Postado em domingo, 27 de junho de 2010
Quincas Berro D Água é ressuscitado para morrer novamente em grande estilo
Erick Vizoki
Especial para Alfenas Hoje
Para quem assistiu a comédia “Um Morto Muito Louco” (1989), de Ted Kotcheff, fartamente reprisado nas tardes da Globo, pode achar que o argumento de “Quincas Berro D Água” (idem, Brasil, 2010), que estreou nesta sexta-feira 25 no Cine Arte Café (sala 2) de Alfenas, não é muito original. Mas é. Para começar, o filme é baseado em uma das mais aclamadas obras de Jorge Amado, “A Morte e a Morte de Quincas Berro D Água”, publicada pela primeira vez em 1959, na revista "Senhor". O texto é, antes de tudo, uma contundente crítica à burguesia, publicado na segunda fase do Modernismo, e pouco depois transmutado para romance. Não era para ser exatamente uma comédia.
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O diretor Sérgio Machado, responsável pelo ótimo “Cidade Baixa” (2005), acertou a mão nesta adaptação, ambientada nos anos 50, época da publicação da obra original. Com um competente elenco, que caiu como uma luva na versão cinematográfica, e a ajuda do premiado Walter Salles (“Central do Brasil”) na produção, “Quincas Berro D Água” é uma comédia descompromissada, mas eficiente. A própria temática e argumento são suficientes para explorar situações absurdas e hilárias. Claro, quem não acha graça num bando de bêbados andando pela madrugada de Salvador com um defunto a tiracolo e ainda se divertindo como se fosse (e de fato é, pelo menos para Quincas) a última vez?
A história é a seguinte: o ex-funcionário público Joaquim Soares da Cunha (Paulo José, em grande forma) está cheio da rotina da repartição pública onde trabalha e decide cair na gandaia, se autoproclama rei dos vagabundos da Bahia e vira personagem folclórico da noite, amigo dos bêbados, prostitutas e todo tipo de figura do submundo local. Na noite em que completa 72 anos, Quincas Berro D Água (apelido que ganhou na boemia) decide morrer em seu próprio quartinho imundo.
Fotos: Divulgação
A filha Vanda (Mariana Ximenes) e seu marido (Vladimir Brichta) descobrem e tentam dar um jeito da notícia não vazar para não manchar a reputação da família, pertencente à alta sociedade soteropolitana. Só que eles não conheciam certos detalhes da vida do patriarca e muito menos seus amigos de pileque nas noites da capital baiana. Estes chegam ao velório, inconformados com a morte de seu guru de farra (“um pelotão nunca abandona seu comandante”) e, na primeira chance, saem pelas ruas com o morto para sua última noite de bebedeira e muita diversão no submundo da cidade, como se ele ainda estivesse vivo.
As situações e piadas beiram o óbvio, apesar do inusitado da trama, mas fazem rir bastante. Alguns críticos chegam a dizer que não há novidade na obra, que trata-se de um humor fácil, ingênuo e mofado. Ledo engano. O que acontece é que Sérgio Machado manteve intacto o argumento de Jorge Amado, inclusive mantendo-o em sua época. A crítica ao comportamento entojado da burguesia, o deboche e galhofa dos boêmios e o nonsense da situação são elementos de extrema originalidade, que provavelmente serviram de base para o filme de 1989 do diretor americano Ted Kotcheff.
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