Postado em quarta-feira, 22 de março de 2017 às 14:08

Só consumo interno salva indústria da carne em Minas

Segundo o secretário de Agricultura, uma reunião foi realizada nesta semana com representantes da Fiemg e da FAEMG para criar estratégias que possam minimizar os impactos. Ele não detalhou o que será feito.


Representantes da indústria e do agronegócio mineiros estudam estratégias para minimizar os impactos da Operação Carne Fraca na economia estadual. Segundo o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Pedro Leitão, a intenção é garantir a boa imagem da carne produzida no Estado no mercado interno, que responde por 80% do consumo do alimento. A preocupação é que haja um freio na compra de carne em Minas, fazendo com que a economia estadual desande.

“Estamos em contato com o Ministério da Agricultura dando apoio na retomada das exportações, mas nosso foco agora é o mercado interno”, ressalta. O governo federal mobilizou o Itamaraty para convencer os principais parceiros comerciais do país de que a carne nacional é segura. Hoje, representantes do Planalto vão à OMC (Organização Mundial do Comércio) para esclarecer a crise e conter embargos. Será feita uma apresentação mostrando que a atuação da PF (Polícia Federal) tem como foco a corrupção e não a qualidade da carne. Além disso, um documento será enviado a 165 países na tentativa de evitar novas barreiras.

Reunião

Segundo o secretário de Agricultura, uma reunião foi realizada nesta semana com representantes da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) e da FAEMG para criar estratégias que possam minimizar os impactos. Ele não detalhou o que será feito.

“Temos que situar o consumidor. Não há denúncia de alteração de carne em Minas”, ressaltou. Ele destacou, ainda, que Minas Gerais possui um órgão de fiscalização com laboratório próprio, o IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária), onde são realizados testes que asseguram a qualidade da carne produzida em solo mineiro. “Além disso, recebemos missões internacionais que validam a qualidade do nosso produto”, afirmou.

Hashtag

O presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Carne e Derivados de Minas Gerais (Sinduscarne), Leônidas Maciel, está em contato direto com uma equipe da Fiemg para reduzir os “estragos” feitos pela Operação Carne Fraca no setor. A primeira ação do grupo de gestão de crise foi aderir à campanha #CarneForte. O objetivo é defender o produto nacional. As entidades também lançaram um carta aberta em que rechaçam a generalização das informações.

O presidente da Faemg, Roberto Simões, também mobiliza o setor para resgatar a imagem da carne mineira lá fora. Na semana que vem, ele irá a Brasília participar de uma reunião com o presidente Michel Temer. Na pauta, o escândalo da carne nacional. “Esse problema tem que ser resolvido o mais rápido possível. Os envolvidos têm que ser punidos com rigor. Mas a forma como a operação foi anunciada, com estardalhaço, afundou o setor inteiro em um copo d’água”, alertou. Assim como o secretário de Agricultura, ele diz não ser capaz de estimar quanto tempo a crise irá durar. No entanto, espera que os entraves sejam passageiros.

Estrago enorme

Para o professor de Comércio Internacional do Ibmec/MG, Cláudio Aguiar, será preciso um trabalho enorme para consertar o estrago feito com a divulgação da PF de que frigoríficos comercializavam até carne podre.

“Para um país construir a credibilidade demora anos. Mas para destruir leva apenas um minuto. Tanto o governo quanto as empresas terão que investir pesado para resgatar a confiabilidade do mercado externo e das próprias pessoas”, diz

Segundo ele, um dos caminhos nesse sentido pode ser a visita a países importadores da carne brasileira para mostrar que o problema foi pontual.

“O Brasil precisa provar que as irregularidades já passaram. Que foi uma exceção, e não a regra. É necessário mostrar que há um controle rígido sobre a produção. E, se for o caso, ir até a OMC como reação ao veto dos importadores”, afirma.

Conforme mostrou o Hoje em Dia, até a última segunda, as exportações de Minas para os países que suspenderam a compra do produto nacional somavam US$ 208,8 milhões, quase 30% do que é comercializado para o estrangeiro. Os países que embargavam o produto nacional eram China, Chile e Egito, que não compra o produto de Minas, além da União Europeia. Ontem, Suíça, Japão e Jamaica engrossaram a lista de embargos.

Após Carne Fraca, deputados da UE tentam frear acordo com Mercosul

Deputados europeus pressionam a Comissão Europeia para que freie as negociações com o Mercosul diante da fraude na carne brasileira, enquanto autoridades veterinárias de Bruxelas criticam de forma dura a gestão do governo de Michel Temer em relação à crise e fazem até novas ameaças.

A Agência Estado apurou que a Comissão Europeia se reuniu com deputados do bloco e indicou que pode ampliar o embargo contra produtos brasileiros se constatar irregularidades em novos testes que irá realizar. Em todos os portos do continente, autoridades estão colhendo amostras de carnes brasileiras e outros produtos que estejam entrando no mercado europeu. Se ficar provado que existem problemas de saúde nesses carregamentos, a UE deixou claro que "não hesitará em tomar novas medidas". Na próxima semana, conforme a Agência Estado já havia revelado, o comissário de Saúde do bloco Vytenis Andriukaiti estará no Brasil para tratar da crise.

