Postado em quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
às 14:10
Veja dicas para transformar uma vaga temporária em permanente
O CNN Business ouviu especialistas em gestão de carreiras para ajudar nessa tarefa
No dia 31 de dezembro, muitos brasileiros vão incluir na lista de desejos para o próximo ano estabilidade na vida profissional.
Nesse grupo estão aqueles que conseguiram um emprego temporário de fim de ano e esperam transformá-lo em permanente a partir de janeiro de 2022.
Mas como ampliar as chances de tornar essa expectativa uma realidade, principalmente em um cenário ainda marcado por incertezas em relação ao crescimento da economia brasileira e sob os efeitos da pandemia da Covid-19?
O CNN Business ouviu especialistas em gestão de carreiras para ajudar nessa tarefa.
Em comum, os entrevistados destacam a importância da capacidade de adaptação às especificidades do cargo ocupado, em especial por parte daqueles que atuavam em áreas diferentes da obtida como temporário.
Além disso, é citada a facilidade com o uso das ferramentas ligadas à atividade exercida e um comportamento proativo, com facilidade para construção de laços afetivos.
Importância do perfil
Especialista em estratégia de carreira, Rebeca Toyama ressalta o peso do perfil do profissional na escolha do recrutador.
Segundo ela, os recrutadores tendem a recusar aqueles que apresentam um comportamento marcado pelo vitimismo e valorizam uma personalidade protagonista.
“É quase uma seleção natural, independentemente do tipo de empresa. Tem mais chance o perfil intraempreendor, que oferece soluções. Fará parte da lista de dispensa quem só questiona e não oferece caminhos para superar um desafio”, diz.
Criar vínculos afetivos também colabora para ampliar as chances de transição de temporário para permanente.
Rebeca diz que gestores de recursos humanos reconhecem os profissionais que, mesmo em um curto período, constroem relações com funcionários de outras áreas, gestores e clientes.
“O recrutador prestará atenção naquele profissional que ficou na memória do consumidor, seja ele um gerente ou um recreador em um buffet. Quando o cliente declarar que gostou de ser atendido por aquele temporário, o recrutador pensará: vou ter que retê-lo na equipe”.
Valorize quem está ao seu lado
Presidente da Asserttem (Associação Brasileira do Trabalho Temporário), Marcos de Abreu lembra que a vaga temporária possui um regime jurídico atípico, permitindo uma contratação e uma demissão sem grandes entraves.
O trabalhador temporário é, na maioria dos casos, um profissional desempregado à procura de uma recolocação. Ao assumir o posto, ele irá atuar ao lado de um colaborador efetivo, que terá influência direta em uma futura permanência no emprego.
Abreu explica que ele responderá a um supervisor, mas esse efetivo será a referência por já dominar as regras de conduta da empresa, as peculiaridades do setor em que se está e os caminhos para cumprir as metas. “O efetivo será um modelo para quem quer ampliar as chances de migrar do posto temporário para o fixo”.
Ele explica que um supervisor ou gestor tem um número expressivo de tarefas e colaboradores para acompanhar, o que transforma o vizinho de posto em uma fonte de informações para selecionar aqueles com maiores chances de efetivação.
“Muitas vezes, o colaborador vai ao gestor e fala do desempenho do temporário, destacando se ele aprendeu ou não rapidamente a tarefa a ser executada, seu comprometimento com os colegas de setor e que, existindo a oportunidade, é favorável à contratação efetiva”.
Abreu ressalta que o temporário, inicialmente, atenderá a uma necessidade sazonal e sua função será complementar. Dessa forma, ele não deve encarar esse colaborador como um adversário, mas como um aliado para atingir a meta da efetivação.
“Veja, o prazo dele (temporário) é muito curto. Sua meta deve ser oferecer soluções, fazer o melhor e se destacar frente aos demais temporários, uma vez que eles disputam as oportunidades”, diz.
Tecnologia e empatia
Atuando como recrutadora e formadora de profissionais para empresas de diferentes segmentos, Aline Maineri, da TRD Consultoria, aponta que o mercado de trabalho não é uma ciência exata, não há uma receita pronta para quem busca migrar da vaga temporária para a permanente.
Ela afirma que há uma influência de fatores como quem é o empregador, a cidade onde se irá atuar e o perfil do cliente atendido.
