Postado em terça-feira, 10 de dezembro de 2013
às 09:18
Efeitos da seca no Norte de Minas
Os prejuízos causados pela pior seca dos últimos 50 anos no Norte de Minas ultrapassam a casa dos R$ 500 milhões
Do FAEMG
Reinaldo Nunes de Oliveira
Engenheiro-agrônomo e coordenador técnico da Emater-MG em Montes Claros
Os prejuízos causados pela pior seca dos últimos 50 anos no Norte de Minas ultrapassam a casa dos R$ 500 milhões, considerando as perdas de duas safras consecutivas de grãos, 2011/2012 e 2012/2013, e somando as perdas de mais de 60% da produção de leite, estimada em 600 mil litros/dia. Além dos prejuízos passíveis de ser medidos, outros não contabilizados devido à falta de registros contábeis oficiais devem ser considerados, por sua relevância econômica e social, como é o caso de morte e venda de animais para outras regiões.
O rebanho bovino do Norte de Minas era estimado em mais de 3 milhões de cabeças, antes dos efeitos da seca iniciada em 2011, prorrogada até 2013 e com fortes ameaças para 2014, caso não ocorram mudanças no regime de chuvas previstas para este fim de ano. Atualmente, segundo dados oficiosos, foram comercializadas mais de 600 mil cabeças de bovino. Isso, para evitar que os prejuízos alcançassem a casa de bilhões de reais, pelo aumento do número de morte de animais, em decorrência da falta de alimento e de água para a dessedentação do rebanho. Vale lembrar que a escassez de água até para o consumo humano é realidade em muitos municípios.
A seca no Brasil data da época do império, quando dom Pedro I, preocupado com os efeitos da estiagem no Nordeste brasileiro, colocou sua coroa a prêmio para implantação de infraestrutura de convivência com a seca, que deu origem à construção dos primeiros açudes no Nordeste. Assim, os anos se passaram e vão passando e a seca continua com a mesma intensidade e periodicidade, porém com efeitos cada vez mais nefastos para a sociedade brasileira. Outros fatores devem ser considerados para avaliar as os efeitos das estiagens. Um deles é o meio ambiente, que foi devastado pelo modelo de ocupação e colonização passadas e presente, haja vista que a grande maioria dos nossos rios antes perenes hoje agonizam em seus leitos em virtude da devastação das matas ciliares, assoreamento e outros maus-tratos causados pelo homem no território nacional. Uma ressalva: no Norte de Minas, ainda temos preservados 57% da vegetação.
Segundo os dados disponíveis, os registros das piores secas na região datam da década de 1930, quando a média de precipitação de sete anos registrada em Montes Claros foi de 468,74mm, assim distribuídos: 434,1mm (1934); 779,2mm (1935); 171,2mm (1936); 586,3mm (1937); 479mm (1938); 283mm (1939); 548,4mm (1940). Outras secas ocorreram como nos anos de 1967, quando foram registrados 346mm; 1996, com 664,7mm; e ainda em 2007, quando choveu em Montes Claros 634,7mm. Assim, como se pode observar, a seca na região não é uma novidade. O que é novo é a falta de políticas puúblicas eficientes, eficazes e de longo prazo para amenizar os efeitos da seca. Novidade é o aproveitamento do sofrimento dos órfãos da seca para fins eleitoreiros.
Dessa forma, é importante que a sociedade norte-mineira saia do comodismo bucólico enquanto é tempo, e vá para as ruas e praças cobrar dos políticos que foram votados na região soluções para as secas que ainda virão, como programa de construção de barragens nos rios e córregos ainda perenes, sistemas de abastecimentos de água para os municípios do semiárido, reativação da construção das barragens de Berizal e Congonhas. Caso contrário, o sistema de abastecimento de água de Montes Claros entrará em colapso.
É oportuno lembrar que a as promessas de reativação de Berizal e construção da barragem de Congonhas se devem aos movimentos sociais e às representações de classes como o Vidas Áridas Sindicato Rural, Sociedade Rural e outras promessas, como a proposta do governo de Minas, via Secretaria de Estado de Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas (Sedvan) – vide termo de referência editado pelo Departamento de Obras Públicas do Estado de Minas Gerais –, para a construção de 13 barragens no Norte de Minas, quatro das quais barramentos no Rio Verde Grande em pontos estratégicos para a sobrevivência do rio.
Por outro lado, é preciso reconhecer algumas ações oportunas promovidas por meio da Emater-MG na implementação de programas de convivência com a seca no Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha, a exemplo do Projeto de Abastecimento de Água, que beneficiou 21.020 famílias; Projeto de Recuperação e Preservação de Sub-Bacias Hidrográficas, responsável pela implementação de 39.906 barraginhas de captação de água de chuvas, pela construção de 2.048 quilômetros de terraços, e a proteção de 406 nascentes.
Outras ações, essas do governo federal, são realizadas para amenizar os efeitos da seca na região, como o Programa de Crédito Rural Estiagem, voltado para estruturar as propriedades rurais para a convivência com a seca; o Programa Água para Todos; a Bolsa Estiagem; o Seguro Garantia Safra, entre outros que contribuíram em muito para a redução do sofrimento da população atingida pela seca.
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