"Se o Brasil não nos der garantias e se vermos que o problema é sistêmico, haverá consequência", disse Michael Scannell, chefe do escritório de Veterinária da Comissão Europeia. Segundo ele, Bruxelas pediu que todos os governos do bloco elevassem os controles sobre alimentos de origem animal importados do Brasil. "Pedimos maiores controles físicos e a inclusão de controles de higiene", disse, indicando que um primeiro resultado desse esforço será conhecido na sexta-feira.

Governo mobiliza diplomacia para frear suspensão de carne brasileira


A pedido da Europa, o Brasil suspendeu as exportações de quatro estabelecimentos envolvidos na Operação Carne Fraca. Mas, durante a reunião em Bruxelas, Scannell admitiu que, no passado, "fez auditorias no Brasil e encontrou problemas". "No setor de carnes, continuamente temos alertado sobre problemas ao longo de anos", disse.

No setor bovino, apenas "um número pequeno de estabelecimentos" pode exportar hoje. No caso da carne suína, o chefe dos veterinários insiste que o Brasil "fracassou nas auditorias" e nenhum grama de carne entra. Mesmo entre as empresas brasileiras autorizadas a exportar, a UE confirmou que registrou ao longo dos anos 47 casos de irregularidades.

"Insistimos que temos preocupações de que tal grau de corrupção dentro dos estabelecimentos e das agências de controle não tenha sido de conhecimento das autoridades", disse. Esperávamos, francamente, que esses problemas tivessem sido detectados e que algo sério estivesse ocorrendo, sem ter de esperar pela polícia", afirmou Scannell.

Tradicionalmente contrários a um acordo com o Mercosul, o lobby agrícola no Parlamento Europeu aproveitou a crise para deixar claro que não quer um acordo com o Brasil. "Temos um problema muito grave no Brasil", declarou o eurodeputado e ex-ativista francês José Bové. "Se a fraude ocorreu em quatro estabelecimentos, tem uma falha de um sistema global de controle de fraude", disse. "Não são apenas as quatro empresas que estão em questão. É o Brasil que está em xeque", atacou.

Bové pediu formalmente para que a Europa reveja todo o sistema de avaliação das condições de exportação do Brasil. "Todo o sistema é que está sendo questionado. Podemos levar um ou dois anos para restabelecer. Mas como é que podemos negociar com um parceiro quando vemos que ele está colocando a mão no bolso?", atacou.

"Não podemos fazer concessões a quem tentou enganar", disse o deputado Eric Andrieu. "Temos de ser cautelosos com acordos. Quando é que vão anunciar o fim das negociações?", questionou o também deputado Philippe Loiseau. "Depois do que descobrimos, por que ainda estamos negociando um acordo com eles?", criticou o deputado Luke Flanagan.

Para o eurodeputado John Agnew, existe "uma cultura da propina no Brasil". "Se vamos continuar a importar do Brasil, a única forma é enviar nossos inspetores lá", defendeu. "Onde existe uma suspeita sobre um produto, existe sobre todos", disse a deputada Mairead McGuinness.

Paolo De Castro, deputado italiano, qualificou o caso como um "escândalo muito sério" e exigiu que os padrões europeus sejam impostos ao Brasil se o país quer vender para o mercado europeu. "É um escândalo grave que desestabiliza o consumidor", disse o deputado Michel Dantin. "Os autores precisam ser condenados na Europa como no Brasil", disse.

Críticas

Ao explicar aos deputados o que ocorria no Brasil, os negociadores abandonaram a diplomacia. "Ficamos sabendo pela imprensa", lamentou Scannell. "Deixamos claro para o Brasil que era inaceitável que tivéssemos tido conhecimento do escândalo pela imprensa e que não tivemos contatos oficiais", afirmou.

De acordo com ele, uma primeira comunicação de Bruxelas foi enviada ao governo ainda na sexta-feira, pedindo esclarecimentos e exigindo "medidas decisivas". Nos dias que se seguiram, houve um "contato diplomático intenso" com o Brasil e até um encontro de Temer com embaixadores.

"Na segunda-feira, examinamos a resposta do Brasil a nossas preocupações iniciais e o encontro com o presidente. Não ficamos felizes com as respostas e escrevemos imediatamente pedindo mais informações", explicou Scannell. "Nossa preocupação mais imediata era sobre os estabelecimentos implicados", disse. "Insistimos para que as autoridades brasileiras retirassem da lista de exportadores esses estabelecimentos imediatamente", contou.

Desde segunda-feira, negociadores sul-americanos e europeus estão reunidos na Argentina para debater como garantir um acordo entre os dois blocos até o final do ano. Fontes europeias em Buenos Aires confirmaram à Agência Estado por telefone que, apesar do escândalo e da suspensão da carne por parte de Bruxelas, o ritmo das negociações não foi alterado. No começo da semana, o porta-voz da Comissão Europeia para comércio, Daniel Rosário, garantiu que o caso da carne não afetaria as negociações com o Mercosul.

Faemg


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