Postado em sexta-feira, 16 de julho de 2021 às 11:11

Feliz aquele que sabe rir de si mesmo

Nesse artigo, o professor de Filosofia Roberto Orfão Morais recorre a diferentes autores para tratar um tema do nosso cotidiano: o humor.


Para refletir sobre o Humor podemos recorrer a história da Filosofia que, nos apresenta os filósofos Demócrito e Heráclito em posições opostas. Demócrito achava ridícula a condição humana, com isso só saía em público com um semblante risonho. Já Heráclito, sentindo piedade e compaixão por essa mesma condição, trazia o semblante entristecido e, os olhos cheios de lágrimas.

Na vida, não falta motivo para rir ou chorar, mas qual é a melhor atitude? A de Demócrito ou a de Heráclito? Na polarização entre o riso e as lágrimas o humor é uma virtude, posicionado na justa medida proposta por Aristóteles. Não ter humor é, não ter lucidez é, não ter leveza no viver. No campo da Teologia muitos afirmam que, o humor é a expressão da inteligência humana que mais se aproxima da inteligência de Deus.
Segundo Sigmund Freud, “o humor tem não apenas algo de libertador, mas também algo de sublime e elevado”. O pensador André Sponville em seu admirável “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes” nos explica que, “humor cura já que é uma manifestação da generosidade (...)” - “Sorrir daquilo que amamos, é amar com mais leveza, com mais espírito, com mais liberdade.” Tais afirmativas citadas nos leva a pensar, sobre o que valeria o amor, sem alegria? O que valeria a alegria, sem o humor?

É necessário distinguir o humor da ironia, como propõem Sponvile; pois a ironia é uma arma contra o outro, que goza da cara dos outros e, pode matar. O humor pode fazer rir de tudo sob condição de rir primeiro de si. No humor podemos rir de tudo, menos de qualquer jeito. Por exemplo: classificar uma Pandemia que levou milhares de pessoas à morte, como uma “gripezinha” não é humor, mas ironia. O humor leva um pouco de leveza à miséria do mundo e, não ódio, preconceito como leva à ironia. Plagiando G.K. Chesterton que dizia que “o vício não é mais do que uma virtude enlouquecida”, pode-se dizer que a ironia não é mais que o humor enlouquecido, que nos faz perder o senso de verdade e respeito para com o próximo.

Tenho como referência de humor São Tomás More, filósofo do século XVI, canonizado pela Igreja Católica. Condenado à morte devido o primado de sua consciência, nem na hora da execução perdeu a serenidade e, o bom humor. No momento de subir ao cadafalso, esgotado pelos 15 meses de prisão, faz um pedido com humor que o caracteriza: “Peço-te, Mestre Tenente, que me ajudes a subir; porque, na hora de descer, eu me arranjarei, bem ou mal!”

Segundo o Papa Francisco, a “alegria”, o “senso de humor”, é uma Graça a ser pedida todos os dias e nos recomenda a oração atribuída à São Tomas More: “Dai-me, Senhor, a saúde do corpo e, com ela, o bom senso pra conservá-la o melhor possível. Dai-me, Senhor, uma boa digestão e também algo para digerir. Dai-me uma alma santa, Senhor, que mantenha diante dos meus olhos tudo o que é bom e puro. Dai-me uma alma afastada do tédio e da tristeza, que não conheça os resmungos, as caras fechadas, nem os suspiros melancólicos… E, não permitais que essa coisa que se chama o “eu”, e que sempre tende a dilatar-se, me preocupe demasiado. Dai-me, Senhor, o sentido do bom humor. Dai-me a graça de compreender uma piada, uma brincadeira, para conseguir um pouco de felicidade e, para dá-la de presente aos outros. Amém!”

Roberto Camilo Orfão Morais
Professor de Filosofia em Machado/MG



** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje



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