Deus e o sofrimento
Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais
Em meio às tantas tragédias que a humanidade tem passado, diante de uma sociedade marcada pela incerteza e cansaço, surge a constante pergunta: Por que todo esse sofrimento? Onde está Deus?
Temos que diferenciar o sofrimento que faz parte da dinâmica da natureza e da existência humana, como por exemplo, as dores do parto, que leva ao nascimento da vida, do sofrimento causado pela injustiça, imposto pela maldade, como na guerra. Portanto, é necessário distinguir o sofrimento para a vida, do sofrimento para à morte.
No livro “Por que razão nos deixa Deus sofrer?” o autor, teólogo alemão, Karl Ranner, apresenta quatro respostas clássicas à pergunta do por que sofremos. (....) “Fenômeno natural num mundo em desenvolvimento”. (....) “Como consequência da culpa da liberdade da criatura”. (...) “Como uma oportunidade de provação e de maturação”. (....) “Anúncio de uma outra vida, a vida eterna”.
De acordo com Karl Ranner, embora tenha verdades em todas elas, ele não se dá por satisfeito, pois não há uma resposta compreensível, para a questão do sofrimento. Ele é inevitável, está inserido na ordem do mistério do ser: “Enquanto verdadeiro e eternamente incompreensível, o sofrimento é uma autêntica expressão da incompreensibilidade de Deus, na sua essência e na sua liberdade”.
Conforme Karl Ranner, só em Deus e no seu mistério, que extrapola todos os nossos conceitos racionais, o sofrimento humano tem resposta. Jesus Cristo, o mediador é a ajuda que Deus nos dá. Através dele, Deus concede-nos a graça para a aceitação do sofrimento e da sua incompreensibilidade, pois Jesus viveu o abandono, a dor do sofrimento e se colocou nos braços do Pai – Lucas 23:46. Para o poeta francês Paul Claudel, “Cristo não foi enviado para explicar a dor, mas para enchê-la da sua presença”.
É através da espiritualidade e, da oração, que a questão do sofrimento pode encontrar algum sentido e aceitação. Não se trata de uma defesa, nem uma resignação ao sofrimento; mas sim, assumir a vida no que ela nos proporciona e, ao mesmo tempo, a busca de uma transcendência, o que a filósofa Edith Stein, Santa Tereza Benedita da Cruz, classificou como a “Ciência da Cruz”.
Podemos citar, como exemplo de espiritualidade, a mística judia Etty Hillesum. Mesmo passando por uma situação de sofrimento extremo, presa em um campo de concentração, foi capaz de reconhecer a beleza da criação e, a presença do seu Criador e registrou em seu Diário: “quero dizer que há lugar para belos sonhos junto à mais cruel realidade - e continuo a louvar tua criação, Deus - apesar de tudo”.
A trajetória espiritual de Etty Hillesum é marcada pelo seu mantra recitado em suas orações:” A vida é Bela e cheia de sentido”, demonstrando assim uma extraordinária capacidade de resistir às vicissitudes da vida e, uma euforia amorosa em relação à existência humana.
Não permitiu que em seu coração tenha espaço para o ódio e ressentimentos, mesmo em relação aos algozes de seu povo: “Não há fronteiras entre as pessoas que sofrem, sofre-se de ambos os lados, de todas as fronteiras e, é preciso rezar por todos!”
Concluo com as palavras do escritor franciscano Eder Vasconcelos, sobre o silêncio de Deus: “Essa relação de proximidade e intimidade de Deus com seu povo acontece em meio ao silêncio. Deus conhece o segredo e o mistério do silêncio. Ele mora na casa do silêncio. Silêncio infinito, eterno! Esta casa do silêncio é nosso coração aberto e receptivo para acolher com gratidão a sua voz nos chamando pelo próprio nome”.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje