o outro com inusitada e improgramável presença.” Em síntese, alteridade é uma disposição adquirida de fazer o bem, de colocar-se no lugar do outro, de desenvolver o sentimento de empatia pelo outro, diferente de mim.

Papa Francisco nos ensina que a humildade, suavidade, e fazer tudo a todos, são os três elementos fundamentais de um diálogo. Segundo Francisco, devemos iniciar o diálogo, não perder tempo, pois os problemas devem ser enfrentados, antes que se ergam muros, dificultando a reconciliação. Como escreveu o filósofo Friedrich Nietzsche, ”Nada no mundo consome o homem mais depressa do que o ressentimento”.

Concluo esse artigo refletindo sobre o período eleitoral que se inicia, com já anunciadas turbulências e tempestades. Penso ser necessário a ampliação e aprofundamento do diálogo, pois esse é a essência da Democracia, entendida como fim último e não como meio, para se atingir objetivos totalitários. Não é possível existir democracia, sem admitir o diferente, saber que se pode ser igual ao outro, mas diferente.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



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