Postado em sexta-feira, 24 de maio de 2019
às 10:10
95% das pesquisas no Brasil são produzidas pelas universidades, diz reitor da Unifal
O dado, que demonstra a importância das universidades públicas para a pesquisa, foi informado pelo reitor da Unifal, Sandro Cerveira, durante audiência pública.
Alessandro Emergente
Alvo de bloqueio de recursos e de fortes críticas do presidente da República Jair Bolsonaro, as universidades públicas são responsáveis por 95% das pesquisas científicas produzidas no Brasil. A informação é do reitor da Unifal (Universidade Federal de Alfenas), Sandro Cerveira, durante audiência pública realizada, pela Câmara Municipal de Alfenas, na noite de quinta-feira.
A reunião pública foi convocada pelo vereador Waldemilsson Bassoto (Padre Waldemilson/Pros) para discutir os impactos do contingenciamento (termo técnico para bloqueio) no orçamento da Unifal em Alfenas. O bloqueio, que deverá ser efetivado em cortes de recursos na prática, já chega a R$ 11 milhões no caso da Unifal e já provocou a demissão de 89 trabalhadores terceirizados e provocará a redução de atendimentos à comunidade, produção científica e assistência estudantil. Uma manifestação foi realizada na semana passada em protesto ao bloqueio de verbas orçamentárias e aos ataques às universidades públicas.
Segundo o reitor, as universidades são responsáveis por praticamente toda a ciência produzida no Brasil, sendo que apenas os 5% restante das pesquisas são oriundas de instituições privadas. Nesses casos, no entanto, muitas pesquisas são financiadas a partir de renúncia fiscal. Ou seja, com dinheiro público.
Uma das principais preocupações é com relação às pesquisas que não possuem aplicação imediata, mas servem de base para descobertas e aplicações futuras. “Se não tivermos espaço para a pesquisa livre, para a pesquisa aberta em todas as áreas do conhecimento, não existirá pesquisa aplicada”, comentou o reitor ao se referir as tecnologias atuais que foram desenvolvidas a partir de descobertas científicas passadas motivadas pelo simples interesse pelo conhecimento.
O governo já sinalizou o interesse em vincular as pesquisas científicas das universidades aos interesses da iniciativa privada numa perspectiva de aplicação imediata, dentro da lógica comercial. A medida é vista com preocupação pela comunidade acadêmica ao excluir possibilidades de descobertas científicas que não atendem ao mercado capitalista.
Inclusão social
Uma outra observação feita pelo reitor é da necessidade de serem dados “alguns passos para trás” e relembrar as discussões, realizadas desde o século XII no Ocidente, sobre a função das universidades públicas.
Cerveira lembrou que as universidades públicas contemporâneas têm cumprindo vários papeis na sociedade, entre eles o de possibilitar que “pessoas, historicamente excluídas do poder econômico e dos espaços de poder, possam mostrar o seu potencial e servirem a sua comunidade e o seu país de forma transformadora”.
Durante a audiência pública, o pró-reitor de Assuntos Comunitários e Estudantis, Wellington Ferreira Lima, havia traçado o perfil socioeconômico dos estudantes da Unifal em Alfenas. Segundo ele, 87% dos que ingressaram na universidade em 2018 são oriundos das classes D e E.
Os dados mostram que o percentual está abaixo da média nacional das universidades públicas, que é de 65%. A metodologia usada como parâmetro foi a do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). “Não é verdade que quem estuda na universidade pode pagar por ela”, disse em contraposição ao discurso neoliberal de redução de investimento estatal na educação.
A audiência pública foi presidida pelo Padre Waldemilson e contou com lideranças políticas como o prefeito Luiz Antônio da Silva (Luizinho/PT), o deputado estadual Cleiton de Oliveira (Professor Cleiton/DC) e o vereador João Carlos Tercetti (PRP). O deputado chegou a refutar o termo técnico de “contingenciamento” por na prática se transformar em “corte orçamentária”.
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