O Sentido da Vida e a Fé
Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais
Com o advento do Cristianismo, ocorreu o rompimento com as referências da Filosofia Greco/Romana de ‘sentido da vida’. Paradoxalmente o Cristianismo recebeu também incorporações oriundas da antiguidade clássica, como por exemplo, no período Patrístico.
Para Luc Ferry o Cristianismo substitui a concepção onde o Cosmo (Universo em harmonia), determinava os atributos dos seres humanas ao nascerem, por uma concepção de liberdade e igualdade. Para o Cristianismo não importa com quantos talentos você tenha nascido, mas sim, sua liberdade em multiplicar esses talentos. Na ‘moral cristã’ somos todos iguais na liberdade, ‘filhos de um mesmo Pai’; portanto, ‘somos todos irmãos’.
O trabalho, que na sociedade grego/romana indicava estado de inferioridade, atribuído aos escravos, segundo Luc Ferry no pensamento cristão se mostra um instrumento transformador do mundo, pois o foco moral se desloca do talento para seu uso. O trabalho se tornou uma virtude.
Diferentemente do “Panteísmo”, onde ‘o divino é o próprio universo’, a fé cristã apresenta um Deus presente na história, que se preocupa com cada um de nós. O teólogo Leonardo Boff afirma que o Cristianismo apresenta o ‘conceito panenteísta’: “tudo não é Deus, as coisas são o que são: coisas. No entanto, Deus está nas coisas e as coisas estão, em Deus, por causa do seu ato criador”.
A centralidade da Fé cristã reside na ‘crença da ressureição’, na certeza de que a morte não é o fim, concepção contrária ao que ensinavam as diferentes correntes filosóficas da antiguidade Greco/romana. Como desdobramento, temos a substituição do ideal estoico de ‘apatia’, indiferença, pela palavra misericórdia, em abrir o coração ao miserável, pois estaremos juntos na eternidade.
Segundo São Tomás de Aquino “a misericórdia é a manifestação da soberania divina”. Amar sem medo da separação, provocada pela finitude, pois o reino de Deus começa aqui no chão da história (imanência) e, tem sua plenitude na eternidade (transcendência). A utopia cristã não está no que já foi, como queriam os gregos em seu eterno retorno, mas no que será, como representa o Reino de Deus.
Para diferentes pensadores a crise de sentido, pela qual estamos passando nesse início de séc. XXI, é decorrente do fato da Modernidade ter absorvido do Cristianismo, valores como o da liberdade e igualdade e renegado o transcendente, em nome de uma crença absoluta na razão instrumental. A modernidade negou a afirmativa de que, “só o transcendente dá sentido pleno ao imanente” e, isso explica a procura do Sagrado na Contemporaneidade.
Procura do sagrado, anunciado profeticamente, pelo pensador Nikolai Berdiaev, em 1924, no livro ‘Uma Nova Idade Média’: “À hora do crepúsculo, à hora do poente, todas as formas perdem a nitidez dos seus contornos; o homem se volta para o mistério da vida, põe-se diante de Deus; penetra numa atmosfera universalista e cósmica.”
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje