A beleza que salva o mundo
Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais
Ocupar-se com o tema da beleza, nos leva a refletir sobre a frase profetizada por um dos maiores romancistas da história, o escritor russo Fiódor Dostoiévski: “A beleza salvará o mundo”. Para ele, sem a beleza, o ser humano se afunda na melancolia. A pergunta que nos inquieta é: qual beleza salvará o mundo?
Penso que não seja o padrão de beleza propalado pelo mercado de consumo. Segundo o escritor Eder Vasconcelos em seu livro “Vida espiritual”, esse o padrão tem gerado situações muito complexas nos dias de hoje:” A beleza não pode se transformar num padrão doentio e neurótico. Ela nunca deve ser escrava da vaidade, do consumismo e, da exploração exacerbada do lucro”. Para Eder não resta nenhuma dúvida que vivemos uma crise da beleza nos dias de hoje, “O feio e até mesmo ridículo parecem ganhar o espaço do belo, do sublime.”
O filósofo Byung-Chul Han, classifica a estética contemporânea como sendo a estética do liso, de brilho intenso, como o smartfone, onde a gente não se confronta com o outro, mas apenas consigo mesmo; que, por sua vez, arruína a beleza e o sublime. Na análise do filósofo sul coreano, a beleza encontra-se em um paradoxo. De um lado, se propaga em culto de veneração a ela. Do outro ela perde sua transcendência, mergulhada na lógica imanente da estética do capital.
São Tomás de Aquino viu o belo como um aspecto do ser. Tudo o que existe é bom, verdadeiro e belo. Para o filósofo Martin Heidegger, o qual traduziu a metafisica grega para o nosso tempo, a verdade se mostra e, esse aparecimento da verdade, é a beleza. Porém como nos ensina Mestre Eckhart, para perceber o belo, é preciso assumir a postura interior de deixar ser, da serenidade.
Ainda sobre Dostoiewski, no romance “O Idiota”, o escritor russo narra um diálogo entre o ateísta Hipólito e o Príncipe Michkin. Hipólito pergunta ao príncipe como “a beleza salvaria o mundo”? O príncipe nada diz, mas vai junto a um jovem de 18 anos que agonizava. Aí fica cheio de compaixão e amor até ele morrer. O cardeal italiano, Carlo Maria Martini, interpreta esse silêncio do príncipe como sendo: “a beleza que salva o mundo é o amor que compartilha a dor.”
Segundo o monge Beneditino Anselm Grun, Deus é a beleza primordial que nos fascina. “Essa beleza primordial reluz em toda a beleza que percebemos neste mundo”. A beleza primordial está presente na seriedade de uma criança quando brinca, no rosto cansado de um trabalhador, no cuidado amoroso de uma mãe com seu filho; ou, na rosa que, para o místico Ângelus Silesius é sem, porque, “Floresce porque floresce, Não se autocontempla. Nem pergunta se alguém a vê”.
Eder Vasconcelos, no melhor da tradição franciscana, explicita que os sinais da beleza estão próximos a nós; mas, muitas vezes, nosso olhar está turvado, pois que, não conseguimos vislumbrar esses vestígios do belo.
A beleza está presente no simbolismo de um presépio, que nos recorda o mistério de um Deus amor, que se revela como menino. O Teólogo Bruno Forte descreve esse mistério de beleza expressando: “O primeiro movimento é o da revelação: a Beleza eterna se fez carne, tornando-se acessível aos sentidos do homem exterior, para que o homem interior venha abraçado e arrebatado pela graça que liberta e salva”.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje