Postado em quarta-feira, 31 de janeiro de 2024
às 11:11
Pessoas de baixa renda têm menos acesso às atividades de cultura no Sul de Minas
Nos últimos 5 anos, mais ricos detêm maior presença em eventos culturais na região, de acordo com pesquisa da Unifal.
O acesso a espaços culturais é desigual. Habitantes de baixa renda frequentaram menos teatros, exposições de arte, shows e outros eventos culturais. É o que revela uma pesquisa divulgada pelo projeto de extensão “A Imaginação Sociológica e o Sul de Minas”, do curso de Ciências Sociais da Unifal (Universidade Federal de Alfenas).
Considera-se que o contato com atividades culturais é crucial para o desenvolvimento crítico dos indivíduos, enriquecendo suas perspectivas e diminuindo preconceitos. No entanto, no quesito do acesso cultural, os dados demonstraram pouca frequência cultural em geral na região. Nota-se que a baixa atividade cultural (coluna vermelha) se destaca em todos os casos. Mesmo assim, se verificarmos a questão da renda, ela se revela como um fator determinante para o acesso cultural, e escancara a desigualdade. Habitantes com maior renda têm mais oportunidades de participar desses eventos, enquanto aqueles com a menor renda enfrentam obstáculos para estarem presentes.
Em Alfenas e municípios vizinhos, como Varginha e Poços de Caldas, a desigualdade persiste. A pesquisa revelou que os indivíduos de menor renda são os menos presentes nos espaços culturais. Por exemplo, apenas 21% dos habitantes de Alfenas com renda inferior a 2 salários-mínimos frequentaram shows e concertos nos últimos 5 anos, em comparação com mais de 60% daqueles com renda acima de 10 salários-mínimos.
Exposições de arte também apresentam disparidades semelhantes. Quase 5% dos alfenenses de menor renda visitaram exposições nos últimos 5 anos, contrastando com a porcentagem significativamente maior dos indivíduos de renda mais alta, atingindo quase 17%. No entanto, como já citado, a visita a exposições nos últimos cinco anos se mantém baixa em todas as faixas de renda.
Uma das possíveis causas para que esses números estejam desiguais talvez sejam os últimos anos de quarentena. A pandemia da Covid-19 pode ter se tornado um fator predominante na inibição da presença desses grupos em eventos culturais. Num período de dois anos, os eventos foram paralisados e impossibilitados em todo o mundo, fazendo com que o acesso a esse tipo de atividade e entretenimento se tornasse impossível de acontecer, pelo alto índice de contaminação que poderia oferecer.
Um último ponto, para exercitarmos nossa imaginação sociológica: o que é atividade cultural de fato? Para que fosse possível construir os gráficos, consideramos atividade cultural somente aquelas práticas envolvidas nas poucas perguntas que a pesquisa possuía sobre isso, ou seja, shows e concertos, exposições artísticas, monumentos históricos, espetáculos, parques e praças. Mas será que isso é suficiente para dizer que o Sul de Minas tem ou não cultura? Um churrasco ao fim de semana, ouvindo música junto de sua família, fazer uma receita passada de geração em geração, ou até mesmo sentar na calçada e colocar a conversa em dia com os vizinhos possuem valores completamente únicos para os envolvidos, e, no entanto, não são conquistados em espaços tradicionalmente entendidos como espaços culturais, ainda que possam ser considerados pelos seus participantes como extremamente valiosos.
Os dados analisados são da Pesquisa Identidade Sul-mineira, realizada pela Unifal, que entrevistou 1.320 moradores em 20 municípios do Sul de Minas entre os dias 14 de maio e 11 de junho de 2022. O Sul de Minas é entendido como um conjunto de 162 municípios que fazem parte das regiões intermediárias de Pouso Alegre e Varginha.
Para saber mais sobre esta importante pesquisa visite o site da Unifal. [Basta clicar aqui]
Essa matéria foi elaborada por Bruno José Samonetto e João Pedro da Silva, estudantes do curso de Ciências Sociais - Bacharelado, sob a supervisão dos professores Marcelo Conceição e Luís Groppo. Os estudos são desenvolvidos no projeto de extensão “A imaginação sociológica e o sul de Minas” em parceria com o Alfenas Hoje.
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