Postado em quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Deputados de “esquerda” sofrem menos interferência religiosa

Os deputados que se dizem de “esquerda” são menos influenciados pela filiação religiosa.


Alessandro Emergente

Os deputados que se dizem de “esquerda” e os que são fiéis as suas siglas partidárias (independente da ideologia) são menos influenciados pela filiação religiosa ao se posicionarem em relação a temas polêmicos. A revelação foi feita em uma pesquisa desenvolvida pelo professor de Ciência Política da Unifal (Universidade Federal de Alfenas), Sandro Cerveira.

O resultado do levantamento, feito com deputados estaduais de 12 estados localizados nas diferentes regiões do País, foi apresentado em uma palestra na Câmara Municipal de Alfenas na noite de terça-feira. A palestra foi promovida pela Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres.

A pesquisa revela se a filiação religiosa dos deputados estaduais tem influência na hora do voto em temas polêmico como aborto, eutanásia, experiências com células-tronco, descriminalização das drogas e união civil entre pessoas do mesmo sexo. É o chamado “grau de secularização”.

Índice de Secularização

Com os dados levantados, Cerveira procurou um índice de secularização. Quanto maior este índice, menor a influência da posição religiosa na hora da decisão dos parlamentares.

O índice de partidarismo - ou seja deputados que permanecem por mais tempo nas legendas evitando a troca de partidos – coloca os parlamentares fiéis às legendas com um grau de secularização maior. Deputados que vivem trocando de partidos sofrem maior influência das doutrinas religiosas seguidas por eles.

Fotos: Alessandro Emergente

A palestra apresentada pelo cientista político Sandro Cerveira foi na Câmara Municipal 

Outro dado é que deputados que se declaram de “direita” ou de “centro” sofrem um grau de secularização menor. Ou seja, estes deputados sofrem maior de influência das religiões do que deputados que se dizem de “esquerda” e que são mais secularizados.

Perfil sócio-demográfico

A pesquisa derruba a tese do conceituado sociólogo Carlos Alberto de Almeida que é autor do livro “A Cabeça do Brasileiro”. Na obra, Almeida explica posições conservadoras do brasileiro de acordo com fatores como idade mais avançada, baixa escolaridade e posições geográficas – moradores do Nordeste seriam mais conservadores e menos secularizados.

No entanto, ao cruzar os dados, Cerveira constatou que nenhum destes fatores influenciou no grau de secularização das pessoas. Ele verificou os fatores sexo, idades, religião, renda comparada e escolaridade e ao comparar o valor de correlação com o “índice de secularização” chegou a um novo índice que afastou a possibilidade de explicar o conservadorismo por estas variáveis.

Deputados com fidelidade partidárias apresentam Índice de secularização maior, diz pesquisador 

A única variável que teve um índice mais próximo de explicar o grau de secularização foi a escolaridade, mas mesmo assim não foi suficiente para atribuir a ela um grau de secularização.

Entre os deputados pesquisados, 45,9% se apresentaram como católicos praticantes; 30,9% são católicos não-praticantes; 11,9% são evangélicos; 2,7% são espíritas e 8,6% se declararam “sem religião”.

Tese

A pesquisa fundamentou a tese de doutorado de Cerveira e foi apresentada este ano na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Foram ouvidos os deputados estaduais da legislatura passada dos seguintes estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Bahia, Pernambuco, Ceará, Tocantins e Pará.

O objetivo é fazer novas rodadas de levantamentos de dados a cada legislatura para no futuro fazer o cruzamento destas informações.



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