Postado em 7 de setembro de 2022

O sete de setembro de todos os brasileiros

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 As comemorações do Bicentenário de Independência do Brasil, no dia sete de setembro, suscita reflexões pertinentes a todos os brasileiros, principalmente, no que se refere às conquistas do passado, bem como os desafios a serem enfrentados no presente, visando o avanço de um processo civilizatório para todos.

O sete de setembro, ao longo da história, teve diversos significados, hora ressaltado, hora apagado, manipulado conforme os interesses políticos e sociais de cada período, principalmente por aquele segmento social, que o sociólogo Jesse Souza, classifica como a “elite do atraso”. Apesar dos limites dos ideais libertários, com a manutenção da escravidão, o sete de setembro de 1822, retratado na tela ‘Independência ou morte’, do pintor Pedro Américo (1888), inaugurou um momento decisivo na construção do Estado brasileiro.

Nas comemorações do Bicentenário é o momento oportuno para que se pense e crie políticas públicas efetivas, que promovam o acesso das classes populares à universalização do reconhecimento social, retirando grandes parcelas da população do mapa da fome e, de todas as formas de exclusão. O tempo urge, nesse início de século, para que se realize de forma definitiva o grito de independência de todos os brasileiros, pagando assim uma dívida social com os excluídos. Que na ontológica expressão do historiador Capistrano de Abreu, povo: “capado e recapado, sangrado e ressangrado”, ao longo da história”.

O antropólogo e educador, Darci Ribeiro em seu livro ‘O Povo Brasileiro’, nos recorda que, ao longo dos séculos, viemos atribuindo o atraso do Brasil e a penúria dos brasileiros às falsas causas naturais e históricas. Como por exemplo, os inconvenientes do clima tropical, ignorando-se suas evidentes vantagens. À mestiçagem como degeneração, desconhecendo que somos um povo feito do caldeamento de índios com negros e brancos e, que nos mestiços, constituímos o cerne melhor de nosso povo. À suposta jovialidade do povo brasileiro, ignorando que somos ‘cento e tantos anos’ mais velhos que os Estados Unidos.

Para Darci Ribeiro, o Brasil jamais existiu para si mesmo, no sentido de produzir o que atenda aos requisitos de sobrevivência e prosperidade de seu próprio povo: “Existimos é para servir a reclamos alheios. Por isso mesmo, o Brasil sempre foi, ainda é, um moinho de gastar gente”.

Como intelectual orgânico, Darci Ribeiro não defendia um isolamento do mercado mundial, pois seria uma catástrofe em pleno mundo globalizado, mas sim o de conquistarmos um intercâmbio internacional que não seja tão oneroso para os brasileiros, com uma economia que sabe se situar no mercado, mas sabendo tirar proveito próprio: “Queremos, do capitalismo, o que ele deu à América do Norte ou à Austrália, por exemplo, como economias situadas no mercado mas sabendo tirar dele, proveitos próprios.”

Repensar nosso destino como nação valorizando o que temos de melhor, que é nossa gente, nossa terra, nossa história, é o grande desafio que se coloca. Sendo que o primeiro passo efetivo desse repensar é o de não permitirmos que essa data seja sequestrada por interesses de disputas políticas de poder, deixando de ser uma data do Estado, de todos brasileiros, independentemente de seu partido político, religião, sexo ou condição econômica e social.

O sete de setembro tornou-se ao longo da história, sinônimo de cidadania e de compromisso com os ideais libertários e democráticos do povo brasileiro, jamais uma bandeira de ódio, preconceito e exclusão. Uma data de todos os brasileiros e brasileiras!



** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Informamos ainda que atualizamos nossa

Estou de acordo