Postado em 7 de outubro de 2021

Pedagogia do Silêncio

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 Lendo as obras de São João da Cruz encontrei um enunciado que tornou-se para mim um itinerário na busca do bem viver: “para chegar ao lugar que não conheces, deves optar pelo caminho que não conheces.”

Com essa orientação do Santo e místico espanhol, dedique-me à reflexão do silêncio, pois buscar a contemplação do silêncio é tomar um caminho desconhecido em nossos dias, marcados pelo barulho. A principal consequência de tanto alvoroço no cotidiano é a passividade do espírito, o não pensar.

Nesse percurso chegou às minhas mãos o livro Pedagogia do Silêncio (ed. Paulinas), do franciscano Eder Vasconcelos. Para ele, “o dom da palavra é belo, mas a sabedoria que provém do silêncio é espetacular”. Sustenta algo que considero a mais pura verdade: “a sociedade atual está se dissolvendo porque não aprendeu o caminho da pedagogia que conduz ao silêncio libertador”.

Eder Vasconcelos procura elucidar o sentido da palavra pedagogia recorrendo ao filósofo Paulo Ghiraldelli: “em grego antigo, paídos significa “criança “e agodé indica “condução” ao português elas nos dão a palavra pedagogia.”. Para Eder Vasconcelos a pedagogia é um caminho, rumo ao silêncio, “Silêncio esse capaz de curar, equilibrar e revigorar todo nosso ser.”

Considero ser fundamental a reflexão sobre o silêncio, em meio a tanta superficialidade, presente principalmente nas redes sociais. Segundo Eder Vasconcelos, “nunca se ouviram tantas palavras vazias, sem sentido, como nos dias de hoje”. Tanto excesso de estimulo, informação, barulho, como afirma Byung-Chul Han, “leva ao um infarto da alma.”

O livro devido a erudição do autor, é rico em citações, por exemplo menciona a ontológica frase de Fiódor Dostoiévski, “o silêncio é sempre belo, e o homem que cala é mais belo que o homem que fala.” Ou, as palavras, do poeta Fernando Pessoa, “a sabedoria do silêncio, se transforma na mais perfeita resposta.”

Faz uma valiosa distinção quando sustenta: “o silêncio é belo quando não é algo mórbido, imposto, decretado.” E, propõe vermos o silêncio como, “Escola de amor e vida”. Evoca Francesc Torralba em sua assertiva, “O silêncio só tem valor quando é fruto de uma decisão livre, um ato de vontade.”
Como místico cristão, Eder Vasconcelos expõe que “o silêncio mantem nosso espírito e nosso coração ancorados numa base sólida: Deus”. Insiste que devemos nos educar para silêncio, pois isso equivale a educar para o mistério e tudo é mistério.

Lendo essa bela obra, cresceu em mim a convicção que os místicos, conhecem o valor do silêncio, porque só neles podem encontrar o que procuram. Mas não há privilegiados do silêncio, como explica Tristão de Athayde, para ele, o bem viver necessita do silêncio: “só nele encontra o caminho para a paz e para a sabedoria, para perdoar, para esquecer e, acima de tudo amar.”

Eder Vasconcelos sabe brincar com as palavras e nos desafia a passear na poesia de Tiago de Melo, “O silêncio é um campo plantado de verdades que aos poucos se fazem palavras.”


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



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