Postado em 13 de novembro de 2021

Na Liberdade da Solidão

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 A solidão perpassa a história da humanidade, sendo tema recorrente na Filosofia. O que chama a atenção é que a solidão leva à um paradoxo; pois que, como seres humanos, nos desenvolvemos na sociabilidade. Porém é na solidão, como explica a filósofa Viviane Mosé, que podemos ser nós mesmos, longe do olhar do outro, onde criamos as condições para nossa existência no mundo.

À medida que sabemos viver a solidão, a vida social ganha maturidade. Convivemos bem com os outros, quando sabemos viver sozinhos. O desafio é saber dosar o quanto de sociabilidade e, o quanto de solidão necessitamos para desenvolvermos nossa autonomia, nossa consciência. Saber viver sozinho é pré-condição para uma saudável relação social.

O filósofo e escritor Mário Sérgio Cortella afirma que não devemos confundir solidão com privacidade. Para ele a solidão, como escolha, ajuda a cuidar de si, enquanto resultante de ausência de contato com outras pessoas é cruel: “Ficar só, como escolha é uma boa escolha; ficar só porque não tem escolha é algo que estilhaça a nossa capacidade de sentir bem-estar”.

Para Alceu Amoroso Lima, existem várias formas de solidão “inumanas”, maléficas. A solidão forçada na prisão produz amargor. A solidão da loucura, fecha o ser humano num universo sem o próximo. A solidão da misantropia, leva ao ódio e a indiferença. A solidão do desespero, presente em corações desamparados. A solidão disfarçada das cidades, que arranca o homem de si mesmo para entregar ao anonimato.

É evidente que nós, seres humanos, não fomos feitos para a solidão, mas a solidão existe também, para que possamos nos encontrar com nós mesmos. É na solidão que nos deparamos com o nosso verdadeiro eu e descobrimos um sentido para a vida.

Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche é raro aquele que é capaz de desfrutar de si mesmo e, nossa maior deficiência de formação e educação é que: “ninguém aprende, ninguém aspira, ninguém ensina a suportar a solidão.”

Penso que seja esse o grande desafio de uma sociedade marcada pelo exibicionismo e narcisismo, onde a cada dia as pessoas estão perdendo a capacidade de conversar consigo mesmas, no silêncio da solidão. Conviver com a solidão deveria inclusive ser pauta em um processo de formação, educação.

Em seu clássico livro “Na Liberdade da Solidão”, o Monge Trapista Americano Thomas Merton nos alerta que, quando nos encontramos submersos em massas de seres humanos impessoais, como estamos vivendo na sociedade do cansaço, perdemos nossa individualidade, abdicamos de nossa capacidade de sermos nós mesmos, perdemos nossa, liberdade; “o homem é um animal social o fato, por si, é óbvio. Todavia isso não justifica, de modo algum, querer tratá-lo como uma simples peça de utilidade numa máquina.”

O Mestre dos Mestres, Jesus de Nazaré, soube viver e suportar a solidão e simultaneamente nos ensinou a sabedoria do bem viver na sociabilidade. Segundo Alceu Amoroso Lima, “o amor do próximo se nutre dos frutos do deserto. E se o silêncio é a voz de Deus, a solidão é a sua presença.”



** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



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