Postado em quinta-feira, 26 de janeiro de 2017
às 15:03
Campanha viraliza e banco de medula de Poços tem nº recorde de doadores
Com 500 registros, Redome teve em 1 semana o correspondente a 3 anos. Boom veio após post na web para ajudar morador que luta por transplante.
O setor de cadastro de doação de medula óssea nunca esteve tão movimentado no Hemocentro de Poços de Caldas (MG). Desde que uma campanha começou no Sul de Minas há pouco mais de uma semana, na expectativa de ajudar um morador da cidade que precisa transplantar o tecido produtor de células do sangue, pelo menos 500 pessoas já haviam entrado para o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). No ritmo normal, a unidade levaria cerca de 3 anos para alcançar esse número de voluntários.
Segundo dados do órgão, Poços registra, em média, apenas quatro novos doadores de medula por semana e, atualmente, soma 12.752 cadastros ao Redome- um resultado bem abaixo do potencial de uma unidade que está no maior município do Sul de Minas (com 164.912 habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE) e é referência para outras dezenas de cidades da região.
No entanto, a expectativa é de que o movimento recém criado para conscientizar sobre a importância do cadastro colabore para mudar esse cenário. A funcionária pública Wivyane Mendes da Cruz, de 40 anos, por exemplo, nunca tinha ouvido falar sobre o processo de doação de medula óssea até conhecer a história do empresário de Poços de Caldas Rullyan Carlos de Assis, de 42 anos, a inspiração da campanha que tem levado candidatos à doação.
"Foi vendo as matérias que saíram sobre a campanha que eu descobri que existia Redome. Não fazia a menor ideia de como era simples e olha que eu sou doadora de sangue", conta a moradora de Varginha (MG) que se engajou no movimento a ponto de organizar uma van para levar mais pessoas para o Hemocentro de Poços de Caldas.
"Foi tão rápido lá, que eu aproveitei e fiz minha quarta doação de sangue. Agora, dia 11 [de fevereiro], vamos levar mais gente para lá. Já temos interessados. Muita gente quer ajudar", planeja.
Apenas três cidades recebem doações
No Sul de Minas, além de Poços, há hemocentros ligados ao Redome apenas em Pouso Alegre (MG) e Passos (MG). Nesses locais, uma amostra de 10 ml de sangue é colhida para que sejam identificadas as características genéticas do candidato a doador. Esses dados é que vão para o registro nacional e são cruzados com as características genéticas de cada pessoa que precisa de um transplante de medula óssea. Em caso positivo, o cadastrado no Redome é chamado para conhecer as demais etapas do processo e poder, efetivamente, se tornar um doador.
A medula óssea é um tecido líquido-gelatinoso que ocupa o interior dos ossos e produz as células do sangue, que trabalham para proteger, defender e alimentar o organismo. Uma falha nesse sistema pode comprometer a sobrevivência de uma pessoa, mas em alguém saudável, o tecido é altamente regenerável e por isso é possível doar uma parte de dele sem comprometer a própria saúde.
No entanto, conforme estatística do Instituto Nacional do Câncer (INCA), se as chances de se encontrar um doador compatível na família é de 25%, elas reduzem para 1 em cada grupo de 100 mil pessoas quando se trata de encontrar alguém fora desse núcleo. A dificuldade é tão grande que, embora no país exista uma lista com mais de 4 milhões de potenciais doadores e o Redome atue junto com cadastros internacionais, ainda há centenas de pessoas à espera do transplante.
“Mesmo com o grande número de pessoas cadastradas, ele não é suficiente para atender os 850 pacientes que precisam de transplante por causa da diversidade genética que há no país. Por isso, atualmente o Inca foca em cadastros, principalmente, na região quilombola, indígena, Norte e Nordeste do país para atender um número maior de etnias”, explica a coordenadora do Hemocentro em Poços de Caldas, Cibele Spina.
Por isso quanto maior o número de pessoas no cadastro, maiores as chances de se ajudar alguém que precisa de um transplante. É com essa esperança que amigos e familiares do empresário de Poços de Caldas resolveram se mobilizar pela internet e redes sociais.
Medula para o Rullyan
Há sete meses, Rullyan foi diagnosticado com um tipo de leucemia rara. O primeiro sintoma veio mascarado como gripe e cansaço físico. Depois, apareceram nódulos pelo corpo. “Eu me vi totalmente perdida”, conta a professora Paloma Sanchez de Assis, com quem o empresário é casado e tem dois filhos.
Com a campanha, além de ajudar a levar mais esclarecimentos sobre o transplante de medula óssea no Brasil, a família sentiu as esperanças renovadas. “Ele está feliz em ver pessoas conhecidas e pessoas que nunca viu na vida aderindo à campanha, mandando mensagens de apoio."
O impacto do projeto #medulaparaorullyan não só alcançou pessoas comuns, como a funcionária pública de Varginha. Artistas e esportistas que atuam dentro e fora do Brasil também passaram a manifestar sua solidariedade, divulgando o assunto e enviando pela internet mensagens de incentivo ao sulmineiro.
O cantor Lobão foi um dos primeiros a aderir à campanha e deixou seu apelo em vídeo. "A família inteira já fez exame e, infelizmente, não é compatível. (...) Quem puder se informar sobre essa compatibilidade de medula, por favor, mete bronca", disse.
O jogador de futebol Amoroso, que atualmente defende a equipe norte-americana Boca Raton FC, é outro apoiador do projeto. "Tô aqui em nome de um cara que a gente gosta muito, que a gente admira, que é o Rullyan. Nesse momento ele tá precisando de um doador de medula e eu tenho certeza que iremos encontrar."