Postado em domingo, 10 de agosto de 2014 às 16:48

Nova obra do Prof. Eloésio Paulo apresenta reflexões sobre loucura e ideologia

Livro é fruto de estudos do autor sobre romances escritos durante a ditadura militar.


 Da Redação

O cenário: início da década de 1970, em pleno regime militar no Brasil. Alguns romances publicados à época narram a história de protagonistas que terminam sendo internados em hospitais psiquiátricos. Este é o pano de fundo que norteou a obra “Loucura e ideologia em dois romances dos anos 1970” do professor do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) da Unifal (Universidade Federal de Alfenas), Eloésio Paulo.

Intrigado com o fato dos personagens dos livros “Confissões de Ralfo”, de Sérgio SantAnna, e “Quatro-Olhos” de Renato Pompeu, terminarem internados em hospitais psiquiátricos, Eloésio supôs que não poderia tratar apenas de uma coincidência. “Minha primeira hipótese foi que isso tinha relação com a ditadura militar, pois os romances foram escritos todos no período mais violento da repressão, o início dos anos 1970”, explica.

A hipótese do professor resultou em novas leituras e reflexões sobre loucura e ideologia, temas que conduziram o seu trabalho de pós-doutorado realizado no Programa de Pós-Graduação em Literatura da Faculdade de Letras da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). “Resolvi aproveitar para fazer uma revisão que remonta ao surgimento da palavra ideologia. Penso que muita gente usa a palavra ideologia sem nenhum rigor e que ela deve estar no centro de qualquer discussão sobre a política, a educação e a cultura contemporânea”, esclarece.

“Termos opostos”

De acordo a perspectiva do autor, a relação entre loucura e ideologia pode ser entendida como “oposta”. Eloésio ilustra que o contraponto entre loucura e ideologia foi uma decorrência do contraponto entre os dois romances estudos. “Fui percebendo que Quatro-Olhos se aproximava de um consenso bastante ideológico, ou seja, ignorante de seus pressupostos, enquanto Confissões de Ralfo partia de um ímpeto desestruturador do consenso, e, portanto, anti-ideológico”, comenta.

 

“Loucura e ideologia em dois romances dos anos 1970” é o novo livro do professor da
Unifal (Universidade Federal de Alfenas), Eloésio Paulo (Foto: Ascom/Unifal)

Salientando que a ideologia é um consenso social fabricado, muitas vezes de modo inconsciente, por agentes a quem interessa não aprofundar muito a crítica à maneira como as pessoas vivem e a sociedade funciona, o professor ressalta: “Isso se processa de modos diferentes em cada época e em cada sociedade, mas o resultado é sempre o mesmo: o indivíduo se desumaniza, na medida em que perde sua capacidade de, como escreveu Oswald de Andrade, ver com olhos livres”. E acrescenta: “A ideologia me parece resultar, sobretudo, do impulso de simplificar, pois o mundo e o indivíduo são muito complexos e a preguiça de pensar e sentir é muito grande, na maioria das pessoas”.

Conceito de ideologia

Na obra, o autor explica o conceito de ideologia e traça um panorama da ficção brasileira publicada durante o regime militar iniciado em 1964. No decorrer dos capítulos, os leitores terão a oportunidade de acompanhar o contraponto da loucura com a ideologia e como ele se expressa nas diferentes concepções narrativas dos dois romances.

“Penso que o livro pode ser bem esclarecedor para quem queira entender um pouco mais a história do conceito de ideologia. Acredito também ser uma leitura agradável e que ajuda a recolocar em circulação dois romances brasileiros que andam meio esquecidos, e injustamente”, avalia o autor.

“Loucura e ideologia em dois romances dos anos 1970” está previsto para ser lançado no dia 28 de agosto, durante uma mesa-redonda que será promovida na Unifal, com a presença dos professores Marcelo Hornos Steffens, do curso de Ciências Sociais, e Rosângela Borges, do curso de Letras - docente que trabalha com uma vertente da Linguística chamada Análise do Discurso.

Na oportunidade, a convite do Prof. Eloésio, também ocorrerá o lançamento da obra do escritor João Luiz Lacerda, “Uai”, um jornal editado em Alfenas nos últimos anos da ditadura militar. “As afinidades com o meu livro vão além da simples amizade”, diz Prof. Eloésio.

“O que espero que surja desse cruzamento, além das ideias que certamente virão à luz na discussão entre todos nós, é a consciência, especialmente da parte dos alunos da Unifal preocupados com política, de que Alfenas tem uma história cultural que vale a pena resgatar, processo que só pode começar de fato se as pessoas tiverem notícia de trabalhos como esse livro do João Luiz”. A nova obra do Prof. Eloésio poderá ser adquirida durante o lançamento na Unifal.

Sobre o autor

Natural de Areado, Eloésio Paulo dos Reis é doutor em Letras pela Unicamp (Universidade de Campinas) e professor com mais de 20 anos de exercício do magistério nos níveis médio e superior. O docente é autor de diversos livros como: "Os 10 pecados de Paulo Coelho", "Teatro às escuras”, “Canguru”, “Primeiras palavras do mamute degelado”, “Cogumelos de mais ou menos”, “Inferno de bolso etc.”, “Jornal para eremitas” e “Homo hereticus”. Pela editora Dubolsinho, publicou em 2010, o livro de poemas “Parque de Impressões”, o qual foi selecionado como referência pelo Ministério da Educação, para compor o acervo de livros do Programa Nacional Biblioteca na Escola – PNBE. Eloésio também foi resenhista de O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde e O Globo.

 

Por Ana Carolina Araújo/Ascom Unifal


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