Postado em quinta-feira, 4 de julho de 2013 às 19:56

Municípios impactados por hidrelétricas querem mais recursos

Os municípios inundados pelas usinas hidrelétricas querem receber 65% dos royalties como forma de compensação pelos impactos ambientais, econômicos e sociais. A reivindicação foi feita em audiência pública realizada em Alfenas.


Da Redação

Os municípios inundados pela operação de usinas hidrelétricas querem receber 65% dos royalties pagos pelas empresas (20% a mais do que recebem hoje), como forma de compensação pelos impactos ambientais, econômicos e sociais sofridos pela população.

A proposta está em um projeto de lei, apresentado pelo deputado estadual Pompilio Canavez (PT), que tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A proposição, apresentada em 2011, determina que quase a metade dos royalties (compensação financeira pela utilização dos recursos hídricos) do Estado seja redistribuída entre os municípios, que tiveram suas áreas alagadas pelas represas mineiras.

Pelas regras propostas, dos 45% que ficam com o Estado, 44,4% seriam transferidos diretamente para as contas das prefeituras. Os municípios ficam atualmente com 45% de todo montante reservado para os royalties e, com o projeto, passaria para 65%. A distribuição atual é a seguinte: Estado (45%), municípios (45%) e União (10%).

A defesa na mudança na distribuição dos royalties foi feita pelo prefeito Maurílio Peloso (PDT) durante a audiência pública realizada pela ALMG na manhã de quinta-feira em Alfenas. A audiência foi conduzida por Pompilio, que solicitou o encontro.

A audiência pública

A audiência pública faz parte de um ciclo de encontros regionais da Comissão Extraordinária das Águas, da qual Pompilio é um dos integrantes – o deputado Almir Paraca (PT) preside a Comissão e estava presente a reunião. O objetivo é conhecer as demandas e colher sugestões para o desenvolvimento do trabalho da comissão que tem duração de dois anos.

Fotos: Ricardo Barbosa/ALMG 

O público lotou a Câmara Municipal de Alfenas durante a audiência pública
realizada pela Comissão Extraordinária das Águas

Na opinião do prefeito de Alfenas, em razão dos prejuízos diretos sofridos pela população dos municípios impactados, o Estado deveria reduzir em 20% a sua compensação financeira, repassando esse percentual aos municípios. 

Outra reivindicação apresentada foi a criação de mecanismos no Governo do Estado capazes de facilitar o acesso dos Comitês de Bacias Hidrográficas ao Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado (Fhidro). 

O objetivo seria o de dar suporte financeiro a programas e projetos que promovam a racionalização do uso e a melhoria dos recursos hídricos quanto aos aspectos quantitativos e qualitativos.

Queda no reservatório

Pompilio manifestou preocupação com a queda do volume de água no Lago de Furnas. Segundo ele, em janeiro do ano passado, o volume de águas em Furnas era de 94% e, em dezembro, baixou para 11%, causando grandes prejuízos econômicos, sociais e ambientais para a região.

As dependências da Câmara Municipal de Alfenas ficaram lotadas durante a audiência pública presidida pelo deputado estadual Pompilio Canavez (PT) 

O deputado recorreu ao escritor Guimarães Rosa, lembrando que Minas é a “caixa d’ água do Brasil”, já que alguns dos principais rios de importância estratégica para a economia no Brasil nascem no Estado. 

O parlamentar lembrou, também, que a Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que “em 2025 o mundo viverá uma crise de falta de água tremenda”. “Se o Rio de Janeiro briga pelos royalties do petróleo, por que nós, que temos que preservar os rios para outros estados usarem, não valorizamos nosso potencial hídrico?”, indagou.

Sazonalidade

O representante de Furnas Centrais Elétricas, Emilio Piantino, disse que a empresa sofre com a sazonalidade e apontou o volume de água dos reservatórios em 2013 como um dos três piores desde a criação da hidrelétrica, há 50 anos. 

 O engenheiro Vinícius Forain da Rocha, representante da ONS, explicou 
que o órgão foi criado na década de 90

O gerente de recursos hídricos e meteorologia do Operador Nacional do Sistema (ONS), engenheiro Vinícius Forain da Rocha, explicou que o sistema hidrelétrico responde por 98% da geração e transmissão de energia elétrica no País.

O engenheiro explicou, também, que 70% do armazenamento de água brasileiro estão no Sudeste, e Furnas representa 17,5% do armazenamento de água da região.

Crítica ao ONS

Em nome dos 52 municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Entorno do Lago de Furnas e de mais de 1,2 milhão de habitantes da região, a Associação dos Municípios do Lago de Furnas (Alago) entregou ao representante do ONS documento em que manifesta a sua preocupação com “o abrupto deplecionamento do Lago de Furnas, maior reservatório do sistema hidroelétrico do Rio Grande”, com área superior a 1,4 mil quilômetros quadrados.

Segundo o documento, o “rebaixamento expressivo” do nível das águas afeta diretamente mais de um milhão de pessoas, com prejuízos para atividades diversas, como navegação, agricultura irrigada, pecuária, piscicultura, esportes e turismo em geral. 

Acima, os deputados estaduais Almir Paraca (PT) e Pompilio Canavez (PT) e o prefeito Maurílio Peloso (PDT) durante audiência pública da Assembleia Legislativa realizada na Câmara Municipal

 Os associados da Alago reivindicam participação nas decisões do ONS, considerando as determinações da Lei Federal 9.433/97, que assegura o uso múltiplo das águas, “de forma que todos os usuários tenham garantidos os seus direitos legais”.

O presidente do Comitê de Bacia do Entorno do Lago de Furnas e secretário executivo da Alago, Fausto Costa, disse que pediu ao ONS a participação dos comitês de bacias nos órgãos legalmente constituídos, para que as comunidades possam se planejar e não serem pegas de surpresa com a queda dos níveis de água nos reservatórios.

Segundo Pompilio, uma emenda de sua autoria ao Código Florestal do Estado regulamenta a participação da sociedade civil organizada na tomada de decisões sobre a gestão das águas. A emenda tramita na Assembleia Legislativa.

A ONS também recebeu duras críticas do presidente do Comitê de Bacia Hidrelétrica do Rio Grande, Alexandre Augusto Moreira Santos. Ele alegou que o órgão se preocupa muito com a gestão da energia, esquecendo-se do fator humano.

Para ele, é fundamental avançar no diálogo com o ONS. Ele defendeu um novo modelo de regularização do reservatório e frisou que o interesse local não pode ser ignorado em razão do nacional.



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