Postado em sábado, 14 de dezembro de 2024
às 17:57
Agricultor familiar de 79 anos produziu o melhor café de Minas Gerais em 2024
Cafeicultor de Espera Feliz vence o concurso de qualidade promovido pela Emater-MG.
Da Redação
O melhor café mineiro da safra 2024 foi produzido por um agricultor familiar de 79 anos, do município de Espera Feliz, na região produtora das Matas de Minas. O seu Onofre Alves Lacerda foi o campeão estadual do 21º Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais. O anúncio foi feito na quarta-feira (11/12), em Belo Horizonte, durante a solenidade realizada pela Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural (Emater-MG), promotora da competição.
Onofre Lacerda se tornou o primeiro bicampeão estadual da história do concurso, pois já havia vencido em 2017. O café vencedor deste ano obteve a maior nota entre todas as 1.406 amostras concorrentes, provenientes de 146 municípios mineiros das regiões produtoras: Matas de Minas, Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Chapada de Minas.
O campeão concorreu na categoria Natural e recebeu 92,7 pontos, de um total de 100, de acordo com as normas da Associação de Cafés Especiais (SCA, em inglês), entidade internacional de referência do setor.
Trabalho com os filhos
Seu Onofre tem uma área de 16 hectares de café em Minas Gerais, dividida com os filhos. A família recebe assistência técnica da Emater-MG. “Todo mundo trabalha. Desde a época do meu pai e do meu avô a gente mexe com café. Meu pai sempre me ensinou que quando for fazer as coisas, é preciso fazer bem-feito. A gente nunca esqueceu disso. O meu prazer é colocar um alimento de primeira qualidade na mesa do consumidor”, afirmou logo após receber o prêmio.
Um dos filhos do seu Onofre, José Alexandre Abreu de Lacerda, conta que o pai é hoje responsável pela supervisão dos trabalhos na propriedade. “O meu pai é aquele cara que passa nos talhões de café e dá o feedback. Ele acompanha nos terreiros, observa. Ele também é um dos responsáveis pela decisão de envios de lotes para os concursos”, explica
O município de Espera Feliz se tornou referência na produção familiar de cafés especiais. Esta é a sexta vez, nos últimos oito anos, que um produtor do município conquista o prêmio de melhor café do estado, no concurso da Emater-MG.
Por vários anos, o café produzido na região tinha pouca valorização no mercado, pois era considerado de baixa qualidade. A história começou a mudar há cerca de 15 anos, quando a Emater-MG iniciou um trabalho de conscientização e de melhoria do processo de produção com aproximadamente cinco famílias do município.
Com o surgimento dos bons resultados, vários outros produtores começaram a se preocupar com a qualidade final do café. Atualmente, mais de 100 produtores de Espera Feliz produzem cafés especiais. A agricultura familiar é predominante no município. Cerca de 80% dos cafeicultores têm propriedades inferiores a 20 hectares. A maioria usa a mão de obra da família como única força de trabalho na lavoura.
Neste ano, além do título de campeão estadual no concurso, Onofre Lacerda também recebeu o prêmio Sustentabilidade, por ser o participante do programa de certificação Certifica Minas Café com a maior nota entre os concorrentes. Além disso, os produtores de Espera Feliz dominaram a premiação na região das Matas de Minas e obtiveram as melhores notas entre todos os participantes do estado.
Entre os premiados de Espera Feliz, está a produtora Altilina Evaristo Barbosa de Lacerda. Com 92,6 pontos, ela recebeu o certificado Cafeicultora Destaque em Qualidade por atingir a maior pontuação entre as mulheres participantes. Altilina Lacerda também ficou com o segundo lugar geral do concurso.
O concurso e a premiação
O Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais tem duas categorias. A primeira é a Café Natural. Neste sistema, o café recém-colhido é levado para secar logo após passar por um processo de lavagem.
A outra categoria é a do Café Cereja Descascado, Despolpado ou Desmucilado. Nestes tipos de café, após a lavagem, há uma separação dos frutos verdes e secos dos frutos maduros. Depois, eles passam por um descascador e seguem para secagem. No caso dos cafés despolpados e desmucilados, há ainda uma fase onde o produto passa por um tanque de fermentação.
As avaliações foram feitas por especialistas chamados de Q-Arabica Graders. São profissionais com certificação reconhecida internacionalmente e com habilidades avançadas de degustação e análise de café do tipo arábica. Só ficaram entre finalistas os cafés com mais de 85 pontos nas avaliações.
O presidente da Emater-MG, Otávio Maia, ressaltou que o concurso é uma das ações realizadas pela empresa para promover o café mineiro. “Reconhecemos a importância do café, não só do ponto de vista econômico e do peso na nossa pauta de exportação. Mas também pela renda que ele leva para o campo, proporcionando a melhora de vida para aqueles que vivem desta atividade”, declarou.
A competição é promovida pelo Governo de Minas Gerais, por meio da Emater-MG e Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), em parceria com a Universidade Federal de Lavras (Ufla) e Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Faepe). O patrocínio é do Sicoob Crediminas, supermercado Verdemar e Oficina do Espresso.
Este ano, além do certificado e troféu, o vencedor estadual recebeu o prêmio de R$ 10 mil do Sicoob Crediminas. O segundo lugar também recebeu premiação em dinheiro.
O concurso anunciou ainda os vencedores das duas categorias em cada macrorregião produtora. Nos últimos anos, todos os mais bem classificados regionalmente têm garantia de compra de lotes pela rede de supermercado mineira Verdemar, que lança uma linha especial com os cafés do concurso para venda ao consumidor. A expectativa é de que a saca de 60 kg do café campeão seja vendida para o supermercado por R$ 6 mil.
Café em Minas
Minas Gerais é o maior produtor de café do país. Este ano, a colheita no estado atingiu 28,1 milhões de sacas (60kg), em mais de um milhão de hectares. A produção mineira representa 51,2% da safra nacional.
O café é responsável por 44% das exportações dos produtos agropecuários de Minas. Dados consolidados de janeiro a outubro deste ano indicam US$ 6,2 bilhões em receita, com 25,1 milhões de sacas embarcadas para 86 países no período.
>>Link com os vencedores