Sociedade do Cansaço
Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais
O livro Sociedade do Cansaço do filosofo sul coreano Byung-Chul Han é leitura obrigatória, para compreender a sociedade atual, os avanços tecnológicos em seus desdobramentos existenciais.
Conhecedor da análise social do filosofo francês Michel Foucault, que descreveu a sociedade disciplinar, feita de hospitais, asilos, presídios, quartéis e fábricas, Byung-Chul Han propõe nova referência para o entendimento da atual realidade social. Classifica como sendo a sociedade de desempenho.
O que seria a sociedade de desempenho? Quais suas diferenças em relação a sociedade disciplinar? Quais seus efeitos na convivência dos seres humanos, nesse início do séc. XXI?
Para o filosofo sul coreano a sociedade do desempenho se caracteriza pelo excesso de positividade, substitui a proibição, lei, por projetos, iniciativas e motivação, proporcionando a sensação de poder ilimitado. Ao contrário da sociedade disciplinar, “dominada pelo não em sua negatividade”, tendo como efeito colateral, sujeitos loucos e delinquentes. A sociedade do desempenho em seu compromisso com o sucesso, tem como efeito colateral, sujeitos depressivos e fracassados, por não atingirem seus objetivos de autopromoção.
A sociedade do desempenho para Byung-Chul Han, no contexto neoliberal tem como eixo a difusão da liberdade, em não submeter a pessoa em nenhum trabalho compulsório, onde o ideal a ser buscado é o empreendedorismo. A questão colocada é que a coação própria gerada é muito mais eficaz do que a coação alheia; “onde não é possível haver nenhuma resistência, levante ou revolução”.
No livro encontramos a afirmativa ontológica, “O sujeito de desempenho encontra-se em guerra consigo mesmo”, cria-se assim uma contradição na propalada liberdade, pois somos agora livres para a autoexploração. Segundo Han, “hoje edifício de trabalho e sala de estar estão todos misturados” e conclui “Com isso torna-se possível haver trabalho em qualquer lugar e qualquer hora”.
Afirma ainda que em decorrência das chamadas liberdades das habilidades gerarem mais coações do que o dever disciplinar, surge sintomas de doenças neurais, como depressão, burnout, déficit de atenção ou síndrome de hiperatividade. Todas sendo consequências do excesso de positividade, pois segundo ele, “absolutiza o sadio, destrói precisamente o belo”.
Descreve a vida se transformando num acelerado sobreviver. Conforme o autor o problema é que; "a vida enquanto um sobreviver acaba levando à histeria da saúde”. O conjunto dessa realidade gera um cansaço, esgotamento; “o excesso da elevação do desempenho leva a um infarto da alma”. Resta as pessoas, expressarem sua raiva e frustrações no mundo virtual, pobre em alteridade.
Podemos citar as sabias palavras de Sêneca em sua obra A Brevidade da Vida, quando afirma, “Perdem o dia na expectativa da noite e perdem a noite com medo do dia”. Provocação que nos faz refletir, pois apesar de todo desenvolvimento tecnológico, o livro Sociedade do Cansaço ressalta que hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é realização.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje