Postado em terça-feira, 14 de novembro de 2017
às 11:10
Escultor mineiro transforma paixão pelo motociclismo em arte após ficar tetraplégico
Reginaldo Figueiredo, de Itajubá, redescobriu seu amor pelo esporte quando começou a utilizar peças para fazer esculturas metálicas...
Reginaldo Figueiredo faz esculturas metálicas a partir de peças de motos e bicicletas (Foto: Divulgação / Prefeitura Municipal)
O empresário e escultor Reginaldo Figueiredo, de 58 anos, redescobriu a paixão pelo motociclismo de uma maneira diferente. Ex-praticante de motociclismo, sofreu um acidente de carro que o deixou tetraplégico, em 1991. Mas por meio das artes plásticas, acabou reencontrando o gosto pelo esporte, unindo peças de sucata dos veículos para criar esculturas.
“As esculturas estão relacionadas a um amplo espectro de criação. O motociclismo me ajuda a garimpar as peças, pois trabalho com reparo de motos”, diz Reginaldo.
Nascido em uma família de motociclistas, desde pequeno era colocado pelo irmão mais velho na direção da motocicleta, onde acelerava sem sequer alcançar os pedais. Essa é a principal memória a qual o ex-piloto atribui sua paixão pelo motociclismo. Uma vida repleta de lembranças vitoriosas.
Com apenas 13 anos, ganhou a primeira moto, comprada com o dinheiro juntado por ele mesmo, com pequenos concertos de eletrodomésticos, instalação de cortinas e de doces que vendia.
“Quando cheguei com o dinheiro na loja, meu pai foi chamado, pois parecia impossível que um garoto da minha idade tivesse dinheiro para comprar. A partir daí, trocava de moto a cada dois anos”, conta.
Foram anos de uma trajetória vitoriosa que Reginaldo revive até os dias de hoje. “Fui o pioneiro dos esportes relacionados ao motociclismo, kartismo e ciclismo em Itajubá. Minha maior conquista foi o Enduro da Independência no ano de 1986, onde juntamente com meu amigo, João Carneiro Júnior, conquistamos em dupla, o primeiro lugar“, afirma.
Mas cinco anos depois dessa vitória, um acidente mudaria por completo a vida do agora escultor. “Sabe aquele dia em que tinha tudo para dar certo e não deu? Fui levar minha esposa ao médico na cidade de Pouso Alegre e um caminhão me jogou covardemente para fora da estrada e fugiu. O carro que eu conduzia capotou diversas vezes”.
Reginaldo sofreu duas lesões na coluna cervical e acabou sendo socorrido de maneira errada por pessoas que tentaram o ajudar. Retirado bruscamente do carro sem nenhuma imobilização e colocado na carroceria de uma caminhonete, só sobreviveu devido ao preparo físico que tinha. Quando acordou, descobriu que estava tetraplégico, um duro golpe para quem fazia justamente dos movimentos sua própria forma de arte.
“A partir daí parecia que tudo estava acabado, pois a tetraplegia me impediu até mesmo de comer sozinho, tive que reaprender tudo. Os primeiros anos foram dificílimos, os amigos se afastam, coisas simples se tornaram verdadeiros desafios”, conta.
Bandeira do Brasil feita a partir de peças intutilizadas que foram reaproveitadas pelo artista (Foto: Divulgação / Prefeitura Municipal)
O escultor diz que não se lembra exatamente o que pensava na época, mas que desistir nunca foi uma opção. “Sempre tive esperança que pudesse tocar a vida, criar meus filhos e me manter ativo e independente financeiramente de alguma forma”, diz.
O interesse pela escultura metálica surgiu como um hobby dois anos depois do acidente, em 1993, mas aos poucos foi ganhando cada vez mais espaço na vida de Reginaldo. “Nos primeiros anos foi uma tempestade de criação. Ia de um estilo ao outro de acordo com as sucatas que apareciam. As esculturas tanto podiam ser gigantescas como pequenas delicadezas lúdicas”, conta.
Escultura de dinossauro criada por Reginaldo Figueiredo a partir de sucatas impressiona pelo tamanho (Foto: Divulgação / Prefeitura Municipal)
O interesse pelas esculturas foi crescendo, e Reginaldo começou a expor suas obras nos eventos da cidade. Daí, passou a realizar palestra em escolas, falando também sobre a superação após o acidente. As peças viraram presentes para os amigos e também foram disponibilizadas em leilões de caridade.
“Tive o privilégio de colocar o primeiro monumento artístico em Itajubá, embora tenha sido depredado por vândalos no inicio deste ano”, lamenta.
O caso aconteceu no mês de março de 2017, quando estudantes universitários retiraram um globo que fazia parte da escultura ‘Gaya’, dada de presente por Reginaldo para o município no ano de 2002. "Deverei reparar com meus próprios recursos a escultura e tenho me esforçado para manter a motivação. Ainda quero doar até 2020 quatro esculturas de grande porte para a cidade”, conta.
Globo que fazia parte de escultura foi arrancado por vândalos e até o momento não foi colocado de volta no lugar (Foto: Reprodução EPTV/Tarciso Silva)
Há 26 anos vivendo sobre a cadeira de rodas, ele ressalta a importância do esforço que cada um deve ter para superar suas dificuldades e diz que a deficiência não lhe dá privilégios.
“A sociedade irá cobrar de você da mesma forma que uma pessoa normal. Continuará pagando impostos, seus filhos não terão desconto na faculdade porque você é deficiente, as despesas chegarão da mesma forma. Então eu te aconselho a lutar como eu luto”, conclui.
Fonte: G1SUL DE MINAS