Aline chama atenção para a importância da adaptação ao cenário econômico e de se acompanhar as exigências do segmento. Tal postura vale principalmente para o uso das ferramentas tecnológicas atreladas ao posto que se ocupa.
“Falava-se que a tecnologia era o futuro do mercado de trabalho. Não. Ela é o presente. O temporário, assim como qualquer outro profissional, precisar gostar de tecnologia, entender o uso de aplicativos como WhatsApp, Instagram, de disparto de e-mails e outros que surgem a todo momento. Se as empresas são multiplataforma, o trabalhador também precisa ser”, diz.
Para a especialista em carreiras, demonstrar empatia também é um diferencial no momento em que o gestor de recursos humanos avaliará quais profissionais podem seguir na empresa.
“Hoje, vivemos um período em que o egoísmo tomou conta das relações. Não adianta guardar para si o conhecimento que se tem, é preciso compartilhar. O temporário precisa atuar de forma colaborativa, dividir as informações e a experiência que possui com os demais. Quanto mais colaborativo ele for, mais destaque terá”, diz.
Se não há uma receita para transformar o emprego ocasional em definitivo, Aline acredita que um bom começo é apresentar as seguintes características: qualidade de atendimento, empatia, colaboração, disponibilidade e simpatia.
“Não adianta ser um bom vendedor, mas um péssimo colega. Bater a meta com vendas erradas, que acabam gerando devoluções ou reclamações. É preciso atender as exigências e, principalmente, entregar resultado. Esse será o diferencial na hora da escolha dos recrutadores”.
Dicas para aumentar as chances de transformar a vaga temporária em fixa:
Deixe claro seu interesse pela permanência. Fale para colegas de trabalho e, se for possível, ao gestor de sua área;
Tenha postura de emprego permanente. Demonstre pertencimento à empresa e encare a vaga como fixa;
Saiba os limites da vaga que ocupa; Não pode resolver um problema, comunique ao superior e apresente uma sugestão de solução;
Crie uma relação positiva com os colegas de trabalho. Adote uma postura conciliadora e evite conflitos;
Demostre capacidade de adaptação e interesse em aprender com os colegas;
Seja proativo, indique caminhos para solucionar um desafio e não para ampliar seus efeitos negativos.
Número de postos de trabalho temporários no Brasil, segundo a Asserttem:
2018: 1.279.990
2019: 1.485.877
2020: 2.002.920
2021 (janeiro a outubro): 2.104.529
Efeitos da Covid-19 no mercado de trabalho
Os especialistas também examinaram os efeitos da pandemia da Covid-19 no mercado de trabalho. Rebeca Toyama afirma que as formas alterativas de contratação vieram para ficar.
Segundo ela, é preciso superar a ilusão de que somente por meio de um emprego com carteira assinada será possível ser feliz, fazer uma poupança e cuidar da família. “O celetista pode ser visto como um animal em extinção”.
Seja temporário ou fixo, as formas de contratação podem ocorrer por meio de contratos de vesting, no caso de executivos, ou a partir da transformação em MEI (Microempreendedor Individual).
“Esse novo quadro vale para o topo e para a base da pirâmide. É uma forma de garantir certo nível de formalidade e de cobertura social para profissionais de diferentes segmentos e níveis de renda”.
Com a pandemia, boa parte das empresas demitiu profissionais permanentes, o que resultou em um aumento das vagas temporárias para atender uma demanda aquecida a partir do segundo semestre de 2020, explica Marcos de Abreu.
“O quadro de insegurança gerado pela Covid-19 levou a uma situação em que o empresariado prefere preencher os postos com o temporário. Se precisar efetivá-lo, esse processo é muito mais rápido do que a abertura de um processo de seleção que exigirá entrevistas, escolha e treinamento”.
Do comércio à indústria, o empresariado tem como desafio atender a um consumidor cada mais desconfiado, preocupado com quem irá conversar e, principalmente, armazenar suas informações pessoais.
Aline Maineri usa como exemplo vendedores que atendem de forma virtual. “A abordagem até ficou mais fácil, mas as pessoas estão muito mais desconfiadas. Esse vendedor, hoje, acaba tendo mais dificuldades do que aquele que atua presencialmente”.
FONTE: CNN Brasil
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