O sagrado que habita em nós
Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais
A crise da modernidade, sob a qual todos sofremos é estrutural, atinge os fundamentos de nosso sistema de convivência. Tem gerado assim, uma atrofia em diferentes atividades do ser humano, sobretudo no sentido do sagrado. São sintomas dessa crise, medo, ansiedade, agressividade e intolerância.
O sagrado exprime-se em especial, pela oração, que oferece sentido à vida da pessoa orante e nos eleva a Deus. É um jeito de ser como afirma o professor de psicologia e espiritualidade David Benner, no livro “Abrir-se para Deus”.
O pensador Alceu Amoroso Lima, em seu livro “Vida interior”, propõe distinguir em relação à oração, o momento implícito e o momento explícito. Para ele, a oração implícita é o espírito com que vivemos, em todos os sentidos, tanto em nossa vida interior, como em nossa vida operativa. Nessa linha, todo trabalho bem feito é uma oração. É viver em espírito de oração o nosso cotidiano, tornando-se base da oração explícita.
A oração explícita, segundo Alceu Amoroso Lima, é a conclusão, natural e sobrenatural, da oração implícita: “É a entrega expressa e explícita de toda a nossa vida a Deus”, entrega através da oração individual e a oração coletiva. Que não é somente um diálogo secreto da alma com Deus, “É a confidência, é a confiança, é o repouso, o pedido, a gratidão.”
Os teólogos Eder Vasconcelos e Emerson Aparecido Rodrigues, no livro “A essência da oração”, afirmam que orar é mais do que falar, é escutar, é ouvir, “É descansar na presença silenciosa e bondosa do Senhor. Orar é escutar com atenção aquele que fala através de sinais da realidade”.
Para o filósofo estadunidense Ralph Waldo Emerson, “Nunca homem algum orou sem aprender alguma coisa”. No entanto, o orar é considerado por muitos como hábito que caiu em desuso, ou instrumento de manipulação, para o enriquecimento de alguns. Conforme Eder Vasconcelos e Emerson Rodrigues, “a oração brota do chão do ser e se dirige àquele que conhece, sonda com carinho o coração do homem e da mulher que ele tanto ama”.
A oração possuí efeitos terapêuticos, como já registrou o cientista Alex Carrel, no século passado, em seu livro “A oração”, pois além de ser uma fonte de bênçãos espirituais, em uma relação harmoniosa entre corpo e mente, proporciona bem estar e plenitude.
Friedrich Nietzsche sentenciou que “é vergonhoso orar”. Não é mais vergonhoso orar do que beber ou respirar. É pertinente reconhecer que devido sua essência, o ser humano está sempre à procura de objetos adequados para saciar seu desejo infinito e, isso tem causado na “sociedade do desempenho” um grave cansaço.
Talvez seja hora de recitarmos a oração de Santo Agostinho (Confissões), em seu cor inquietum (coração inquieto): “Tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova. Tarde demais te amei (...)” – “Meu coração inquieto não descansará enquanto não repousar em Ti”.
Como ensina Blaise Pascal, só o Infinito Ser se adequa ao desejo infinito do ser humano, possibilitando redescobrir o sagrado que habita em cada um de nós.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje