Postado em segunda-feira, 1 de julho de 2019
às 15:05
“Homem-Aranha: Longe de Casa” mantém alto nível da Marvel pós-Vingadores
Segundo filme protagonizado pelo Homem-Aranha de Tom Holland supera primeira parte da saga e promete novos caminhos para o Universo Marvel.
Se você está acostumado a ver o “amigo da vizinhança” balançando suas teias pelos arranha-céus de Manhattan, prepare-se para uma mudança de perspectiva com “Homem-Aranha: Longe de Casa”. Como o título sugere, Peter Parker terá de salvar o dia bem longe de Nova York. Dessa vez, o quebra-pau acontece em Veneza, Praga, Berlim e Londres. Um bom mochilão pela Europa para um estudante com hormônios em ebulição e sedento por uns dias de descanso.
No primeiro filme do Universo Marvel desde “Vingadores: Ultimato”, o mundo ainda tenta se reorganizar após metade da humanidade que desaparecera por culpa de Thanos em “Vingadores: Guerra Infinita” retornar tão repentinamente quanto havia sumido. Inclusive o próprio Homem-Aranha. No México, Nick Fury (Samuel L. Jackson) e Maria Hill (Cobie Smulders) seguem a pista de uma nova potencial ameaça à Terra e acabam conhecendo os poderes de Quentin Beck (Jake Gyllenhaal), que logo se torna um aliado na luta contra o que chamam de “Elementals”: quatro criaturas feitas dos quatro elementos básicos (ar, fogo, terra e ar) que desde tempos mitológicos tentam destruir o planeta.
Enquanto isso, em Nova York, Peter Parker (Tom Holland) se prepara para uma excursão escolar, que passará por Veneza, Londres e Paris, ao lado do seu braço direito Ned (Jacob Batalon) e de seu amor secreto MJ (Zendaya). Peter quer esquecer as obrigações de super-herói (as tais “grandes responsabilidades” que vêm com os “grandes poderes”) por uns dias e nem se dá ao trabalho de por na mala a sua roupa de Homem-Aranha. Tampouco atende as ligações do “chefe” Nick Fury, para desespero de Happy Hogan (Jon Fraveau), seu novo protetor após a partida de Tony Stark. O Cabeça de Teia está mais interessado em bolar seu grande plano para finalmente conquistar MJ. Spoiler: ele quer uma grande cena romântica no alto da Torre Eiffel.
Mas se Peter não vai até o dever, o dever vem até Peter. Em Veneza, o herói não consegue escapar do trabalho, já que outros heróis como Doutor Estranho e Capitã Marvel não estão disponíveis. Embora bem intencionado, sua ajuda é precária: quem salva o dia é Quentin Beck, que logo ganha a alcunha de Mysterio. Não demora para ele virar o novo favorito de Fury. Inexperiente, Peter não consegue convencer Fury de seu comprometimento, mas tem um trunfo a seu favor: a “benção” do Homem de Ferro, que lhe deixa um presente e tanto nas mãos. Resta saber como usá-lo adequadamente. E isso vai demorar para acontecer.
Mas, para quem conhece a história dos quadrinhos de Stan Lee, sabe que Mysterio não entra para os Vingadores e está bem longe de ser um super-herói. Quando a história parece ter acabado, quando a Terra parece ter sido salva mais uma vez, é aí que a grande missão de Parker começa para valer. E Mysterio não vai facilitar a vida do Homem-Aranha. Peter é bondoso e inocente. E seus adversários sabem como se aproveitar disso. Mysterio mais ainda: como sua nova alcunha sugere, às vezes tudo o que uma pessoa má intencionada precisa é de ilusões – e tecnologia de ponta (uma especialidade das Stark Industries).
A história se constrói em um roteiro sólido e justifica a aparição de Mysterio nessa altura do campeonato, amarrando o personagem de maneira eficiente com o primeiro Homem de Ferro (2008) e outros episódios do Universo Marvel. Quando os melhores vilões da mitologia Homem-Aranha já foram usados em outras reencarnações do herói nas telonas (Doutor Octopus, Duende Verde, Venom), fica mais difícil emplacar personagens como Electro e Lagarto. “Homem Aranha: De Volta ao Lar” já conseguira transformar o mediano Abutre (Michael Keaton) em um vilão de primeira linha. “Longe de Casa” consegue o mesmo com um personagem ainda mais difícil (o homem usa um aquário na cabeça, vamos combinar). A atuação de Jake Gyllenhaal eleva Mysterio e dá tons mais humanos ao peculiar vilão.
O filme também aproveita duas questões contemporâneas para bolar seu roteiro de mocinho e bandido e embaralhar essa divisão: fake news e a necessidade de “salvadores da pátria”. Mysterio é ambos. Como ele reflete no filme, às vezes tudo que as pessoas precisam é de uma coisa para acreditar. Elas precisam de heróis, mesmo que apenas na aparência. E o século 21 está cheio de aparências. E drones.
Outro ponto essencial do filme é reforçar a linha que liga Peter Parker a Tony Stark. A relação paternal dos heróis foi a base de “De Volta ao Lar” e aparecia em filmes como “Capitão América: Guerra Civil” e “Vingadores: Guerra Infinita”. Agora, com um mundo sem Homem de Ferro, há um legado a ser reclamado. E este legado pertence ao Homem-Aranha. Sem Stark (Robert Downey Jr.) – embora o ator apareça “indiretamente” no filme – é Happy Hogan quem vira o novo pai de Peter, e “pai” talvez nem seja tão força de expressão assim.
O filme consegue balancear cenas de ação excelentes e alguns momentos trágicos com muitas cenas cheias de leveza e piadas. Nem todas as tiradas funcionam, mas quase todas são excelentes. O humor funciona na medida, fazendo jus ao despojamento do personagem, sem impedir que as grandiosas cenas de batalha sejam levadas a sério. Jacob Batalon continua a entregar alguns dos momentos mais hilários da saga Homem-Aranha, com ajuda da ótima Betty (Angourie Rice). Zendaya, novamente, é a encarnação do “Fight like a girl” e traça diversos paralelos com o que acontece com Kirsten Dunst (a bela Mary Jane) de “Homem-Aranha 2” (2004).
Ambas as cenas pós-créditos devem agradar os fãs ao trazer novas informações cruciais para os próximos filmes do Universo Marvel. Na primeira, um gancho bombástico que indica qual será a história do terceiro filme com Tom Holland. A aparição surpresa de um querido ator que participou dos três primeiros filmes do Homem-Aranha (aqueles da Sony, com Tobey Maguire) é um dos pontos altos do filme. A segunda cena pós-crédito traz uma reviravolta curiosa e amarra o filme com “Capitã Marvel” – novamente, criando um gancho que deve ser explorado na segunda parte da saga com a atriz Brie Larson.
O filme estreia no Brasil na próxima quinta-feira, 4 de julho.
Serviço:
“Homem-Aranha: Longe de Casa”
Título original: “Spider-Man: Far From Home”
Diretor: Jon Watts
Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers
Com: Tom Holland, Zendaya, Jon Favreau, Jake Gyllenhaal, Samuel L. Jackson, Cobie Smulders e Marisa Tomei
Duração: 2h 9m
Fonte: Guilherme Dearo para Exame
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