Postado em quarta-feira, 25 de maio de 2022 às 11:46

Nômade digital: Quanto é preciso para viver viajando?

Antes de tudo, é necessário um preparo financeiro para não passar dificuldades


 O conceito de nômade digital surgiu com a consolidação da internet, mas se popularizou após a pandemia devido ao home office impulsionado pelas medidas de isolamento social. O trabalho remoto pode ser desenvolvido de qualquer lugar do mundo, desde que haja conexão com a internet.

O estilo de vida de trabalhar sem residência fixa é adotado por cerca de 35 milhões de pessoas, mas esse número deve chegar até 1 bilhão em 2035, segundo projeção do site Nomad List. O avanço das tecnologias de comunicação e a mudança de cultura são os principais motivos que devem impulsionar o crescimento.

Mais da metade dos nômades digitais trabalha com marketing digital, ciência da computação e indústrias criativas de acordo com a Instant Offices. Contudo, o perfil desses profissionais está mudando. Algumas empresas, inclusive no Brasil, incentivam o nomadismo digital entre os funcionários.

“Trabalho em uma empresa que apoia meu estilo de vida”, afirmou o administrador Vinicius Tolentino. Ele é diretor de Operações e Inovações da ImpulsoBeta e liderou a transição da companhia para o trabalho totalmente remoto em 2021.

Porém, a sua experiência como nômade digital vem desde 2019, quando era funcionário de uma empresa nos Estados Unidos.

Como se tornar um nômade digital?

Gostar de viajar é um dos pré-requisitos para adotar o estilo de vida, mas não é o único. Antes de tudo, é necessário um preparo financeiro para não passar dificuldades durante as viagens.

“O principal risco é a perda do fluxo mensal de renda”, comentou Rafael Guedes, assessor da Miura Investimentos. A primeira lição, portanto, é ter uma reserva de emergência que cubra, pelo menos, seis meses de gastos.

O casal Hugo Medeiros e Priscila Somera começou a se preparar em 2015, mas só virou nômade digital em maio de 2021. “Temos o costume de guardar dinheiro para viajar e, a partir do momento em que decidimos seguir como nômades digitais, começamos a direcionar parte desse dinheiro para fazer uma reserva de emergência”, afirma Somera.

Os dois têm trabalho fixo e atuam de maneira remota. Ele é advogado especializado no atendimento de empreendedores digitais, enquanto ela é analista de processos judiciais. A renda familiar é complementada com o canal do YouTube Mundo ao Vivo, no qual mostram os locais por onde passam.

De quanto dinheiro eu preciso para viver viajando?
O valor gasto para viajar e trabalhar depende do estilo de vida do nômade digital. Alguns viajam apenas de carona e ficam de graça na casa de outras pessoas, enquanto outros fazem parcerias milionárias e ficam em hotéis de luxo. O custo para viver de modo independente e com conforto, mas sem grandes luxos, fica entre R$ 3 mil e R$ 8 mil por pessoa no Brasil.

No exterior, o valor varia muito, conforme a realidade de cada país. Nos destinos mais baratos, como o Sudeste Asiático ou América Latina, US$ 1 mil (cerca de R$ 5 mil) podem ser suficientes. Já na Europa ou nos Estados Unidos, o custo mensal do nômade digital pode chegar a US$ 5 mil (R$ 25 mil) em grandes cidades como Nova York e Londres.

Os principais gastos são com hospedagem e alimentação. “A hospedagem é a mais custosa, principalmente porque, como pessoas que trabalham on-line e que literalmente vivem viajando, precisamos ficar em lugares que ofereçam boa internet”, diz Somera.

No entanto, algumas vezes o nômade digital pode gastar menos com moradia em comparação com quem tem residência fixa. “Durante a baixa temporada, morei em diversos locais de Florianópolis, com todos os custos com impostos e serviços inclusos no aluguel, e acabei gastando menos do que quando residia em um lugar na mesma cidade”, afirmou Tolentino.

Estratégias financeiras

O controle orçamentário é a “chave do sucesso” para os nômades digitais. “Não gastar mais do que ganha é fundamental”, aconselhou Eduardo Edart, especialista em finanças e consultor na Viacredi. Por isso, é importante ter uma previsão de valores a receber para pagar todas essas despesas necessárias.

O planejamento financeiro é imprescindível para reduzir custos. As principais estratégias envolvem negociar o valor da hospedagem em longos períodos e procurar promoções de passagens aéreas com antecedência. Além disso, cozinhar a maior parte das refeições em vez de comer em restaurantes ajuda a diminuir os gastos.

Os investimentos financeiros também podem ter um papel relevante para garantir a estabilidade financeira do nômade digital. As aplicações em renda fixa — como Certificado de Depósito Bancário (CDB), Letra de Crédito Imobiliário (LCI), Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e títulos públicos — são ideais para constituir uma reserva de emergência. Atualmente, esses investimentos mais conservadores têm uma rentabilidade atrativa por conta da alta da taxa do Sistema Especial de Liquidação de Custódia (Selic).

Depois de feita a reserva, outros ativos podem complementar a renda mensal. “Fundos imobiliários pagam mensalmente uma rentabilidade e permitem criar um fluxo financeiro”, disse Guedes. Esse tipo de aplicação é vantajoso porque é isento de imposto de renda e ainda conta com profissionais especializados para administrar os imóveis.

Como se proteger de variações cambiais?
Caso já tenha os destinos programados, o nômade digital deve ficar atento às mudanças cambiais e aproveitá-las quando tiver oportunidade. “A única forma de não sofrer uma perda maior é planejar e comprar a moeda desejada aos poucos, gerando um valor médio no total”, complementou Edart.

O cartão de crédito internacional deve ser utilizado em último caso, uma vez que há cobrança da alíquota de 6,38% referente ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a conversão para real dependerá da taxa cambial do dia. Se for realizado o saque internacional, as instituições financeiras também cobram tarifas específicas.

Medeiros e Somera planejam a primeira experiência deles de viver por um período prolongado fora do Brasil, com uma temporada de cinco meses na Europa. “Toda vez que vemos que o euro, libra ou dólar baixou, compramos um pouquinho, para não sofrermos tanto com a flutuação cambial”, disse Somera.



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