A Brevidade da Vida
Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais
O filósofo e estadista Lúcio Aneu Sêneca, que nasceu em Córdoba, Espanha, em 4 a.C., e faleceu em Roma, em 65 d.C., escreveu notável livro: “A Brevidade da Vida”. Para o filósofo, a queixa sobre o lapso tão breve de nossa existência é uma falácia, pois, não dispomos de pouco tempo, mas o desperdiçamos. Sêneca aponta que a vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade.
Segundo ele, a vida pode ser breve, mas o que a prolonga é a arte do seu uso. Conseguir superar o paradoxo de ter uma vida boa na transitoriedade é nosso maior desafio. Afirma o filósofo: “nenhuma ciência é mais difícil do que a do bem viver”. Podemos considerar que na sociedade do Cansaço (expressão do filósofo Byng-Chul Han), praticar a arte de uma vida bem utilizada é o que menos se busca.
Acostumamos queixar da natureza, recentemente até dos morcegos, citados como possíveis transmissores do vírus da COVID 19. A esse tipo de queixa, Sêneca escreve: “Por que queixarmos da natureza? Ela agiu benignamente. A vida, desde que saibas como usá-la, é longa”.
Não precisamos fazer esforço para perceber que toda essa tragédia que estamos passando não é de responsabilidade da natureza, mas, sim, da ação dos homens. Como afirma o próprio Sêneca: “Vossa vida, ainda que ultrapasse mil anos, ficará retida num curto espaço. Os vossos vícios engolem os séculos”.
Para os que persistem em se queixar da sorte, Sêneca lança uma espécie de desafio - “depende de nossa vontade renascer para nós mesmos”. Segundo ele, nenhum dano pode ser causado àquele que se consagrou à sabedoria, pois isso o isenta das contingências e vicissitudes da condição humana.
Para Sêneca, é evidente que os sábios também enfrentam o mistério da morte, porém, mesmo não conhecendo a doutrina que seria sistematizada pelos chamados Padres da Igreja Primitiva, tem os olhos elevados, “A morte apenas abre as portas da eternidade junto dos deuses”. Corrobora, assim, com a sapiência de que é a transcendência que dá sentido pleno ao imanente.
Com refinado conhecimento da alma humana registra: “Perdem o dia na expectativa da noite e perdem a noite com medo do dia”. Provocação que nos faz refletir, apesar de todo desenvolvimento continuamos iguais em nossa essência, marcada pelos excessos de compromissos: “Miserável é a condição de vida dos atarefados”.
Sêneca propõe somarmos as horas que jogamos fora fazendo coisas inúteis ou se envolvendo em brigas desnecessárias, para percebermos quanto tempo perdemos, abdicando de uma vida plena cheia de realizações. O problema como aponta é que as pessoas são dominadas pela paixão de aprender coisas inúteis. Fico a pensar no tempo perdido nas redes sociais!
Esclarece que ninguém permite que sua propriedade seja invadida, no entanto, muitos permitem que outros invadam suas vidas e a distribuem entre muitos. Senêca sentencia: “Jamais vamos recuperar o tempo perdido”. Por isso, a necessidade de nos dedicarmos àquilo que faz sentido em nossas vidas, pois, como escreve: “não digas que fulano viveu muito porque tem cabelos brancos e rugas. Ele não viveu muito. Apenas durou bastante”.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje