Sentido da vida e a morte
Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais
Sendo o homem o único animal que sabe que vai morrer, a sabedoria nos ensina que o sentido que damos à morte traduz o sentido que damos à vida. Para diversos pensadores é o problema filosófico por excelência. Problema este que gera sentimento de angústia, pois a humanidade é desafiada por ela mesma a realizar algo definitivo em um mundo marcado pelo provisório. Segundo Viviane Mosé: “A consciência da morte nos impulsiona em direção à vida: a morte nos impõe a vida como um valor.”
Na antiguidade grega temos distintas reflexões sobre a morte, posições que se contrapõem: transcendência e imanência. Na categoria transcendência, podemos citar a tradição socrática-platônica, que procura nos convencer que não devemos temer a morte, pois ela significa a libertação da alma, da prisão do corpo, para a imortalidade. Essa tradição é baseada em uma concepção dualista, mundo das formas e mundo das ideias e o sentido da vida se dá além morte.
Na categoria imanência, temos o estoicismo, que surgiu na Grécia antiga, mas que fez escola em Roma. Está sintetizado nas palavras do poeta Horácio, em seu livro Odes: “Carpe diem quam minimum crédula postero” ou “colha o dia, confia o mínimo no amanhã”. Essa tradição propõe que as quatro paixões básicas; a aversão e o prazer, o medo e o desejo devem ser extirpados da alma, em razão da busca pela perfeição espiritual e moral; asceticismo. A ataraxia estoica, prega o desapego, a apatia como ideal, para não haver sofrimento com a separação provocada pela morte.
Com o surgimento do cristianismo, nas palavras do teólogo Leonardo Boff, criou-se uma nova categoria com a crença na encarnação de Deus, a Transparência: “Ela é a presença da transcendência (Deus) dentro da imanência(mundo). Quando isso ocorre, Deus e mundo se fazem mutuamente transparentes”. Na concepção cristã conforme o teólogo José Comblin; "o definitivo entrou no provisório e é aí que o encontraremos”.
Para o teólogo Hans Urs von Balthasar, Jesus Cristo em sua missão caminha em direção contraria àquela das doutrinas filosóficas gregas sobre a morte: “não se trata de se desapegar das coisas transitórias para buscar refúgio em um Eterno, mas, ao contrário de lançar as sementes da eternidade nos campos do mundo, deixando que o reino de Deus venha brotar nesses mesmos campos”.
Para Hans Balthasar é através do conceito de missão que conseguimos a unidade que procuramos, pois ela consiste em reconciliar o mundo afastado de Deus, por meio do amor. O cristianismo apresenta como ideal a Misericórdia: ter o coração (cors) com os miseri, com os pobres e aflitos no sentido mais amplo de uma e outra palavra.
A Fé cristã, afirmou Blaise Pascal, revela, “Um Deus sensível ao coração”. Ame, sem medo, ensina os evangelhos, porque a morte não é a última palavra, mas nos integra e reúne, para toda a eternidade. Para Leonardo Boff, com a ressureição, “tudo se torna imediatamente, presente e integrado o eu, o corpo, a alma, o cosmo e Deus”.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje